Washington Olivetto
PUBLICIDADE
Washington Olivetto

Publicitário

Informações da coluna

Washington Olivetto

Publicitário

Quando eu era criança, e meu pai, muito de vez em quando, usava um paletó de uma cor diferente da calça, eu ficava surpreso, mas não tinha a mínima ideia do que seria um blazer e de como essa roupa havia entrado para o vestuário do homem brasileiro.

Nos anos 1970, fui aprender que o blazer surgiu no Brasil nos anos 1950, por causa de uma ideia que passei a contar em palestras, como exemplo de criatividade nos negócios.

Mas, curiosamente, eu, que tinha falado sobre o blazer no Brasil várias vezes, só fui descobrir como ele surgiu no mundo pouco tempo atrás, por meio de uma reportagem da jornalista Sarah Hyde, numa elegante revista made in Italy, chamada Cabana.

Sarah conta que o nome blazer veio das jaquetas usadas pela tripulação do barco inglês HMS Blazer, no século XIX. O termo começou a ser usado em 1850 para descrever uma jaqueta leve, de cor vermelha e brilhante, vestida pelos remadores do Christ Church College de Cambridge em todas as competições.

As jaquetas marcavam a identidade do clube, garantindo que os espectadores pudessem identificar a equipe à distância. Como lembravam proezas esportivas, os atletas optaram por usá-las também fora das competições, para ser reconhecidos publicamente.

Em 1890, o termo blazer virou comum na Inglaterra, e a ideia de usar aquela vestimenta foi adotada pela maioria dos clubes. Logo depois, o rei Eduardo VII transformou o blazer numa roupa de lazer e verão adequada para playboys de qualquer idade.

Passaram os anos e, durante a Era do Jazz, o blazer foi adotado nos Estados Unidos como roupa preferida para o dia a dia, por representar um estilo de vida casual e elegante.

Outros anos passaram, e o que era bom para os meninos começou a ser bom também para as meninas. Gabrielle Chanel feminilizou o blazer no início da década de 1920, ao criar roupas para mulheres modernas e emancipadas. O futuro da moda, antecipado por Chanel, se expressava por meio da apropriação e adaptação inteligente de itens clássicos do guarda-roupa masculino.

Esses elementos já consagrados, devidamente feminilizados e simplificados, viraram símbolo de elegância e bom gosto. Chanel ensinou as clientes a estilizar suas criações e a misturar bijuterias com joias de verdade, acrescentando, assim, personalidade e luxo a suas roupas, e particularmente a seus blazers de cortes perfeitos.

Anos depois, Yves Saint Laurent, inspirado em Chanel, virou a alta-costura mundial de cabeça para baixo com seu smoking feminino. A genialidade de Saint Laurent foi desenhar estilos masculinos de forma que embelezassem a figura feminina. Essa alfaiataria sensual do famoso terninho de Saint Laurent levou as mulheres para o século XXI e completa a história do blazer no mundo, tão bem contada por Sarah.

Quanto à história do blazer no Brasil, para que ninguém fique morrendo de curiosidade, eu conto agora.

Nos anos 1950, a maioria dos homens brasileiros não fazia a barba todos os dias, mantendo uma aparência de sujos ou desleixados. Esses mesmos homens tinham no máximo um terno preto e um terno cinza, o que fazia com que parecessem estar sempre vestidos com a mesma roupa, igualzinho a meu pai no seu cotidiano.

Nessa época, a multinacional Gillette iniciou a mudança do hábito de barbear dos brasileiros com a campanha “Faça a barba todo dia com Gillette Azul”, baseada em jingles nas rádios, veículo que dominava a mídia brasileira.

Enquanto isso, o jovem empresário José Vasconcelos de Carvalho, com menos de 30 anos de idade, recém-chegado de um curso de administração de empresas nos Estados Unidos, percebeu que poderia construir um império mudando o jeito do brasileiro de se vestir.

Imaginou criar uma rede de lojas de roupas no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais que vendesse ternos com uma calça a mais, de outra cor, que pudesse ser usada com o mesmo paletó. Assim surgiu a bem-sucedida Ducal, nome que resumidamente queria dizer um paletó e duas calças. Foi assim que apareceu o blazer no Brasil.

Na próxima semana, vou mandar essa história para Sarah Hyde. Quem sabe ela resolve fazer uma continuação de sua excelente reportagem sobre o blazer no mundo?

Mais recente Próxima A paz