Bolsonaro demite ministro da Defesa e inicia reforma ministerial

Em nota, Fernando Azevedo e Silva disse que 'sai na certeza da missão cumprida'; ele não explicou o motivo de sua saída
Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo Foto: Marcos Corrêa/PR

BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi demitido do cargo nesta segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, dando início a uma reforma ministerial no governo. Em nota, Azevedo e Silva disse que sai "na certeza da missão cumprida", sem explicar o motivo da demissão. Ele também destacou que preservou as Forças Armadas como instituição de Estado em sua gestão. O Palácio do Planalto ainda não se manifestou oficialmente.

Lauro Jardim : Por que o ministro da Defesa foi demitido

"Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", afirmou no texto.

"O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira. Saio na certeza da missão cumprida", acrescentou. 

Alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Salles, alvo de investigações da Polícia Federal no dia 23 de junho, pediu demissão do cargo, apesar do respaldo do Palácio do Planalto. Ele alegou problemas familiares Foto: SERGIO LIMA / AFP
Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entregou o cargo, através de nota, sem explicar o motivo da demissão Foto: RONALD GRANT
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo no dia 29 de março, após virar alvo do Centrão por causa da má gestão do governo no combate à pandemia. Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Depois de quase um ano à frente do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello entregou o cargo sendo questionado sobre desempenho no combate da Covid-19 Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/15-03-2021
Após 14 meses Abraham Weintraub deixou o Ministério da Educação sendo investigado por ter dito que, por ele, "botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". A declaração foi feita durante reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado pela Justiça Foto: Jorge William / Agência O Globo - 10/10/2019
Ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração dia 15 de maio de 2020, depois do presidente mudar protocolo de atendimento de pacientes da Covid-19: Bolsonaro defende que todos pacientes sejam tratados com a cloroquina desde o começo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 11/05/2020
Em uma de suas últimas entrevistas, Mandetta reconheceu que havia um "descompasso" entre o trabalho na pasta e a linha de ação defendida por Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino / REUTERS 15/04/2020
Moro deixou o Ministério da Justiça acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal Foto: Adriano Machado / Reuters - 18/12/2019
Terceiro a comandar a pasta da Educação, o professor Carlos Decotelli ficou menos de uma semana no cargo e pediu demissão no dia 30 de junho. A saída se deu após repercussão de informações falsas incluídas em seu currículo e a acusação de plágio em sua dissertação de mestrado Foto: MARCOS CORREA / AFP - 25/06/2020
Regina Duarte, secretária especial de Cultura, demitida do cargo depois de polêmicas por não homenagear artistas mortos e por defender a ditadura militar numa entrevista para a televisão. O presidente Jair Bolsonaro anunciou numa rede social, ela assumiria a Cinemateca Brasileira, em São Paulo Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
Ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, foi exonerado em fevereiro e realocado para a presidência do Dataprev Foto: Jorge William / Agência O Globo
Osmar Terra foi exonerado do Ministério da Cidadania e substituído por Onyx Lorenzoni, que por sua vez saiu da Casa Civil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Floriano Peixoto deixou o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência para ser nomeado para a presidência dos Correios. Jorge Antônio de Oliveira Francisco, major da reserva da PM do Distrito Federal, assumiu a pasta Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Bolsonaro demitiu o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, em junho de 2019, da Secretaria de Governo da Presidência da República. Ele vinha sofrendo um processo de "fritura" há pelo menos dois meses e foi alvo constante de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e da ala ideológica do governo. Foto: EVARISTO SA / AFP
Ricardo Vélez Rodríguez foi exonerado do cargo de Ministro da Educação em abril de 2019, depois de polêmicas com seus assessores. Ele terminou substituído por Abraham Weintraub Foto: Luis Fortes / MEC / Agência O Globo - 02/01/2019
Gustavo Bebianno foi presidente do PSL, partido que levou Bolsonaro à presidência, e ocupou por por pouco mais de um mês a Secretaria-Geral da Presidência da República. A demissão aconteceu depois de conflito com o fiho do presidente, Carlos Bolsonaro. Bebianno morreu devido a um ataque cardíaco em 14 de março deste ano, sem ter se reconciliado com o presidente que ajudou a eleger Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo - 03/07/2019

Segundo a colunista Malu Gaspar, Azevedo disse a interlocutores próximos que saiu do ministério da Defesa, porque não queria repetir o que viveu em maio passado . Maio de 2020 foi o mês em que bolsonaristas realizaram diversas manifestações pedindo intervenção militar e atacando o Supremo Tribunal Federal.

A demissão do ministro da Defesa ocorreu no início da tarde, no Palácio do Planalto, em uma conversa que durou cerca de cinco minutos.

A decisão teve como estopim uma entrevista concedida ontem pelo general Paulo Sérgio, chefe do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, ao jornal Correio Braziliense. À publicação, o militar disse que o Exército já se preparava para a terceira onda da pandemia da covid-19. 

Segundo interlocutores do Planalto, Bolsonaro, que tenta conter o desgaste no pior momento da crise sanitária, não gostou da declaração e pediu uma punição para o general Paulo Sérgio cargo. O comandante do Exército, Edson Leal Pujol, resistiu e teve o apoio de Azevedo. 

Saiba quem saiu: Com demissão de Ernesto e Azevedo, Bolsonaro já mexeu em mais da metade dos ministérios em dois anos de mandato

Não foi a primeira vez que o ministro da Defesa atuou para blindar Pujol, que enfatiza frequentemente não concordar com a contaminação política da Força. Como adiantou a colunista Bela Megale, militares aguardam a saída de Pujol do comando do Exército, que se reuniu com os chefes da Marinha e da Aeronáutica após a saída de Azevedo e Silva para tratar do assunto.

A aliados, o ministro da Defesa disse que já vinha notando uma insatisfação de Bolsonaro com sua atuação há algum tempo, principalmente por ele evitar acenos políticos. Além disso, Azevedo e Silva relatou que as questões do presidente da República com Pujol "rondavam" a sua atuação e que Bolsonaro se incomodava por ele ter um perfil diferente do antecessor, Eduardo Villas Bôas.

A saída do ministro da Defesa foi vista como inesperada por integrantes do governo e movimentou desde cedo o Palácio do Planalto. Na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro já avaliava como recompor o seu primeiro escalão. 

O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, está cotado para assumir a Defesa.  No lugar dele, assumiria o ministro Luiz Eduardo Ramos, que está na Secretaria de Governo. Com isso, a pasta responsável pela articulação com o Congresso seria entregue a um político. O nome mais cotado até agora é o do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

Analítico : Araújo mostra a bolsonaristas que, com o Congresso, ataque não é a melhor defesa

Azevedo e Silva deixa o cargo no mesmo dia em que o chanceler Ernesto Araújo decidiu pedir demissão . A informação foi repassada pelo próprio ministro a seus subordinados. Mais cedo, Araújo disse a Bolsonaro que não quer ser um problema ao governo, após uma série de embates com o Congresso. A expectativa é que a saída do ministro seja oficializada ainda nesta segunda-feira.

O advogado-geral da União, José Levi, também deixará o governo Jair Bolsonaro. O presidente demitiu o ministro , porque ele não assinou a ação que o Executivo ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia da Covid-19. O pedido, apresentado há dez dias, levou a assinatura apenas de Bolsonaro.