No segundo semestre de 2022, a rainha Elizabeth II e o rei Pelé deixaram de ser humanos e se transformaram em lendas.
Como brasileiro e londrino, acompanhei os dois acontecimentos, revi um pouco da História e observei semelhanças e diferenças entre ambos os reis, que, se bem contadas, dariam um excelente documentário, até porque existe farto material impresso e audiovisual sobre os dois.
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Elizabeth virou rainha muito jovem, aos 25 anos. Pelé virou rei ainda mais jovem, aos 17.
Ela virou rainha por hereditariedade e na sua própria terra. Pelé virou rei por habilidade e bem longe de casa. Nasceu em Três Corações (MG), no Brasil, e foi coroado em Estocolmo, na Suécia.
Detalhe: meses antes de ser coroado na Suécia, Pelé foi citado como futuro rei numa crônica de Nélson Rodrigues, publicada na revista Manchete Esportiva, o que empresta ao jogador uma superioridade literária em relação à monarca inglesa.
A rainha Elizabeth II gostava de usar chapéus, a maioria deles feita pela consagrada chapelaria Rachel Trevor-Morgan.
O Rei Pelé gostava de dar chapéus, e um dos mais famosos foi aquele sobre o zagueiro Bengt Gustavsson antes do terceiro gol do Brasil na final do Mundial da Suécia.
A rainha Elizabeth II e o rei Pelé participaram de um mesmo mundial de futebol. Aconteceu em Londres, em 1966. Naquele ano, ele saiu de campo machucado pelo zagueiro Vicente, da seleção portuguesa, e o Brasil foi desclassificado nas oitavas de final. Enquanto a rainha Elizabeth II saiu de Wembley campeã, no dia 30 de julho de 1966, com a vitória da Inglaterra sobre a Alemanha por 4 a 2.
Ela adorava música e gostava de dançar. Sua canção favorita era “Dancing Queen”, sucesso do grupo sueco Abba, aquele do filme “Mamma mia”.
O rei Pelé adorava música e virou tema de canções de Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Erasmo Carlos. Também gostava de cantar e até compôs um samba chamado “Perdão, não tem”, que gravou em dupla com a rainha Elis Regina.
A rainha Elizabeth II sempre viajou pelo mundo acompanhada por um séquito que cuidava de todas as coisas burocráticas, por isso jamais teve problemas com entradas ou saídas em diferentes países.
O rei Pelé muitas vezes viajou pelo mundo sozinho e chegou a entrar nos Estados Unidos e no Vaticano sem seu passaporte, que certa vez perdeu no avião quando mexeu nos bolsos procurando uma caneta para dar um autógrafo; e, numa outra vez, esqueceu em casa. Tanto nos Estados Unidos quanto no Vaticano, os funcionários das alfândegas o reconheceram e deixaram que ele entrasse mesmo sem apresentar o documento.
Em 1945, ainda não coroada, a futura rainha Elizabeth foi a primeira mulher da família real a servir nas Forças Armadas britânicas e teve participação importante para o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em 1969, já coroado havia mais de dez anos, o rei Pelé, com sua simples presença em campo, num jogo do Santos, provocou um cessar-fogo na Guerra Civil de Biafra, na Nigéria.
A rainha Elizabeth II é a personagem principal da série “The Crown”, que conta a história da realeza inglesa misturando ficção e realidade.
O rei Pelé é o personagem principal do filme “Pelé eterno”, onde alguns lances são tão fantásticos que parecem ficção, mas, na verdade, são realidade.
Quando virou lenda, a rainha Elizabeth II virou também matéria nos principais veículos de comunicação de todo o mundo.
Com o rei Pelé aconteceu o mesmo, só que num número ainda maior de veículos e países.
A rainha Elizabeth II deixou como sucessor seu filho, príncipe Charles, hoje chamado de rei Charles III.
O rei Pelé não deixou sucessores. Continua sendo o rei do futebol. Talentos excepcionais como Diego Armando Maradona e Lionel Messi continuam sendo os príncipes.
O rei Pelé sabia da importância do futebol para a população do planeta. A rainha Elizabeth II também.
Tanto que, em 1997, condecorou o rei Pelé como Cavaleiro da Coroa Britânica.
God save the Queen.