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Desde antes de assumir, têm sido injustificáveis as manifestações do presidente argentino, Javier Milei, em relação a seu par brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A última desfeita foi a decisão de Milei de não comparecer à reunião de cúpula de chefes de Estado do Mercosul na próxima segunda-feira em Assunção, no Paraguai, enquanto marcará presença no fim de semana num encontro conservador em Balneário Camboriú (SC).

Será a primeira viagem de Milei ao Brasil depois de eleito. No evento, provavelmente encontrará Jair Bolsonaro. Como político de ultradireita, ele tem o direito de discordar das ideias de Lula sobre todo tipo de política pública. Mas os xingamentos e a opção por prestigiar um evento da oposição em solo brasileiro em detrimento do Mercosul soam como ofensa a todos os brasileiros.

Durante a campanha presidencial na Argentina, a posição institucional do governo Lula era que o Brasil não tinha candidato. Mas era uma isenção de fachada. Não faltaram sinais de que a torcida era pelo peronista Sergio Massa, que contratou marqueteiros do PT. Depois do primeiro turno, ministros em Brasília saudaram Massa publicamente por ter terminado em primeiro lugar. A dias do segundo turno, Lula disse que a Argentina precisava de um presidente que “goste de democracia”. Com razão, Milei se sentiu atacado.

Mas sua reação, de lá para cá, tem sido pueril. Ainda candidato, fez acusações de interferência (sem provas) e proferiu uma série de ofensas, chamando o brasileiro de “comunista” e “corrupto”. Em entrevista no final de junho deste ano, Lula disse não ter ainda falado com o presidente da Argentina “porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim”. A uma emissora argentina, Milei respondeu não ser preciso pedir desculpas e repetiu os xingamentos.

O descomedimento dele não é dirigido apenas a Lula. Em maio, num encontro de políticos de direita na Espanha, Milei chamou de corrupta Begoña Gómez, mulher do primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, desencadeando uma crise diplomática. No domingo, a crise foi com a Bolívia. Sem apresentar nenhuma prova, um comunicado da Presidência chamou de falsa a denúncia de tentativa de golpe de Estado em La Paz na semana passada.

Milei atira no exterior, mas o alvo é o público interno. A estratégia é alimentar a imagem de político destemido. Não há inovação alguma em usar inimigos externos para reforçar o apoio do eleitorado. A novidade trazida pelos populistas de hoje é a profusão de grosserias e mentiras. Quando era presidente dos Estados Unidos, Donald Trump também distribuía caneladas. À frente da maior potência mundial, não sofreu retaliações. Milei deveria ter mais cuidado. Para tirar a Argentina do atoleiro, precisará atrair investimentos e boa vontade. Em primeiríssimo lugar, do Brasil.

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