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Não bastasse a miríade de doenças que levam multidões diariamente ao SUS, as autoridades sanitárias brasileiras agora têm mais uma com que se preocupar: a febre oropouche. O Brasil já registrou 7.286 casos neste ano, aumento de 776% em relação ao acumulado de 2023. No dia 25 de julho, o Ministério da Saúde confirmou duas mortes, ambas na Bahia. O fato é preocupante porque até então não havia, segundo a pasta, relato na literatura científica de morte pela moléstia.

Os doentes costumam apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, dor no fundo dos olhos, náuseas, vômitos, diarreia, dores nas pernas e cansaço. Nas formas mais graves, surgem manchas vermelhas e roxas pelo corpo, há sonolência e sangramento grave, com queda abrupta na contagem de hemoglobina e plaquetas sanguíneas. Como alguns desses sintomas se confundem com os da dengue, o desafio se torna ainda maior.

A febre oropouche é causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense, transmitido principalmente pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido na Região Amazônica como maruim ou mosquito-pólvora. Em áreas silvestres, ela pode ser transmitida por dois outros insetos: o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus. Em áreas urbanas, onde é menos comum, também pelo mosquito Culex quinquefasciatus.

Apesar de se tratar de uma doença endêmica da Amazônia, onde se concentram 80% dos casos, ela já é encontrada também em estados do Sudeste e Sul. Uma das mortes sob investigação aconteceu no Paraná, com possível transmissão em Santa Catarina.

A doença tem implicações preocupantes. No início de julho, o Ministério da Saúde informou ter identificado quatro casos de microcefalia em recém-nascidos relacionados à infecção da mãe pela febre oropouche. Casos parecidos já haviam ocorrido com mães infectadas pela zika. Há também a suspeita de que o vírus que circula no Brasil sofreu mutações que poderiam estar ligadas às mortes recentes.

A disseminação da febre oropouche pelo país, sobrecarregando ainda mais o já claudicante sistema de saúde, expõe o fracasso das políticas sanitárias para conter seus transmissores. O ministério alega que a distribuição inédita, a partir de 2023, de testes diagnósticos para a rede nacional de laboratórios fez com que casos antes concentrados no Norte e no Nordeste aparecessem também em outras regiões. É plausível. Mas, com teste ou sem teste, a doença se espalhou e cresce.

A dificuldade para barrar o avanço ficara patente no caso da dengue. Embora agora ela esteja em declínio depois de bater todos os recordes, os números são vergonhosos. Diante do agravamento do quadro da febre oropouche, ministério, estados e prefeituras precisarão traçar estratégias para testar a população — medida essencial, pois os sintomas se confundem com os de outras doenças —, tratar os doentes e combater os focos. Os mesmos governos que não conseguiram dar conta de dengue, zika e chicungunha agora têm mais uma doença na lista.

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