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Política Bolsonaro

Base bolsonarista nas redes se reorganiza após saída de Moro do governo

Apoiadores do presidente têm atuação semelhante à verificada antes da crise com ex-ministro
Bolsonaro e Moro em cerimônia no Palácio do Planalto Marenco Foto: Daniel Marenco / 28-08-2019
Bolsonaro e Moro em cerimônia no Palácio do Planalto Marenco Foto: Daniel Marenco / 28-08-2019

SÃO PAULO — Após um abalo inicial verificado logo após a notícia da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública , a base de apoio bolsonarista nas redes sociais voltou a se reagrupar na última semana e mostrou um patamar de atuação semelhante ao verificado antes da crise provocada pelo baixa do ministro mais popular do governo federal. A constatação foi a mesma em diferentes levantamentos feitos por empresas de consultoria e professores universitários especializados em analisar o debate político na internet.

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Coordenador do Laboratório de Estudos e Imagem de Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fábio Malini identificou que a base de Bolsonaro no Twitter hoje é maior do que na época que tiveram início os panelaços contra o presidente, em 17 de março. As mensagens de apoio representaram nesta semana 25% do total de citações, contra 18% em março.

Malini contabilizou 2,7 milhões de postagens entre domingo e quarta-feira que citavam o presidente de forma positiva, negativa ou neutra com as expressões “Bolsonaro”, “Jair Bolsonaro”, “ E daí? ”, “bonoro” e biroliro”. A terceira expressão faz menção à frase do presidente dita na terça-feira quando questionado sobre o Brasil ter ultrapassado a marca de 5 mil mortos em razão do coronavírus.

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Para o professor, houve articulação clara para defender o presidente no embate com Moro, que chegou a ser mencionado 382 mil vezes, e para debelar a construção de um discurso pelo impeachment, mencionado 143 mil vezes. Malini constatou um discurso personalista em favor do presidente, que ficou claro nas hasthags #fechadocombolsonaro e #bolsonarotemrazao, além de um abandono da defesa das políticas de governo que vinham dominando as redes bolsonaristas até então, como as críticas ao isolamento social e a propaganda da aplicação da cloroquina em pacientes com coronavírus .

— Houve a divisão entre bolsonarismo e lavajatismo. Mas o bolsonarismo tem uma base de engajamento muito maior. De uma maneira muito aguerrida, defendeu a imagem do presidente. A rede do presidente está resiliente na internet. Apesar de representarem um minoria de 25%, é bastante ruidosa, articula hashtag e narrativa — disse Malini.

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Chamaram atenção no levantamento os perfis que fizeram números bastante elevados de retuítes (republicações de uma publicação no Twitter). O artifício é usado para colocar um determinado tema em evidência nas discussões na plataforma. O perfil Bolsonaro Bot (@bolsonarort) foi o campeão, com 7.853 republicações no período. “A cada tweet sobre o Bolsonaro dou RT”, diz a descrição da conta, que segue apenas uma pessoa na rede social. É o que Malini classifica como um robô declarado. Em segundo e terceiro lugar, aparecem perfis semelhantes, mas críticos ao presidente.

Pedro Bruzzi, diretor da consultoria Arquimedes, afirma ter verificado a utilização de uma atuação típica de campanha eleitoral pelos apoiadores do presidente para reverter o quadro após a saída de Moro.

— Há muita articulação. A gente viu quase todos os principais influenciadores da rede bolsonarista atuando em conjunto na mesma hashtag — afirma.

A articulação se refletiu na melhora do humor em relação ao governo medido pela Arquimedes. No dia da saída de Moro, de todas menções feitas no Twitter apenas 38% foram positivas. No dia seguinte, o índice já foi a 46% e chegou a 54% no domingo. Só voltou a cair para 47% na quarta-feira, após Bolsonaro menosprezar as mortes por coronavírus na noite de terça.

Reagrupamento

No dia da saída de Moro , a Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV) tinha identificado a redução e o isolamento dos apoiadores do presidente no Twitter. Análise de 2,85 milhões de postagens sobre o tema realizada entre 11h e 18h naquela data indicou que a base fiel ao presidente havia mobilizado apenas 9,5% das publicações.

O professor David Nemer, da Universidade da Virgínia, que monitora 68 grupos bolsonaristas no Whatsapp, chegou a uma constatação semelhante.

— Primeiro, os grupos levam um choque com a demissão. Começam a entrar em dúvida e a questionar Bolsonaro. Frente ao questionamento, os integrantes, inclusive administradores de grupos, enviam conteúdos sobre o PT, Lula e notícias falsas pró-Bolsonaro. Depois disso vemos uma união e apoio unânime nos grupos, que já começam a planejar protestos e próximo ataque virtual — observou.