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Com 10.500 atletas de 204 países (e a equipe de refugiados), a Olimpíada de Paris, que começa oficialmente amanhã, terá na segurança e no meio ambiente seus maiores desafios. Segurança porque, pela primeira vez, a cerimônia de abertura será realizada fora de um estádio, às margens do Rio Sena, demandando ações mais complexas, além da tarefa óbvia de proteger o público. Meio ambiente porque apenas duas construções foram erguidas do zero — o novo centro aquático e a Vila Olímpica, que ficarão como legado na região deteriorada de Saint-Denis.

De resto, num esforço de sustentabilidade, toda a Olimpíada será realizada em instalações já existentes ou temporárias. Em iniciativa ousada, os organizadores decidiram levar as provas de triatlo e maratona aquática para as águas do próprio Sena, onde o banho estava proibido havia um século.

A cerimônia de abertura, que deverá reunir cerca de 500 mil pessoas, traz preocupações pertinentes numa cidade que ainda guarda cicatrizes recentes de atentados terroristas. Não se pode dizer que Paris não tenha se preparado. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, informou que mais de 3.500 credenciados foram barrados por representarem ameaça à segurança. Suspeitos de planejar atos violentos têm sido presos nos últimos dias. Como é praxe nesses megaeventos, as forças de segurança francesas receberam reforços de outros países que já patrulham a cidade. É verdade que a França preparou um plano B para a festa de abertura no Trocadéro ou no Stade de France, mas o próprio presidente Emmanuel Macron disse que usará o plano A.

Para levar a cabo a missão de despoluir o Sena — um dos principais compromissos da cidade com o Comitê Olímpico Internacional —, foi investido € 1,4 bilhão (cerca de R$ 8,5 bilhões). Uma estrutura subterrânea com 34 metros de profundidade e 50 metros de largura foi construída para armazenar, depois enviar às estações de tratamento as águas que extravasam para o rio em tempos de chuva. Além disso, mais de 20 mil residências foram conectadas às redes de esgoto.

Os organizadores garantem que a qualidade da água do rio melhorou, mas tudo dependerá do tempo, uma vez que chuvas fortes podem aumentar a sujeira. Para desespero dos organizadores, há previsão de chuva para o período dos Jogos. Com o objetivo de convencer os céticos, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o presidente do Comitê Organizador, Tony Estanguet, chegaram a mergulhar no Sena. Macron prometeu o mesmo, mas até ontem não cumprira a promessa.

Ainda que nos próximos dias as condições de balneabilidade não permitam as provas ou forcem seu adiamento, é louvável o esforço de Paris para despoluir um de seus patrimônios. Esforço que o Rio, sede dos Jogos de 2016, deixou escorrer pelos dedos. Embora a Olimpíada carioca tenha deixado legados importantes, como a revitalização da Zona Portuária, a Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra) e os BRTs, a anunciada despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas da Barra foi o principal fiasco olímpico. Na França, a limpeza do Sena é encarada como um dos principais legados. Prevê-se que, em 2025, já será possível nadar em trechos do rio.

A despeito das apostas de risco da Olimpíada de Paris, espera-se que tudo saia como planejado, para o bem do esporte, do espírito olímpico e de bilhões de espectadores no mundo inteiro.

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