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Por Anna Luiza Santiago

Onze anos depois de lançar seu primeiro disco de estúdio, "Monomania", Clarice Falcão está em turnê com "Truque", álbum lançado em 2023. Depois da estreia em São Paulo, o show chega ao Rio neste sábado (11), às 20h, no Teatro Claro Mais. Ela dá mais detalhes sobre o processo criativo da obra e o que ela representa neste momento da carreira:

— Acho que o próprio nome do disco já diz tudo. Quando você vai para um show de mágica, você sabe que aquilo não é mágica de verdade, um bruxo fazendo coisas... Mas durante aquele minuto, você se deixa acreditar, aproveita o momento sabendo que é um truque. É uma narrativa de se desiludir e se iludir de novo.

Aos 34 anos, Clarice percebe que as referências sonoras e narrativas em suas músicas já não são mais as mesmas do início da carreira. Ela conta que o processo de escrita dos álbuns funciona como uma espécie de terapia.

— As minhas músicas são muito pessoais, e a minha visão sobre o amor mudou à medida que eu fui amadurecendo. É olhar para o meu passado de uma outra forma, pensar em momentos que eu me apaixonei e achei que era uma coisa, mas hoje vejo que era outra coisa diferente. Tudo que eu faço é bem pessoal. Falo de coisas que eu vivi e senti em algum momento. Mas também tem muita observação, ouvir histórias dos outros e pegar alguma coisa.

Um dos assuntos que Clarice aborda em seus trabalhos é a saúde mental. Ela conta que, inicialmente, recebeu um diagnóstico de depressão, mas durante o acompanhamento psiquiátrico descobriu que, na verdade, se tratava de transtorno bipolar.

— O diagnóstico me ajudou muito a me organizar e a me entender. Eu achava que eu era doida, errada, esquisita, então isso me ajudou a botar para fora e me sentir aliviada. Foi muito terapêutico. A arte sempre me fez sentir menos sozinha, esquisita e solitária. Quando eu faço uma música sobre ansiedade e uma pessoa escuta e fala que se sente assim também, primeiramente é um alívio. Mas também dá uma esperança, uma identificação, uma vontade de procurar ajuda e tentar entender mais sobre isso e querer melhorar. Para a saúde mental, a solidão é muito perigosa.

Clarice também aborda em seus trabalhos outros temas que a atravessam. Em 2015, ela gravou um clipe da música "Survivor", da banda Destiny's Child, e o trabalho foi considerado uma obra feminista. A cantora conta que não tinha pretensão de fazer um manifesto, apenas deu vazão ao que sentia naquele momento.

— Não acho que o artista tenha a obrigação de levantar bandeiras. O meu principal filtro é saber se está sendo orgânico, espontâneo. Fiz esse cover porque era uma música que eu gostava e falava sobre sobreviver a relacionamentos. Chamei mulheres incríveis, coloquei elas de batom e falei para fazerem o que quisessem. Pensei que podia emocionar as pessoas de alguma forma, mas não era uma tese de mestrado sobre feminismo. Eu não sou acadêmica. Dentro do feminismo sou bem privilegiada, mas não acho que eu seja a melhor pessoa para falar sobre isso de uma forma séria. Eu sou feminista, e falo sobre isso quando surge de uma forma orgânica dentro do meu trabalho.

Com o amadurecimento, ela também mudou a sua relação com as redes sociais. Em 2018, no dia em que Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil, ela escreveu: "A gente vai ser a oposição mais afrontosa que esse país já viu". A frase repercutiu bastante nas redes na época, e depois passou a ser utilizada como um meme. Ela reflete sobre a exposição nas redes:

— No dia seguinte eu fiquei morrendo de vergonha e apaguei. Realmente foi cafonérrimo, mas quem nunca tuitou bêbado? (risos). Eu aprendi a achar divertido. Eu estava muito emocionada e chateada, foi um dia complicado, então hoje eu tento tratar isso com mais leveza. No começo da minha carreira, eu ficava com medo de me expor, mas depois fui percebendo que gosto de ter uma relação mais horizontal com as pessoas que gostam do meu trabalho. Não quero ficar em um lugar de diva inacessível, de perfeita. Acho que a vulnerabilidade faz parte do tipo de arte que eu faço e gosto de fazer.

Clarice avalia que parte dos mais de 1,5 milhão de seguidores que ela acumula nas redes pode ter chegado por conta do trabalho no "Porta dos Fundos". Atualmente, ela se interessa mais pelo público que a acompanha por seus trabalhos mais autorais.

— Acho que tem de tudo. Existe uma parte do público que ainda fala "ah, você é a menina do Porta", mas faz mais de 10 anos que eu não estou mais lá. Acho que eu criei um grupo de pessoas que gostam do meu trabalho. Tem gente que me conheceu pelo "Porta", passou a gostar do meu jeito, se identificar comigo e me acompanhar, então para mim é maravilhoso. Eu prefiro ter menos pessoas consumindo o que eu faço, mas que são pessoas que se identificam comigo. No começo, iam ao meu show achando que era stand up comedy, então para mim hoje é uma delícia fazer um show e ver todo mundo cantando as letras, mesmo que seja em um lugar um pouco menor.

No ano passado, ela escreveu e produziu a série "Eleita", do Prime Video, em que interpreta uma influencer que acaba eleita governadora:

— Eu amo escrever, criar e atuar. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, mas gosto de fazer coisas diferentes, acho que o que aprendo em um lugar posso usar em outro. A minha forma de me comunicar é através do humor, desde sempre, fui criada com muito humor dentro de casa, meus pais são muito engraçados. Minha mãe tem uma história de vida muito difícil, mas ela sempre conseguiu conviver muito bem com isso, e é até uma forma de conforto ressignificar as coisas que aconteceram com ela. Eu terminei me rodeando de pessoas que eu acho engraçadas e têm o mesmo senso de humor que o meu. É uma coisa que vem naturalmente, é a minha lente de ver o mundo.

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