Entrevistas
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Por Anna Luiza Santiago

Os mais de 35 anos de uma carreira bem-sucedida poderiam levar Cláudia Abreu a preferir navegar por rotas já conhecidas, evitando manobras ousadas. Mas acomodação, definitivamente, é palavra que não ganha forma nos pensamentos da atriz. Em 2022, ela resolveu escrever sua primeira peça — já de cara um monólogo sobre a escritora britânica Virginia Woolf — e encenar o próprio texto. E, meses atrás, encerrou o contrato com a TV Globo para fazer seu primeiro trabalho no Prime Video, a série "Sutura".

— O mais importante para mim é ter o frescor da novidade, é poder me surpreender com desafios e surpreender o público. Todas as vezes que sentia medo de não dar certo (o monólogo "Virginia"), eu pensava: "Tudo bem, pelo menos eu vou fazer, vou me propor uma coisa diferente e não me acomodar com mais do mesmo". E sempre quis ter alguns períodos de descanso para não ficar fazendo televisão demais. É uma inquietação de fazer um pouco de tudo e ir transitando em todas as áreas. Nunca achei que, por ter um elogio aqui e ali, poderia me acomodar. Você é boa até o último trabalho, no sentido de que nada é garantido. Ninguém vai viver de um trabalho que deu certo. A vida é movimento. Nunca quis me convencer de que estava suficientemente bom porque ocupava algum espaço e tinha algum prestígio. Senão você fica estagnada, mofada, se repete — avalia a atriz.

"Virginia" ficará em cartaz no Teatro PRIO, no Jockey, na Zona Sul do Rio, até o próximo dia 26. A peça começa com a protagonista se afogando num rio, em seus últimos momentos de consciência. Então, o texto leva o espectador ao passado e narra toda a trajetória dela. Além da personagem principal, Cláudia interpreta todos as figuras que marcaram a vida da escritora: pais, irmãos, marido e amigos.

— Nunca tive vontade de fazer um monólogo. Não era uma meta, muito pelo contrário. Achava que não ia ser feliz, porque adoro contracenar com outros atores, adoro o jogo cênico, o camarim divertido. Achava que ia ser muito solitário. Mas a própria dramaturgia impôs essa condição. Entendi que não poderia colocar todas as vozes que estavam dentro da cabeça dela (ela tinha transtornos mentais) na boca de outros atores. Seria mais rico e faria mais sentido se todas essas vozes e esses personagens estivessem dentro dela. Por isso acabou sendo um monólogo. Até porque a hora da morte é a mais solitária — explica a atriz, que ainda não pensa se vai querer encenar outro monólogo: — Se tiver um bom texto, sim. Mas não estou pensando ainda. Escrever minha primeira peça e encená-la sozinha, com meu próprio dinheiro, sem patrocínio, era um risco alto que achei interessante correr a esta altura da vida. É uma liberdade imensa ser dona da minha palavra, do que quero dizer ao público. Estou sempre à procura de bons personagens. Sendo monólogo ou não, quero ir para o teatro ou qualquer outro veículo e falar o que me importa.

Já em "Sutura", a atriz viverá Dra. Mancini, cirurgiã renomada que sofre um trauma e tem tremores nas mãos. Essa condição a impede de voltar a operar. A solução encontrada é atuar como médica de criminosos. Cláudia conta o que a atraiu no projeto:

— Eu não tinha renovado outras duas vezes com a Globo justamente para ter liberdade de fazer cinema e teatro. Sempre tive liberdade grande de sair por vontade própria e voltar. Agora não foi diferente. Recebi o convite (para a série) antes de o contrato terminar e achei que seria uma excelente oportunidade. Acho que estar livre para o mercado de streaming é muito bacana. Você tem a possibilidade de trabalhar com pessoas diferentes, em lugares diferentes, de atingir outros tipos de público. É uma série médica, com uma sacada diferente. Minha personagem é maravilhosa, totalmente distinta das que já fiz. É uma cirurgiã rigorosa, por vezes abusiva, mas muito celebrada. É chamada de "a lenda" por ser uma profissional que tem uma excelência, além de uma técnica reconhecida mundialmente.

