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O Brasil tem motivos para celebrar a inédita medalha (de bronze) por equipes na ginástica artística durante a Olimpíada de Paris. Primeiro, porque a conquista de terça-feira na Arena Bercy coroa um trabalho de mais de quatro décadas, período em que o Brasil saltou de competidor sem praticamente nenhuma chance a concorrente na disputa por um lugar no pódio com as maiores potências da modalidade. Segundo, porque o feito acontece numa das provas mais nobres dos Jogos. Por fim, porque é fruto de um esforço coletivo. A façanha de Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares e Lorrane Oliveira em solo parisiense é incontestável. Não se deve subestimar o impacto que o sucesso das ginastas tem na prática de esportes e na autoconfiança de jovens brasileiras.

O cenário mudou desde os Jogos de Moscou, em 1980, quando Claudia Magalhães se tornou a primeira brasileira a disputar a ginástica artística. Na época, o Brasil era apenas um intruso num clube fechado. De lá para cá, os pódios por equipes foram dominados por potências olímpicas como União Soviética/Rússia, EUA, China, Romênia, Alemanha, com eventuais participações de Grã-Bretanha e Itália.

As mudanças aconteceram aos poucos, de forma lenta, porém consistente. Os resultados colhidos agora refletem o trabalho de outras ginastas que abriram portas e trouxeram patrocínio, a despeito das adversidades conhecidas. Está aí o legado de Tatiana Figueiredo, Soraya Carvalho, Luisa Parente, Daniele Hypólito, da campeã mundial Dayane dos Santos, Lais Souza e tantas outras. A almejada medalha por equipes não surgiu do nada. Foi construída ao longo do tempo. “Hoje podemos dizer que temos uma escola de ginástica brasileira”, afirma Jade Barbosa.

Antes de Paris, os melhores desempenhos da ginástica brasileira por equipes haviam sido os oitavos lugares em Pequim 2008 e Rio 2016. Embora o salto de Rebeca Andrade, com nota de 15.100, a maior de todas, tenha catapultado a equipe brasileira ao pódio, a conquista seria impossível sem o bom desempenho das outras atletas.

O êxito mostra mais uma vez que é possível mudar cenários aparentemente imutáveis. Até os anos 1980, o vôlei brasileiro era apenas mais um esporte. Nas últimas décadas, se transformou numa potência mundial. Já são cinco ouros olímpicos, três no masculino (Barcelona 1992, Atenas 2004 e Rio 2016) e dois no feminino (Pequim 2008 e Londres 2012), sem contar outros pódios.

O triunfo na ginástica artística em Paris, que poderá ser ainda maior, uma vez que há outras disputas de medalhas com participação de brasileiras, aponta um caminho para o Brasil. Mostra que, independentemente de desempenhos muitas vezes frustrantes, se houver base sólida, preparação eficaz, investimentos na formação de atletas de alto nível e, principalmente, desenvolvimento de um trabalho sério e duradouro, os resultados aparecem. Não há dúvida de que o brilho de Rebeca e companhia poderá inspirar outras meninas a sonhar com conquistas.

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