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AGU pede para entregar somente trechos do vídeo de reunião com Moro e Bolsonaro; ex-ministro rebate argumento

Advocacia-Geral da União enviou novo pedido para ministro Celso de Mello sobre o assunto
Moro e Bolsonaro conversam durante cerimômia em agosto de 2019, em Brasília Foto: Evaristo Sá / AFP
Moro e Bolsonaro conversam durante cerimômia em agosto de 2019, em Brasília Foto: Evaristo Sá / AFP

BRASÍLIA — Um dia após ter pedido reconsideração para entregar o vídeo de uma reunião ministerial que teve um embate entre o então ministro da Justiça Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro sobre interferências na Polícia Federal , a Advocacia-Geral da União ( AGU ) enviou novo pedido ao ministro Celso de Mello , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), desta vez solicitando autorização para entregar somente trechos do referido vídeo que contenham os assuntos de interesse do inquérito —ou seja, que mostre uma discussão entre Moro e Bolsonaro sobre a PF.

Na peça, de apenas uma página, o advogado-geral da União José Levi pede ao ministro que "seja também avaliada a possibilidade de reconsiderar a ordem de entrega de cópia de eventuais registros audiovisuais de reunião presidencial ocorrida no dia 22 de abril de 2020, para que se restrinja apenas e tão-somente a eventuais elementos que sejam objeto do presente inquérito".

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Em decisão proferida anteontem à noite, Celso de Mello havia determinado um prazo de 72 horas para que o Palácio do Planalto entregasse o vídeo , a partir do momento da intimação. Esse prazo deve vencer, então, apenas na segunda-feira.

A ordem, feita após pedido do procurador-geral da República Augusto Aras, provocou constrangimento no Palácio do Planalto. Ontem a AGU alertou ao STF que, na referida reunião, "foram tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de Relações Exteriores, entre outros".

Como O GLOBO revelou no último domingo, o vídeo foi citado no depoimento do ex-ministro Sergio Moro como uma das provas materiais de interferência de Bolsonaro na PF. Segundo Moro, Bolsonaro afirmou na referida reunião que desejaria trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro e, caso não pudesse fazer isso, ameaçou demitir o então diretor-geral da PF Maurício Valeixo ou o próprio Moro. O inquérito apura se houve interferências indevidas de Bolsonaro na PF e se essas interferências caracterizariam crimes como obstrução de Justiça e advocacia administrativa.

Nesta semana, o novo diretor-geral nomeado por Bolsonaro para comandar a PF, Rolando Alexandre de Souza, trocou o comando da Superintendência da PF do Rio. Foi uma das primeiras medidas dele na direção-geral da corporação.

Moro rebate

Após os pedidos, a defesa do ex-ministro Sergio Moro apresentou manifestação rebatendo a AGU e dizendo que o órgão não pode se recusar a fornecer o vídeo.

Na peça, a defesa afirma que o argumento de que foram tratados assuntos de Estado "não é suficiente para que o registro do encontro possa ser colocado integralmente a salvo do exame judicial e policial a ser realizado nesta investigação". Diz também que não cabe ao investigado selecionar os trechos a serem entregues à Justiça.

"Destacar trechos que são ou não importantes para a investigação é tarefa que não pode ficar a cargo exclusivo do investigado, mormente porque tal expediente não garante a integridade do elemento de prova fornecido", afirma a peça, assinada pelo advogado Rodrigo Rios, que representa Sergio Moro no inquérito.