Política Brasília

Ao lado de diretor da Anvisa, Bolsonaro descumpre protocolos contra coronavírus

Segundo recomendações do Ministério da Saúde, presidente deveria ficar em isolamento; especialistas criticam postura
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta manifestantes durante o ato em Brasília Foto: Sergio Lima / AFP
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta manifestantes durante o ato em Brasília Foto: Sergio Lima / AFP

BRASÍLIA — Descumprindo orientações médicas, o presidente Jair Bolsonaro rompeu diversos protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde para prevenir a disseminação do novo coronavírus . Após desaconselhar, em rede nacional, a ida aos protestos deste domingo, ao lado do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, Bolsonaro cumprimentou apoiadores , encostou a cabeça nos manifestantes na hora de tirar selfies e pegou diversos celulares para fazer, ele mesmo, imagens.

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De acordo com a recomendações sanitárias Bolsonaro deveria ficar em isolamento durante 14 dias, após se submeter a dois exames para testar uma possível contaminação pelo novo coronavírus, uma vez que membros da comitiva presidencial já tiveram diagnóstico de Covid-19. Atualmente, segundo o portal do Ministério da Saúde, o Brasil tem 1.496 casos suspeitos da doença e 121 casos confirmados. Já o Distrito Federal tem 158 casos em análise e 14 confirmados.

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Neste domingo, o presidente saiu em comboio do Palácio Alvorada para o Planalto. No caminho, passou pela esplanada dos ministérios e foi saudado por manifestantes. Quando chegou ao Planalto, inicialmente, Bolsonaro ficou no topo da rampa e apenas acenou para os apoiadores, mas depois resolveu se aproximar do público. Já no pé da rampa, o presidente cumprimentou o chefe da Anvisa com o cotovelo, mas depois foi afrouxando os protocolos e passou a falar com apoiadores a uma distância curta, pegar seus celulares, e outras interações mais próximas. O presidente também levou as mãos ao rosto, o que é desaconselhado pelo Ministério da Saúde.

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Especialistas criticam

A postura do presidente foi criticada por especialistas. Segundo o infectologista Renato Kfouri, o que o Bolsonaro fez neste domingo pode passar um recado negativo para a população em termos de prevenção.

— Ele não está doente, o teste dele deu negativo, mas ele deve seguir a recomendação de qualquer brasileiro que é evitar aglomeração. Não é um bom exemplo. Sabemos que ele não tem o vírus, mas o resto das pessoas não, por isso estamos insistindo em evitar aglomerações. O exemplo poderia vir dele. É hora de todos termos um discurso mais coerente, especialmente as autoridades. As autoridades públicas têm que ser um exemplo para a população. Não vejo com bons olhos nenhum tipo de manifestação pública nesse momento, ainda mais vinda de autoridades — afirmou Kfouri.

Atos contra o congresso

Na última quinta-feira, durante pronunciamento em rede nacional, o presidente afirmou que era necessário preservar a saúde de todos. Na ocasião, Bolsonaro mencionou a recomendação de evitar aglomerações.

— Há também a recomendação das autoridades sanitárias para que evitemos grandes concentrações populares. Queremos um povo atuante e zeloso com a coisa pública, mas jamais podemos colocar em risco a saúde da nossa gente. Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem aos interesses da nação. Balizados pela lei e pela ordem, demonstram o amadurecimento da nossa democracia presidencialista, e são expressões evidentes de nossa liberdade. Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes ser repensados. Nossa saúde e de nossos familiares devem ser preservadas. O momento é de união, serenidade e bom senso — disse o presidente na ocasião.

Neste domingo, em saudação a Bolsonaro, centenas de pessoa gritavam "desculpa, presidente, mas eu vim", em referência à fala. Mas o próprio presidente decidiu deixar de lado suas recomendações e recebeu presentes, segurou faixas dadas pelos manifestantes e chegou a colocar o boné de um dos populares para tirar uma foto.

Orientações

O Ministério da Saúde aconselha evitar aglomerações e manter uma distância de 1,5 metros de pessoas que estejam espirrando ou tossindo. Além disso, o órgão indica que as pessoas evitem contatos mais próximos como abraços, beijos e encostar o rosto em outras pessoas. Pessoas que tiveram contato com infectados também devem cumprir isolamento para evitar a disseminação do vírus.

Nesta sexta-feira, o governo do Distrito Federal suspendeu por15 dias eventos com público superior a 100 pessoas, além de fechar cinemas e teatros. As aulas da educação básica e do ensino superior também foram suspensas pelo mesmo período. No protesto, diversos apoiadores usavam máscaras com as cores do Brasil para se proteger contra o vírus.

No tumulto diante da grade do Palácio do Planalto, os apoiadores do presidente gritavam palavras de ordem aglomerados entre si. Muitos decidiram, inclusive, baixar as máscaras. Sob um sol escaldante na Esplanada dos Ministérios, uma ambulante vendia sacolés de fruta para os manifestante. Embora as vendas não estivessem explodindo, a trabalhadora afirmou, no entanto, que o coronavírus não conseguiu afastar todos os clientes.

O GLOBO questionou a Anvisa sobre o descumprimento dos protocolos, mas o órgão respondeu apenas que o diretor-presidente, Antônio Barra, recebeu um convite do presidente Bolsonaro para ir ao Planalto para uma conversa informal. Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência informou que não irá comentar.