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É bem-vinda a iniciativa da Receita Federal para regular o mercado crescente de criptoativos. De acordo com o Banco Central, a compra líquida de criptomoedas por brasileiros chegou a R$ 61 bilhões em 2023. Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, já somou R$ 40 bilhões.

Por não terem nenhum tipo de lastro físico, as criptomoedas se tornaram o meio favorito para criminosos fecharem transações que tentam passar ao largo do Fisco e são frequentemente usadas para lavar dinheiro. Mas elas também têm um uso legítimo que não deve ser proibido. No ano passado, venezuelanos exilados transferiram US$ 5,4 bilhões em auxílio para parentes que continuam no país, usando criptomoedas para tentar escapar não apenas das altas taxas cobradas por instituições financeiras, mas sobretudo da vigilância da ditadura chavista.

No Brasil, a Receita pretende lançar o programa “Cripto Conforme”, com o objetivo de incentivar as corretoras de criptoativos a abrir filiais nacionais. Quem resistir à regularização enfrentará fiscalização mais rígida da própria Receita e do Banco Central. A intenção é aumentar a visibilidade das operações feitas por essas empresas e averiguar se recolhem impostos corretamente. A abertura de filiais brasileiras facilitará o serviço. Em contato com as corretoras, o governo quer, além de orientá-las sobre o pagamento de impostos, estruturar o acesso a informações sobre depositantes e sacadores.

A preocupação com o uso de criptomoedas para lavagem de dinheiro é global. A fiscalização precisa ser compartilhada entre diversos países, pois o dinheiro migra de um para outro a um piscar de olhos. Para disciplinar a tarefa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou um documento com diretrizes comuns chamado “Crypto-asset reporting framework” (Carf), a que o Brasil anunciou adesão.

As oscilações dos criptoativos também exigem atenção, para evitar bolhas especulativas que possam afetar a economia ao estourar. A queda vertiginosa da cotação de criptomoedas em 2022 funcionou como alerta sobre os riscos. O conjunto de 80 das cem moedas digitais mais negociadas caiu mais de 60%. É fundamental haver mecanismos de vigilância para evitar que as criptomoedas se tornem foco de movimentos especulativos como os que deram origem às crises financeiras de 1929 e 2008. Parece claro que a motivação imediata da Receita com a tentativa de regulação é ampliar a arrecadação. Mas isso não quer dizer que ela esteja errada. Impor disciplina ao mercado de criptoativos é a única forma de lhe trazer segurança e, em consequência, favorecer seu crescimento no futuro.

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