Pedro Doria
PUBLICIDADE
Pedro Doria

Jornalista

Informações da coluna

Pedro Doria

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 06/08/2024 - 00:07

Desafios para o Google com SearchGPT da OpenAI: Impactos e Incertezas

O Google enfrenta desafios com a acusação de monopólio em buscas, enquanto a OpenAI introduz o SearchGPT com interação de diálogo e fontes citadas. A mudança no mercado pode impactar a forma como buscamos informações, com incertezas sobre a confiabilidade e a adaptação dos usuários a esse novo formato. A batalha pela inovação nas buscas online promete transformar a indústria, desafiando a posição consolidada do Google nos próximos anos.

O primeiro caso pesado de antitruste do governo americano contra uma das gigantes do Vale do Silício terminou, ontem, com uma derrota feia do Google. O juiz Amit Mehta, da Corte Distrital da capital, Washington, determinou que a empresa usou de seu poder de monopólio em buscas para bloquear o acesso de seus concorrentes ao mercado. E a decisão veio apenas um dia depois de a OpenAI anunciar que pretende brigar no mercado de buscas, ao colocar no ar o SearchGPT. São duas notícias inteiramente separadas, mas que precisam ser lidas juntas.

O caso apresentado perante o juiz Mehta é sucinto. O Google usa seu poder financeiro para garantir que será o site de busca padrão de dois navegadores, o Safari, da Apple, e o Firefox, da Mozilla. Junte os dois ao Chrome, software do próprio Google, e quase a totalidade dos navegadores da web em número de usuários está na lista. Só o contrato com a Apple sai por US$ 18 bilhões anuais.

Algoritmos de busca não se tornam melhores porque um programador tem mais talento do que o concorrente. O que pesa, como em quaisquer algoritmos de inteligência artificial, é o volume de dados que alimenta o bicho. Ou seja, quanto mais gente usa um site de busca, melhor ele fica. O Google é melhor por ser muito mais usado do que os outros. E é mais usado porque paga para dificultar que as pessoas mudem. “Ao longo de décadas”, afirmou o juiz em sua decisão, “estes acordos deram ao Google acesso a uma escala que seus rivais não conseguem alcançar”.

Ainda não há pena definida — pode chegar ao ponto de forçar o Google a vender parte de seu negócio. E há recurso, a empresa pode tentar ir à Suprema Corte.

Pois é. E, no fim de semana, a OpenAI anunciou que pretende mudar por completo como fazemos buscas. O site SearchGPT ainda está fechado para alguns poucos usuários selecionados, mas uma lista de espera já foi aberta para quem desejar se inscrever. De cara, quem chega depara com uma pergunta: “O que você está procurando?” Há uma caixa para preenchimento. A partir daí, funciona de maneira similar ao ChatGPT. O sistema responde, quem busca faz perguntas complementares. É um diálogo continuado. A diferença para o ChatGPT é só uma, mas crucial. A cada informação que o robô traz, ele a ancora num link para a fonte original.

A diferença não é pequena. Muita gente se habituou a utilizar o ChatGPT como se fosse uma busca, um robô onisciente que tudo sabe e responde com sapiência. Isso, ele não é. Quando entende de um assunto, responde corretamente. Quando não entende, responde assim mesmo, só que inventando. Inventa com riqueza de detalhes uma resposta que parece ter coerência e o faz com convicção. Se quem usa o sistema está desavisado, pode embarcar na incorreção. Tem acontecido com frequência. Neste sentido, SearchGPT é um ChatGPT que cita a fonte onde encontrou a informação para conferência.

SearchGPT está também plugado no noticiário, pode responder sobre temas que estão ocorrendo neste momento. E, aí, outra diferença: a OpenAI assinou acordos de licenciamento com pelo menos três empresas jornalísticas. O Wall Street Journal, a Associated Press e o Vox. Não é um acordo que autorize o uso de conteúdo dessas companhias para treinar a inteligência artificial. É exclusivamente para responder a respeito do que está acontecendo no momento. Ou seja, e isso é inédito nesse tipo de negócio, as empresas são pagas pelo jornalismo que produzem. Já não era sem tempo. Resta saber se a cultura se firmará.

Há inúmeras perguntas no ar. A primeira: as pessoas vão se acostumar a fazer buscas dialogando? O mais provável é que sim. Quando procuramos por algo, não é uma página da web que desejamos encontrar. É uma resposta a uma dúvida qualquer. O formato de diálogo, de chat, é mais preciso se for confiável. E este “se for confiável” não é trivial. O próprio Google, assim como a Microsoft, fez experiências usando inteligência artificial para responder a buscas com texto corrido. O resultado foi sugerir uso de cola branca para garantir que o queijo se afixe na massa de pizza. IAs acertam. E erram com convicção.

Foi uma longa jornada, até aqui. O modelo de site de buscas sempre teve mais ou menos a mesma cara, mas houve disputa por quem conseguiria oferecer um produto decente. Altavista, Lycos, Webcrawler, nomes hoje perdidos, pareceram ter chance de ganhar a briga por espaço. Aí veio o Google. Está entre nós, consolidado, faz 20 anos. Os próximos anos serão os mais difíceis da história da companhia. Mas não custa lembrar. Há exatos 20 anos, a Microsoft passou por um processo assim, e perdeu como o Google na primeira instância. Esteve por baixo. Hoje é a maior companhia em valor de mercado do planeta.

Mais recente Próxima Apoio a Maduro revelará quem é democrata na esquerda