Pedro Doria
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Pedro Doria

Jornalista

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Pedro Doria

Tem um jogador novo na disputa pelo pódio mais alto da inteligência artificial generativa — é a Anthropic. A Amazon anunciou um investimento de US$ 2,75 bilhões na companhia, somando US$ 4 bi se levarmos em conta o que já havia sido investido no ano passado. Para a Amazon, é o maior aporte jamais feito numa startup. De quebra, a empresa periga passar na frente do Google e se tornar a principal concorrente da OpenAI.

A IA generativa, essa que cria e interpreta textos, produz fotografias realistas, dissimula canções que artistas jamais gravaram de forma quase impecável e já se aproxima do vídeo, foi inventada no Google. Não faz nem muito tempo — foi em 2017. E a história de como, incrivelmente, o Google não lidera essa área explica muita coisa, incluindo como a Anthropic entrou repentinamente no radar.

Quem trabalha em IA de ponta, no Ocidente, é um mesmo pequeno conjunto de matemáticos muito sofisticados. São alguns professores na casa dos 60 ou 70 e seus alunos, em geral por volta dos 30. Passaram a última década compartilhando cadeiras nos mesmos laboratórios do Google, frequentaram as mesmas salas de aula entre Toronto e Stanford e são todos autores dos artigos científicos que definiram a tecnologia. Dario Amodei, CEO da Anthropic, era da OpenAI até dois anos atrás, quando saiu brigado com um time inteiro para erguer a concorrente.

Brigou por segurança — reclamava que a OpenAI não dava atenção suficiente para tornar os algoritmos seguros para uso humano. É a mesma briga que desencadeou uma rebelião do conselho de administração da OpenAI e quase demitiu o CEO Sam Altman, no final do ano passado. E é essa cautela, esse pavor com até que ponto a tecnologia da inteligência artificial pode nos levar, que fez o Google hesitar por anos. Até que engenheiros suficientes saíram de lá para criar outras empresas.

Quando pôs na rua o ChatGPT, a OpenAI deu uma chacoalhada no mundo. Mostrou o que o Vale do Silício já compreendia ser possível fazer, mas não tinha coragem de levar a público. Agora, os dois grupos mais cautelosos — o do Google e a turma da Anthropic — vieram para brigar.

Segundo os executivos da nova empresa, Claude 3.0, sua IA, já é melhor que o GPT 4.0. É capaz de ler muito mais quantidade de texto para analisar. É capaz, também, de receber imagens e textos simultaneamente para processar. Um relatório com muitos gráficos poderia ser digerido para auxiliar sua compreensão. É, de fato, algo que o ChatGPT não consegue fazer. Ou ele interpreta imagens, ou interpreta textos.

Para a Amazon, a questão é estratégica. Seu investimento na Anthropic não é tão robusto quanto o que a Microsoft fez na OpenAI — são US$ 4 bi ante US$ 13 bi. Mas, de novo, é o maior investimento já feito pela companhia de Jeff Bezos numa startup. Quer dizer: é sério. Não é pouco dinheiro. A razão se explica num nome: Alexa.

Quando as caixas de som inteligentes apareceram em nossas casas, um quarteto tentou dominar o mercado. Samsung, Apple, Google e Amazon. A Alexa, da Amazon, ganhou a briga. Mas, quase dez anos passados, seus limites já são evidentes. É preciso pedir informação duas ou três vezes, as ordens têm de ser dadas com sintaxes rígidas, e isso leva todo mundo a decorar meia dúzia de comandos e não muito mais.

Com IA generativa, isso muda. A compreensão de fala chega perto da linguagem natural. Para a Alexa se manter útil, precisará ter um cérebro parecido com o do ChatGPT. Ou do Claude.

Que, não à toa, brinca com o termo nuvem. Cloud, em inglês.

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