Washington Olivetto
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Washington Olivetto

Publicitário

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Quando comecei minha vida profissional, nos anos 1970, a publicidade de pior qualidade era criada pelas house agencies. As houses eram agências montadas dentro das próprias empresas, que geravam uma ilusão de bom negócio. Empresários ingenuamente imaginavam que, tendo uma agência própria, otimizavam suas verbas, quando na verdade desperdiçavam. Faziam publicidade de qualidade inferior, repetitiva e ineficiente, criada por publicitários que não conseguiriam emprego nas melhores agências do mercado.

Dirigentes das associações de classe, como Mauro Salles, Roberto Duailibi e Petrônio Corrêa, combateram as houses fortemente, provando que elas eram mau negócio para os anunciantes e péssimas para o desenvolvimento da publicidade brasileira. Graças a isso, a maior parte delas fechou.

Outras duas dificuldades que enfrentamos naqueles tempos foram o alinhamento e a nacionalização. O alinhamento das contas internacionais garantia a maior parte da verba dos grandes anunciantes para as agências estrangeiras. E a nacionalização de trabalhos criados e produzidos no exterior diminuía a possibilidade de criação e produção de publicidade de qualidade no Brasil.

Ganhamos essas paradas, e esse fato, somado aos trabalhos de agências como DPZ, Talent e W/Brasil, fez da publicidade brasileira uma das três melhores do mundo, com as publicidades americana e inglesa.

Essa é a notícia boa, mas agora vamos à notícia ruim.

Nos últimos tempos, a publicidade piorou no mundo inteiro, incluindo nos EUA e no Reino Unido, mas no Brasil piorou ainda mais. Fatores como a briga entre on-lines e off-lines, o enfraquecimento dos grandes veículos de comunicação, as campanhas fake, feitas só para ganhar festivais, e a obsessão por algoritmos são alguns dos responsáveis pela decadência.

No Brasil, outro dos grandes problemas dos últimos anos têm sido os influencers, ou os influenciadores digitais. Óbvio que existem bons e eficientes influenciadores. Ninguém é maluco de duvidar do poder de vendas de Cristiano Ronaldo ou da credibilidade de Drauzio Varella. Mas a maioria dos influenciadores digitais não são esses personagens indiscutíveis.

Há figuras bizarras, como a influenciadora digital chinesa Xiang Xiang, que ganhou mais de US$ 13 milhões em menos de uma semana abrindo em silêncio caixas com roupas e mostrando cada uma das peças para a câmera por um segundo. Apenas um segundo. São caixas e mais caixas, roupas e mais roupas, segundos e mais segundos. Dólares e mais dólares.

Há figuras vaidosas, como a argentina Sofia Clerici, que garante a seus mais de 2 milhões de seguidores beber um pouco do próprio sangue semanalmente para manter seu corpo escultural.

E há gente perigosa, como o mineiro Thiago Ferrari, preso em Fortaleza por ser o principal suspeito de uma série de estupros.

No segmentado mundo da influência digital, existem nomes como Jimmy Donaldson, Bruno Goes, Jake Paul e Rato Borrachudo, totalmente inéditos para milhões de pessoas e absolutamente conhecidos por outros milhões. Gente que atua em segmentos como jogos, saúde, condicionamento físico, viagens, moda, beleza, alimentos, educação e estilo de vida. Gente que garante influenciar o público, mas na verdade são poucos os que realmente conseguem fazer isso.

O que muitos estão conseguindo fazer é influenciar profissionais de anunciantes e agências. O dinheiro investido em influenciadores digitais já é bastante significativo. O americano Jimmy Donaldson recentemente virou reportagem na Forbes porque, no último ano, ganhou US$ 82 milhões.

Aqui no Brasil, onde a publicidade vive momentos difíceis, até com a lamentável volta de algumas house agencies, os números investidos em influenciadores digitais precisam ser repensados. Outras possibilidades criativas merecem ser prestigiadas.

Juro que isso não é protecionismo com o pessoal de criação das agências, nem inveja dos influencers. Até porque atualmente também sou um deles. Segundo os relatórios dos especialistas em mídia digital que cuidam do WCast, acabo de ser reconhecido como um macroinfluenciador.

Não sei muito bem o que isso significa, mas desconfio que seja a glória.

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