Com as atenções voltadas para peças e séries, Cláudia, de 53 anos, não faz um papel fixo em novelas desde "A lei do amor" (2016). Isso não significa, contudo, um afastamento definitivo:

— Quando começou a era das séries, foi irresistível. Foi o motivo pelo qual não voltei a fazer novelas. Mas eu acho muito bacana. Falo com o público da TV aberta, que me acompanhou a vida inteira e que e sente falta, cobra. Muita gente não pode pagar por uma TV fechada ou um serviço de streaming. Se puder fazer, vou fazer. É importante não abandonar esse público, tenho muito carinho por ele.

Além da necessidade de experimentar novos prazeres, a atriz conta que também precisava dos hiatos na televisão para aproveitar o tempo com os filhos. Ela é mãe de Maria, de 22 anos, de Felipa, de 16, de José, de 13, e de Pedro, de 12, frutos do relacionamento com o ex-marido, o diretor José Henrique Fonseca. A mais velha, inclusive, está dando os primeiros passos na carreira de Cláudia: vai fazer sua estreia como atriz na próxima temporada de "Rensga hits!":

— Fico absolutamente apaixonada pelo fato de ela seguir seu sonho. Desde criança, tocava violão e compunha. É muito bonito ver isso, a pessoa realizar um sonho tão antigo. Ela gostou da participação em "Rensga hits!", acho que vai seguir o caminho dela. E eu fico aqui dando suporte e aplaudindo.

Antes de Cláudia criar um perfil no Instagram, era no perfil de Maria que o público conseguia ter acesso a algum recorte da vida pessoal da atriz. Discreta em relação à sua intimidade, ela dá entrevistas raramente, algo que mudou nos últimos meses:

— A necessidade da entrevista é porque quero divulgar o teatro. Se pudesse, não daria entrevista alguma. Por mim, ficaria quieta em casa, cuidando dos meus filhos, lendo meus livros, vendo filmes... Meu ideal de vida é ficar quieta no meu canto. Mas você precisa divulgar seus trabalhos, o teatro ainda por cima requer uma divulgação a maior. Tinha muito desejo que a peça fosse vista. É um trabalho muito importante, que me obrigou a sair da toca. Em entrevista, você fala de trabalho e começa a entrar na vida pessoal. Nunca gostei de fazer análise em público. Gosto de guardar a vida para mim. Não tenho trauma algum (de entrevista). O problema é que gosto de me preservar. Quando você vê estão sabendo da sua vida em detalhes. Não quero isso. Já me exponho tanto na minha profissão. E falo isso na maior delicadeza, sem nenhum traço de nada que possa parecer antipático.

Em sua conta, Cláudia procura tratar de seus projetos e dar dicas de arte para os fãs. Num mundo em que reina a superexposição e o número de seguidores chega a ser critério para seleção de atores, ela analisa:

— Acho que vai ser sempre vai ter um bom papel para uma boa atriz, independentemente de ter rede social bombada ou não. Por isso, resisti muito tempo a ter rede social, só tenho Instagram. Descobri que, dessa maneira, poderia pertencer ao meu tempo, não negar uma ferramenta do meu tempo, mas usando da maneira que me é confortável, sem me violentar para algum benefício. Uso para dar opinião sobre alguma coisa relevante e para divulgar meu trabalho. É um bom instrumento para se comunicar sem nenhum filtro com o público. Acho que, apesar de escalarem por causa de seguidores ou haver uma oferta maior de papéis para mais jovens, não me incomodo com isso. Acho que realmente vai ter papel legal para uma boa atriz. E, se não tiver, você pode criar oportunidade. Não problematizo muito isso, não.

Cláudia Abreu com a filha Maria — Foto: Reprodução/Instagram
Cláudia Abreu com a filha Maria — Foto: Reprodução/Instagram
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