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Política Wilson Witzel

Aproximação entre PSL e Witzel causa mal-estar na cúpula do PSC

Presidente da sigla, Pastor Everaldo diz que fusão descumpriria estatuto. Governador do Rio mantém conversas com deputados
Articulações. Witzel ao lado do Rei Momo na Marquês de Sapucaí: governador recebeu liderança políticas na passarela Foto: Rogerio Santana / Governo do Rio
Articulações. Witzel ao lado do Rei Momo na Marquês de Sapucaí: governador recebeu liderança políticas na passarela Foto: Rogerio Santana / Governo do Rio

RIO - A aproximação entre o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e o PSL , antigo partido do presidente Jair Bolsonaro , encontrou resistência na cúpula do PSC, legenda comandada pelo pastor Everaldo Pereira. Segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim, Witzel planeja uma fusão entre as duas siglas, o que lhe garantiria tempo de TV e a fatia do fundo eleitoral da legenda abandonada por Bolsonaro. Lideranças do PSL, embora não confirmem a ideia de fusão, admitem o desejo de contar com o governador no partido, de olho em um nome que possa disputar a Presidência da República em 2022.

Após o racha com Bolsonaro, em outubro do ano passado, Witzel intensificou as conversas com o PSL, que elegeu a segunda maior bancada de deputados federais nas últimas eleições, com 53 parlamentares. No PSC, que conta com nove deputados, Witzel se cacifou como principal aposta do partido no plano nacional, a ponto de ser apontado presidente de honra da sigla. Pastor Everaldo descartou a possibilidade de unir as duas legendas.

— Não estou sabendo de nada nesse sentido. O estatuto do PSC não permite fusão — declarou Everaldo, que está em viagem de férias pelos Estados Unidos.

Witzel no radar do PSL

O estatuto do PSC em vigor e registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevê, no entanto, a possibilidade de fusão ou incorporação de outras legendas, desde que aprovada por dois terços dos membros em convenção nacional.

Procurado por meio da assessoria de imprensa, o PSC confirmou que o estatuto permite fusão, mas informou que “inexiste qualquer tratativa nesse sentido” com o PSL “ou qualquer outro partido”.

Em novembro, Witzel recebeu no Palácio Guanabara integrantes da Executiva Nacional do PSL e conversou sobre as eleições presidenciais de 2022. O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), um dos integrantes do grupo, afirmou que o governador do Rio segue no radar da sigla.

— Hoje temos um namoro (com Witzel), nada oficial — disse Bozzella.

Em novo gesto de proximidade com atores nacionais, Witzel recebeu deputados de diferentes partidos no camarote do governo do estado na Marquês de Sapucaí durante o carnaval. No grupo estava o ex-líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), destituído após queda de braço com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

Waldir, que definiu Witzel como um “articulador respeitado”, disse ter conversado rapidamente com o governador entre os desfiles das escolas de samba do Rio. Ambos se comprometeram a marcar uma conversa futura para debater, entre outros assuntos, uma eventual migração de Witzel para o PSL. Delegado Waldir destacou ainda que o partido estaria de braços abertos também para uma possível filiação do governador paulista, João Doria, outro pré-candidadato à sucessão de Bolsonaro no Planalto.

— O PSL deseja ter uma liderança para disputar as eleições de 2022. Estamos de braços abertos para uma pessoa preparada como Witzel, assim como o (governador de São Paulo, João) Doria (PSDB), também seria muito bem-vindo — afirmou Waldir.

Além da resistência no PSC, a ideia de fusão também é vista com reservas dentro do PSL. Lideranças do partido avaliam que a ideia seria mais atrativa para outras legendas, pelo acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV, do que para o próprio PSL. No PSC, por outro lado, a reconfiguração do poder partidário em caso de incorporação ao PSL é vista como empecilho.

— O que o PSL busca é um nome, para não perder a estrutura que ganhou após as eleições de 2018. Os partidos nunca conversaram de forma concreta sobre fusão. Eles teriam que decidir antes quem comandaria o quê — avaliou um aliado do governador do Rio.