Washington Olivetto
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Duas colunas atrás, comentei aqui no GLOBO sobre o Soho House, um clube fechado de restaurantes e hotéis, criado em Londres, que se espalhou pelo mundo com as mesmas regras: só aceita como frequentadores pessoas que exerçam alguma atividade criativa; não permite a entrada de gente vestida com ternos e gravatas e, muito menos, gente que use grifes aparentes. Nem permite que fotos sejam tiradas nas suas dependências ou publicadas em Facebook e Instagram — até porque é proibido usar celular nos Soho Houses.

Recebi muitas perguntas sobre como eles elegem seus frequentadores, e minha resposta é que eles têm uma espécie de curadoria treinada para recusar como sócios aqueles que são considerados os ricos/pobres: gente que tem dinheiro, mas não tem cultura. São aceitas nos Soho Houses pessoas que têm algum dinheiro, porque os lugares não são de graça, mas que principalmente têm bom gosto.

Isso não quer dizer que os Soho Houses sejam os lugares preferidos dos bilionários de dinheiro e de cultura, considerados ricos/ricos, porque esses não frequentam clube algum. Existem estudos que relatam os hábitos dessa meia dúzia de privilegiados. Por exemplo: ricos/ricos nunca são vistos em aeroportos despachando coleções de malas Louis Vuitton, simplesmente porque não viajam com malas. Têm suas roupas, do mesmo modelo e das mesmas cores, nas suas diversas casas pelo mundo. Carregam, no máximo, uma malinha de mão.

Ricos/ricos não compram roupas de grifes badaladas, nem nada que esteja na moda, porque moda sai de moda. Acham desperdício. Preferem ter estilo próprio. Ricos/ricos não usam cartões de crédito gold, black ou platinum. Optam pelos básicos, como o clássico American Express verde, que serve para pagar as mesmas coisas, mas não ostenta nada.

Ricos/ricos vão a todas as exposições, mas nunca a vernissages. Assistem aos melhores shows, mas jamais comparecem a estreias. E, quando convidados para uma festa, são sempre os primeiros a chegar e jamais os últimos a sair.

Mulheres ricas/ricas praticamente não usam joias e, quando usam, são herdadas da mãe ou da avó. Homens ricos/ricos não praticam esportes para fazer networking. Jogam tênis, golfe e praticam hipismo pelo esporte, não para gerar negócios. Ricos/ricos acompanham apaixonadamente o campeonato inglês de futebol, mas no Brasil não torcem nem pelo meu Corinthians nem pelo Flamengo do Jorge Ben Jor. Torcem pelo Botafogo, de Nilton Santos e Mané Garrincha.

Na época em que casacos de pele não eram ecologicamente incorretos, mulheres ricas/ricas usavam suas peles em cima de jeans surrados. Hoje usam um paletozinho da Hermès, misturado com uma sainha da Zara.

Ricos/ricos jamais provam vinhos em restaurantes fazendo caras, bocas e comentários organolépticos. Mandam suas garrafas antes aos restaurantes para que o vinho seja servido em decanters, evitando assim exibir rótulos caros na mesa. O mesmo vale para quando recebem convidados em casa.

Ricos/ricos não aceitam convites para camarotes de cervejarias no carnaval. Montam seus próprios camarotes com amigos.

Ricos/ricos não têm automóveis. Quando querem dirigir, alugam um Porsche 911 Turbo para pilotar em alguma estrada alemã que não tenha limites de velocidade. Mas, na maioria do tempo, preferem andar de Uber, táxi, bicicletas ou transportes coletivos. Brad Pitt e Paul McCartney são figuras fáceis nos metrôs e trens de Londres e Paris.

Ricos/ricos não colecionam relógios. Não acham os Rolex a coisa mais maravilhosa do planeta e não gastam dinheiro comprando o último Swatch. Quando usavam relógios, era um Patek Philippe antigo comprado num leilão da Sotheby’s ou da Christie’s. A rica/rica Madonna Ciccone tem um desses faz tempo.

Só que a novidade entre os ricos/ricos agora é eles terem percebido que o bem mais precioso que existe é poder administrar o próprio tempo, sem se preocupar em saber que horas são. Por isso deixaram de usar relógios. Segundo a revista dominical do The New York Times, não usar relógio é o novo Patek Philippe.

O Patek do século XXI.

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