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A opinião do GLOBO.

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Depois da estagnação no segundo semestre do ano passado, é boa notícia que o PIB tenha voltado a crescer de modo robusto — entre janeiro e março, 0,8% na comparação com o trimestre anterior ou 2,5% em relação ao mesmo período de 2023. Nos 12 meses encerrados em março, a economia cresceu 2,5%, e a expectativa é que no fim do ano esteja 2% maior que no início, em razão da “herança estatística” de 1% atribuída ao crescimento já registrado. O bom momento, porém, não permite complacência.

O desempenho positivo do primeiro trimestre traz lições que deveriam reverberar no Executivo e no Congresso, fortalecendo a urgência na aprovação de reformas e na responsabilidade fiscal. A alta do PIB neste início de ano foi puxada pelo setor de serviços, principalmente devido à contribuição do comércio varejista e dos serviços pessoais. Na base de sustentação do crescimento do consumo das famílias está um mercado de trabalho aquecido, com mais empregos formais e mais renda — reflexo das mudanças das leis trabalhistas feitas em 2017. Olhando para a frente, os parlamentares deveriam priorizar a regulamentação da reforma tributária, que tem andado a passos lentos, mas tem potencial de aumentar o ritmo de crescimento da economia no médio e longo prazos.

Assim que o IBGE anunciou os dados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “O PIB avançou no primeiro trimestre deste ano puxado por maior consumo das famílias e serviços. E outra boa notícia é que, segundo o FMI, o Brasil subirá mais uma posição, chegando a oitavo PIB mundial. Mais uma prova de que estamos no rumo certo”. Lula está no seu papel de comemorar um número positivo. Que presidente não faria o mesmo? Mas seria mais realista se também mencionasse os temores sobre o futuro da economia. Eles têm relação inequívoca com as ações do governo. Decididamente, não estamos no melhor rumo.

Decisões erráticas têm corroído a credibilidade da política fiscal e alimentado a pressão inflacionária. Uma das boas-novas anunciadas pelo IBGE foi o aumento dos investimentos. Alavancados pela alta na importação de bens de capital, no desenvolvimento de software e na construção, eles cresceram 4,1% entre janeiro e março, ante o último trimestre de 2023. Como proporção do PIB, porém, a taxa de investimento segue baixa (16,9%). Na hora de decidir ampliar seus negócios, empresas levam em consideração o cenário da política monetária, influenciada pela perda de credibilidade fiscal.

O corte de juros promovido pelo Banco Central desde agosto certamente teve peso no resultado do PIB. Mas como se comportarão os investimentos no futuro? Há dúvidas pertinentes sobre o compromisso fiscal de Lula. Quanto maior o rombo nas contas do governo, maiores a incerteza sobre a trajetória da dívida pública e a pressão sobre a inflação e o BC. Também serão decisivos para definir o quadro futuro a política de juros nos Estados Unidos e o saldo da catástrofe no Rio Grande do Sul. O Brasil já perdeu pelo menos uma década com o PIB per capita estagnado. A população está envelhecendo antes de o país enriquecer. Para reverter isso, crescer mais e de forma sustentada deve ser prioridade. Isso é impossível sem um robusto ajuste fiscal, capaz de acomodar as necessidades de um Estado a cada dia mais voraz à capacidade produtiva de uma sociedade prestes a entrar em exaustão.

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