Washington Olivetto
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Washington Olivetto

Publicitário

Informações da coluna

Um jovem publicitário tem de comer pastel de feira, coxinhas do Frangó e empadinhas do Salete. Conhecer os cardápios do Gero e do Satyricon, saber a história do Beto Pimentel, o agricultor que inventou o restaurante Paraíso Tropical, em Salvador.

Um jovem publicitário tem de ler Machado de Assis, F. Scott Fitzgerald, J.D. Salinger, Dalton Trevisan, Itamar Vieira Junior e Annie Ernaux.

Um jovem publicitário tem de ver o Corinthians no Itaquerão, os jogos do campeonato inglês e da Liga dos Campeões, usar um cachecol da Juve de Turim e, de vez em quando, assistir a uma pelada do Juventus da Mooca.

Um jovem publicitário tem de gostar da obra do inglês David Hockney.

Um jovem publicitário tem de saber tudo sobre música popular, do vinil ao download, como André Midani sabia.

Um jovem publicitário tem de pesquisar o trabalho do artista sul-africano William Kentridge.

Um jovem publicitário tem de prestigiar a mídia de qualidade, exaltar a credibilidade jornalística, a autoridade da palavra impressa e odiar os algoritmos pelos algoritmos e as fake news.

Um jovem publicitário tem de conhecer o trabalho das pintoras Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.

Um jovem publicitário tem de ouvir João Donato e a Banda Black Rio, de Oberdan Magalhães.

Um jovem publicitário tem de ter senso de humor e capacidade de rir de si próprio.

Um jovem publicitário tem de saber quem foi Dener Pamplona de Abreu, conhecer os trabalhos da Zuzu Angel, sonhar com as roupas de Luiz de Freitas, usar meias de Paul Smith e vestir paletós da Comme des Garçons.

Um jovem publicitário tem de ouvir rádio e não levar muito a sério Instagram, Facebook e, principalmente, Twitter.

Um jovem publicitário tem de saber quem foram os outros dois grandes Didis, além do Didi dos Trapalhões, criado por Renato Aragão. Waldir Pereira, o Didi meia-direita, inventor da folha seca; e Deoscorédes Maximiliano dos Santos, o artista plástico, escritor e sacerdote afro-brasileiro, Mestre Didi.

Um jovem publicitário tem de achar o Porsche Carrera 911 um carro espetacular, mas considerar transporte coletivo de qualidade algo melhor ainda.

Um jovem publicitário tem de se imaginar em St. Barth e Saint-Tropez, mas não esquecer que no mundo existem também Maracaibo e Cubatão.

Um jovem publicitário tem de namorar a mulher ou as mulheres, o homem ou os homens que quiser e ter a consciência de que ninguém tem nada a ver com isso.

Um jovem publicitário tem de ser absolutamente democrata, contra radicalismos, tanto de direita quanto de esquerda.

Um jovem publicitário tem de conhecer os sorvetes da Momo no Rio e em São Paulo, da Cairu em Belém, no Pará, e da Gelateria Del Porto na Vieil Antibes.

Um jovem publicitário tem de estudar línguas — o maior número possível — e administração de empresas, para saber tocar seus negócios e ajudar nos negócios de seus clientes.

Um jovem publicitário tem de saber quem foram Juan Manuel Fangio com um volante, Rod Laver com uma raquete, Larry Bird com uma bola e Tiger Woods com um taco.

Um jovem publicitário tem de amar a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, Richard Rogers e Renzo Piano.

Um jovem publicitário jamais deve dar palpites em pratos de restaurantes com frases do tipo “daria para...”, nem provar vinhos fazendo caras e bocas de sommelier.

Um jovem publicitário tem de assistir a todos os filmes de Federico Fellini e Jean-Luc Godard, cultuar “O Bandido da Luz Vermelha” e a “A mulher de todos”, de Rogério Sganzerla, e rever várias vezes o emocionante “Ennio, o maestro”, sobre a vida do maestro Ennio Morricone.

Um jovem publicitário tem de lamentar a retirada de cena do maestro Daniel Barenboim.

Um jovem publicitário tem de ter consciência de que, no negócio da comunicação, sem uma grande ideia, não acontece absolutamente nada.

Um jovem publicitário tem até de entender um pouco de publicidade, mas tem de entender mesmo é de vida, porque quem não entende de vida não entende de publicidade.

Palavra de quem é jovem publicitário desde os anos 1970.

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