Washington Olivetto
PUBLICIDADE
Washington Olivetto

Publicitário

Informações da coluna

Washington Olivetto

Publicitário

Na primeira semana de novembro de 2022, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) declarou que a Usina Nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia, havia sido desconectada da rede elétrica do país.

O motivo: novos bombardeios russos danificaram linhas de transmissão e deixaram o local funcionando apenas por meio de geradores a diesel.

Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mais de 10% da população ficou temporariamente sem energia elétrica por causa dos ataques russos.

A capital Kiev e outras dez regiões foram afetadas. No meio daquela confusão toda, mais uma troca de prisioneiros aconteceu. Moscou entregou 214 combatentes ucranianos, e Kiev liberou 107 combatentes russos.

Nessa mesma semana de novembro, caiu nas minhas mãos um exemplar da revista Vogue inglesa, tendo como carro-chefe uma reportagem assinada pela jornalista Rachel Donadio com a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska.

A revista, com a tradicional direção de arte ligada ao mundo da moda que a consagrou no mundo inteiro, tinha fotos de Annie Leibovitz, a mais badalada retratista dos nossos tempos.

Leibovitz, que agora está com 73 anos, já fotografou gente como Demi Moore, Adele, Leonardo DiCaprio, John Lennon e a rainha Elizabeth.

Apesar da estética ligada à moda, a reportagem não tinha nada de descartável, já a partir do seu título: “Retrato de bravura: a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska”.

Detalhe: Olena se chama Zelenska, e não Zelensky como o seu marido, porque os sobrenomes têm gênero nas línguas eslavas.

Em tom coloquial, a jornalista Bonadio, que entrevistou Olena, conta que a primeira-dama conheceu o marido — que tem os mesmos 44 anos que ela — ainda na adolescência, no ensino médio, e que os dois começaram a namorar anos depois, quando já estavam na universidade.

Na reportagem, a primeira-dama garante que não gosta de aparecer e que prefere permanecer nos bastidores, comportamento que manteve durante anos como escritora das comédias protagonizadas por seu marido, que, representando o papel de um presidente ficcional em programas de televisão, acabou virando presidente de verdade.

Olena diz que não era a favor da candidatura do marido nem ambicionava os holofotes que costumam iluminar as primeiras-damas, mas que, com a guerra, se viu na obrigação de assumir uma personalidade pública, procurando encorajar e motivar a população ucraniana, além de conquistar a opinião de outros países para que fiquem a favor do seu povo.

Obviamente, na entrevista ela compartilha as posições do marido, mas a reportagem deixa espaço para o leitor decidir de que lado ficar, se é que existe um lado para ficar nesse trágico episódio.

Como dizem muitos estudiosos, só têm uma opinião formada sobre o futuro dessa guerra absurda aqueles que estão muito mal informados.

Consciente de que não estava numa festa, apesar de estar falando e sendo fotografada para uma revista de moda, ela aparece nas belíssimas fotos de Annie Leibovitz usando roupas discretíssimas, de nenhuma grife conhecida, todas de designers ucranianos. Faz sutilmente o papel de uma discreta e digna promotora dos talentos do seu país. E, propositalmente, tem o bom senso de não usar nenhuma joia, o que seria descabido no momento que estava vivendo.

A reportagem dessa Vogue de 2022 me fez lembrar as históricas reportagens da revista fotografadas por Lee Miller, no período da Segunda Guerra Mundial, incluindo a foto dela mesma na banheira de Adolf Hitler no dia em que ele se suicidou.

São momentos assim que provam que o bom jornalismo pode ir do útil ao fútil, sem nunca esbarrar no inútil.

Dentro dessa mesma linha, agora neste início de 2023, a Vogue brasileira publicou uma reportagem com a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.

Com texto de Maria Laura Neves e fotos de Bob Wolfenson, a reportagem oferece aos leitores a oportunidade de conhecer um pouquinho mais dessa mulher que, assim como a ucraniana Olena Zelenska, não hipervaloriza o papel que representa, não faz questão de ser chamada de primeira-dama, mas que, de um jeito ou de outro, também está envolvida numa guerra.

Pela recuperação do seu país.

Mais recente Próxima