BRASÍLIA — A participação do presidente Jair Bolsonaro em um ato em Brasília convocado contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), em meio ao aumento de casos de coronavírus no país, foi criticada neste domingo pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Maia afirmou que Bolsonaro comete um “atentado à saúde pública” e que contraria as orientações do seu próprio governo. Já Alcolumbre classificou a atitude como "inconsequente".
"O presidente da República ignora e desautoriza o seu ministro da Saúde e os técnicos do ministério, fazendo pouco caso da pandemia e encorajando as pessoas a sair às ruas. Isso é um atentado à saúde pública que contraria as orientações do seu próprio governo", disse Maia, em texto publicado em seu perfil no Twitter.
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Contrariando as recomendações médicas de isolamento devido ao contato com pessoas diagnosticadas com coronavírus, Bolsonaro aproveitou a manifestação pró-governo deste domingo para fazer um palanque no Palácio do Planalto e puxar o ato para o local, onde ficou por quase duas horas cumprimentando manifestantes e tirando fotos.
Bolsonaro transmitiu ao vivo em suas redes sociais a participação na manifestação, que lhe causou desgaste político nas últimas semanas por ter sido convocada como um protesto contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). A tônica das faixas e das palavras de ordem na manifestação de fato eram críticas ao presidente da Câmara e do Senado e aos ministros do Supremo, além de uma defesa enfática do governo.
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No Twitter, Maia afirmou que a economia brasileira deverá sofrer as consequências da desaceleração da economia mundial. E, em tom crítico, afirmou que em vez de Bolsonaro criar um gabinete de crise para dar respostas à população, ele “está mais preocupado em assistir as manifestações que atentam contra as instituições”.
— O presidente da República deveria estar no palácio coordenando um gabinete de crise para dar respostas e soluções para o país. Mas, pelo visto, ele está mais preocupado em assistir as manifestações que atentam contra as instituições e a saúde da população — postou Maia.
Ao final da publicação, Maia pede “serenidade, racionalidade, união de esforços e respeito”:
— A situação é preocupante e exige de todos nós serenidade, racionalidade, união de esforços e respeito. Somos maduros o suficiente para agir com o bom senso que o momento pede.
'Inconsequente', diz Alcolumbre
Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, considerou ser “inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas” e afirmou que “convidar para ato contra os Poderes é confrontar a democracia”.
Em nota à imprensa, Davi Alcolumbre pediu maturidade. “É hora de amadurecermos como Nação. Com a pandemia do coronavírus fechando as fronteiras dos países e assustando o mundo, é inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas”, escreveu.
“Convidar para ato contra os Poderes é confrontar a Democracia. É tempo de trabalharmos iniciativas políticas que, de fato, promovam o reaquecimento da economia, criem ambiente competitivo para o setor privado e, sobretudo, gerem bem-estar, emprego e renda para os brasileiros”, afirmou Alcolumbre.
O presidente do Senado também criticou o fato de Bolsonaro ter abandonado o isolamento que devia cumprir por ter viajado ao exterior. “A gravidade da pandemia exige de todos os brasileiros, e inclusive do presidente da República, responsabilidade! Todos nós devemos seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde”.
'Exemplo vem de cima'
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), também comentou a postura do presidente de romper com os protocolos do Ministério da Saúde em relação ao coronavírus e sair do isolamento.
— Mostrou que o presidente não tem medo do coronavírus — avaliou, acrescentando uma crítica:
— Não se pode jamais esquecer que o exemplo vem de cima.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), também criticou o presidente por sua participação no ato por meio de uma nota.
“Conduta imprópria e inoportuna. Nós estamos reunidos aqui para tomar decisões para proteger a vida das pessoas. E o presidente Bolsonaro está mais preocupado com a sua vida política”, afirmou Doria no texto, acrescentando: “Eu procuro pensar em todos. O presidente pensa nele”.