Washington Olivetto
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Já faz algum tempo, a mídia inglesa noticiou que haviam sido colocados cartazes no metrô de Londres advertindo os homens para que evitassem olhar fixamente para as mulheres nos trens, porque esses olhares poderiam ser configurados como assédio sexual.

Achei a iniciativa curiosa e procurei conhecer a abordagem criativa utilizada para comunicar essa mensagem.

Minha expectativa era alta, porque a publicidade exterior inglesa tem ótima reputação, a ponto de a campanha da revista The Economist, com cartazes espalhados pelo metrô de Londres, ser considerada a melhor de todos os tempos. São cartazes vermelhos, com frases inteligentes como “Money talks, but sometimes it needs an interpreter. Read The Economist” (O dinheiro fala, mas algumas vezes ele precisa de um intérprete. Leia The Economist).

Para matar minha curiosidade, estive em diferentes estações, onde encontrei sempre o mesmo cartaz, com um leiaute pouco atraente, que dizia:

— Olhar fixamente de maneira invasiva é assédio sexual e não é tolerável.

A campanha, assinada pela prefeitura de Londres, se resumia a isso. Parecia apenas o cumprimento de alguma ordem burocrática.

Recentemente, tentei descobrir o resultado dessa campanha, em curto e médio prazo, e soube que a maioria da população considerou aquilo irrelevante. Apenas três mulheres disseram à BBC que julgavam a campanha importante porque já haviam sofrido assédio.

Os assédios relatados por elas eram aqueles que, lamentavelmente, ocorrem em lugares com grande tráfego de gente, independentemente dos olhares.

Felizmente, a campanha da prefeitura londrina não estigmatizou os olhares em geral, patrimônio do universo afetivo da humanidade e tema de belíssimas canções.

Não dá pra imaginar o mundo sem “Este seu olhar”, de Tom Jobim”, ou sem “Can’t take my eyes off you”, de Frankie Valli.

A verdade é que, na busca do politicamente correto e no combate ao politicamente incorreto, muita gente está esquecendo que no meio disso existe o politicamente saudável, representado pelo bom senso.

Tempos atrás, atendi a uma jornalista que queria saber minha opinião sobre dois assuntos aparentemente parecidos, mas, na verdade, diferentes.

No Brasil o Conar havia proibido os nomes McPicanha, do McDonald’s, e Whopper Costela, do Burger King, porque esses produtos não contêm picanhas nem costelas. A proibição é lógica. A publicidade pode se utilizar da ficção na comunicação de um produto. Mas o nome ou a comunicação não podem dizer ou insinuar que o produto contém coisas que ele não contém. Explicando melhor: faz séculos que o licor Strega é conhecido como “Strega, o licor do amor”. Tudo bem. Trata-se de uma licença poética. Mas essa mesma frase não poderia ser “Strega, o licor do Viagra”, porque induziria o consumidor a acreditar que o produto contém Viagra na sua fórmula. Simples assim.

Outra pergunta que a jornalista me fez foi a respeito da proibição das campanhas da Citroën no Egito, acusada de sexismo, e da Mercedes-Benz na China, acusada de alimentar estereótipos físicos. Nos dois casos, pelo que vi, foram usados apenas recursos criativos que buscam deixar a comunicação mais atraente, sem prejudicar moralmente ninguém. Os radicais que pediram a proibição alegaram que as peças atrapalhavam a luta pela diversidade. Na minha opinião, a proibição demonstra apenas falta de sensibilidade.

Ao mesmo tempo, e para o bem de todos, algo de talentoso e bem-humorado aconteceu em Londres no Dia das Mães do ano passado, quando uma história antiga e divertida foi ressuscitada pela mídia.

Em agosto de 1970, o jovem Barry Sonnenfeld foi assistir a um show de Jimi Hendrix e avisou sua mãe que voltaria as 2h da manhã. O show atrasou e, às 2h30, quando Jimi Hendrix entrou no palco e dedilhou sua guitarra, antes de tocar a primeira música, foi interrompido por um aviso no alto-falante que ecoou por todo o local:

— Barry Sonnenfeld, ligar para sua mãe!

Não sei se a história é verdadeira, mas trata-se de uma boa demonstração de como é possível ser afetivo sem ser piegas e ser sério sem ser chato.

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