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A opinião do GLOBO

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É preocupante a constatação de que o transporte coletivo no Brasil tem perdido passageiros para veículos próprios ou de aplicativos, de acordo com a Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana divulgada nesta semana. As alternativas individuais representam hoje 68,3% dos deslocamentos, bem mais que os 50,2% registrados no último levantamento, de 2017. A mudança significa mais engarrafamentos, mais horas perdidas no trânsito e mais poluição. Por meio de políticas públicas, os prefeitos precisam reverter essa tendência. O levantamento comprova o péssimo serviço prestado e ressalta a necessidade de mais investimento.

Embora o ônibus ainda seja o meio de transporte mais utilizado, a diferença em relação ao carro próprio é mínima (30,9% ante 29,6%). No levantamento de 2017, a participação dos coletivos era de 45,2%, ou seja, houve uma queda de 14,3 pontos percentuais. Os deslocamentos por veículos de aplicativos representam 11,1% (em 2017, eram 1%); em motos, 10,9%; bicicletas, 6,5%; metrô, 4,2%; mototáxi, 2,6%; trens, 1,8%. Os trajetos feitos a pé ainda se mantêm relevantes: 21,6%.

A redução dos deslocamentos em transporte coletivo aconteceu em todas as classes sociais, embora tenha sido mais significativa na C e D/E. Sobre os principais motivos que levaram passageiros a migrar para as modalidades individuais, entrevistados apontaram principalmente o desconforto (28,7%), a falta de flexibilidade em relação a trajetos e horários (20,7%), o tempo de viagem (20,4%), a tarifa elevada (11,8%), a insegurança (11,4%) e os atrasos (10,2%).

Hegemônicos em praticamente todas as cidades brasileiras, refletindo uma mentalidade historicamente voltada ao transporte rodoviário, os ônibus têm deixado a desejar no serviço prestado à população. Frotas antigas, sem ar-condicionado, número insuficiente de veículos, insegurança, falta de transparência na fixação de tarifas, desrespeito aos horários e motoristas destreinados são alguns dos problemas que afugentam usuários. Acrescente-se a isso a incapacidade crônica do poder público em promover a integração das tarifas dos diferentes meios de transporte, o que aumenta o custo dos deslocamentos — nas grandes cidades, é comum o usuário pegar mais de uma condução.

O engenheiro de transportes Ronaldo Balassiano, professor aposentado da Coppe/UFRJ, diz que a fuga de passageiros é compreensível. “O serviço é muito ruim, e os aplicativos baixaram seus preços, deram descontos”, afirma. “Mas estamos na contramão do mundo, porque as cidades incentivam cada vez mais o transporte coletivo”.

Se usuários estão trocando os ônibus por carros próprios ou de aplicativos é porque o serviço não atende às suas expectativas. E isso é um problema para as grandes cidades brasileiras, às voltas com longos congestionamentos. Em ano de eleições municipais, o tema precisa estar no centro do debate político. O poder público precisa convencer o cidadão a voltar para o transporte coletivo. E a única forma de fazer isso é oferecendo opções rápidas, confortáveis, eficientes e com tarifas justas.

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