RIO - A aproximação entre o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e o PSL , antigo partido do presidente Jair Bolsonaro , encontrou resistência na cúpula do PSC, legenda comandada pelo pastor Everaldo Pereira. Segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim, Witzel planeja uma fusão entre as duas siglas, o que lhe garantiria tempo de TV e a fatia do fundo eleitoral da legenda abandonada por Bolsonaro. Lideranças do PSL, embora não confirmem a ideia de fusão, admitem o desejo de contar com o governador no partido, de olho em um nome que possa disputar a Presidência da República em 2022.
Após o racha com Bolsonaro, em outubro do ano passado, Witzel intensificou as conversas com o PSL, que elegeu a segunda maior bancada de deputados federais nas últimas eleições, com 53 parlamentares. No PSC, que conta com nove deputados, Witzel se cacifou como principal aposta do partido no plano nacional, a ponto de ser apontado presidente de honra da sigla. Pastor Everaldo descartou a possibilidade de unir as duas legendas.
— Não estou sabendo de nada nesse sentido. O estatuto do PSC não permite fusão — declarou Everaldo, que está em viagem de férias pelos Estados Unidos.
Witzel no radar do PSL
O estatuto do PSC em vigor e registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevê, no entanto, a possibilidade de fusão ou incorporação de outras legendas, desde que aprovada por dois terços dos membros em convenção nacional.
Procurado por meio da assessoria de imprensa, o PSC confirmou que o estatuto permite fusão, mas informou que “inexiste qualquer tratativa nesse sentido” com o PSL “ou qualquer outro partido”.
Em novembro, Witzel recebeu no Palácio Guanabara integrantes da Executiva Nacional do PSL e conversou sobre as eleições presidenciais de 2022. O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), um dos integrantes do grupo, afirmou que o governador do Rio segue no radar da sigla.
— Hoje temos um namoro (com Witzel), nada oficial — disse Bozzella.
Em novo gesto de proximidade com atores nacionais, Witzel recebeu deputados de diferentes partidos no camarote do governo do estado na Marquês de Sapucaí durante o carnaval. No grupo estava o ex-líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), destituído após queda de braço com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.
Waldir, que definiu Witzel como um “articulador respeitado”, disse ter conversado rapidamente com o governador entre os desfiles das escolas de samba do Rio. Ambos se comprometeram a marcar uma conversa futura para debater, entre outros assuntos, uma eventual migração de Witzel para o PSL. Delegado Waldir destacou ainda que o partido estaria de braços abertos também para uma possível filiação do governador paulista, João Doria, outro pré-candidadato à sucessão de Bolsonaro no Planalto.
— O PSL deseja ter uma liderança para disputar as eleições de 2022. Estamos de braços abertos para uma pessoa preparada como Witzel, assim como o (governador de São Paulo, João) Doria (PSDB), também seria muito bem-vindo — afirmou Waldir.
Além da resistência no PSC, a ideia de fusão também é vista com reservas dentro do PSL. Lideranças do partido avaliam que a ideia seria mais atrativa para outras legendas, pelo acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV, do que para o próprio PSL. No PSC, por outro lado, a reconfiguração do poder partidário em caso de incorporação ao PSL é vista como empecilho.
— O que o PSL busca é um nome, para não perder a estrutura que ganhou após as eleições de 2018. Os partidos nunca conversaram de forma concreta sobre fusão. Eles teriam que decidir antes quem comandaria o quê — avaliou um aliado do governador do Rio.