Bolsonaro troca seis ministérios para atender Congresso e aproximar Forças Armadas

Em nota, presidência confirmou mudanças, que sacramentam entrada do Centrão no Planalto
O presidente Jair Bolsonaro 26/03/2021 Foto: Marcos Correa / Divulgação

BRASÍLIA — Pressionado pelo Congresso, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta segunda-feira a sua primeira reforma ministerial após mais de dois anos de governo. De uma única vez, fez seis mudanças em alguns dos seus principais ministérios e sacramentou a entrada do Centrão no Palácio do Planalto. As alterações atingem a Secretaria de Governo, Casa Civil, Relações Exteriores, Defesa, Justiça e Advogacia-Geral da União (AGU).

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Em nota, a Presidência da República confirmou a nomeação da deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo, ministério responsável pela articulação política junto ao parlamento. Flávia é integrante do PL, comandado por Valdemar Costa Neto, um dos principais líderes do Centrão. O partido possui 40 deputados e três senadores.

Alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Salles, alvo de investigações da Polícia Federal no dia 23 de junho, pediu demissão do cargo, apesar do respaldo do Palácio do Planalto. Ele alegou problemas familiares Foto: SERGIO LIMA / AFP
Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entregou o cargo, através de nota, sem explicar o motivo da demissão Foto: RONALD GRANT
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo no dia 29 de março, após virar alvo do Centrão por causa da má gestão do governo no combate à pandemia. Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Depois de quase um ano à frente do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello entregou o cargo sendo questionado sobre desempenho no combate da Covid-19 Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/15-03-2021
Após 14 meses Abraham Weintraub deixou o Ministério da Educação sendo investigado por ter dito que, por ele, "botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". A declaração foi feita durante reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado pela Justiça Foto: Jorge William / Agência O Globo - 10/10/2019
Ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração dia 15 de maio de 2020, depois do presidente mudar protocolo de atendimento de pacientes da Covid-19: Bolsonaro defende que todos pacientes sejam tratados com a cloroquina desde o começo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 11/05/2020
Em uma de suas últimas entrevistas, Mandetta reconheceu que havia um "descompasso" entre o trabalho na pasta e a linha de ação defendida por Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino / REUTERS 15/04/2020
Moro deixou o Ministério da Justiça acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal Foto: Adriano Machado / Reuters - 18/12/2019
Terceiro a comandar a pasta da Educação, o professor Carlos Decotelli ficou menos de uma semana no cargo e pediu demissão no dia 30 de junho. A saída se deu após repercussão de informações falsas incluídas em seu currículo e a acusação de plágio em sua dissertação de mestrado Foto: MARCOS CORREA / AFP - 25/06/2020
Regina Duarte, secretária especial de Cultura, demitida do cargo depois de polêmicas por não homenagear artistas mortos e por defender a ditadura militar numa entrevista para a televisão. O presidente Jair Bolsonaro anunciou numa rede social, ela assumiria a Cinemateca Brasileira, em São Paulo Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
Ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, foi exonerado em fevereiro e realocado para a presidência do Dataprev Foto: Jorge William / Agência O Globo
Osmar Terra foi exonerado do Ministério da Cidadania e substituído por Onyx Lorenzoni, que por sua vez saiu da Casa Civil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Floriano Peixoto deixou o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência para ser nomeado para a presidência dos Correios. Jorge Antônio de Oliveira Francisco, major da reserva da PM do Distrito Federal, assumiu a pasta Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Bolsonaro demitiu o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, em junho de 2019, da Secretaria de Governo da Presidência da República. Ele vinha sofrendo um processo de "fritura" há pelo menos dois meses e foi alvo constante de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e da ala ideológica do governo. Foto: EVARISTO SA / AFP
Ricardo Vélez Rodríguez foi exonerado do cargo de Ministro da Educação em abril de 2019, depois de polêmicas com seus assessores. Ele terminou substituído por Abraham Weintraub Foto: Luis Fortes / MEC / Agência O Globo - 02/01/2019
Gustavo Bebianno foi presidente do PSL, partido que levou Bolsonaro à presidência, e ocupou por por pouco mais de um mês a Secretaria-Geral da Presidência da República. A demissão aconteceu depois de conflito com o fiho do presidente, Carlos Bolsonaro. Bebianno morreu devido a um ataque cardíaco em 14 de março deste ano, sem ter se reconciliado com o presidente que ajudou a eleger Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo - 03/07/2019

Como mostrou o GLOBO, Valdemar vem liderando a aproximação do partido com Bolsonaro — a sigla emplacou nomes na presidência do Banco do Nordeste e na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Flávia substitui Luiz Eduardo Ramos, que será transferido para a Casa Civil. O PL havia ficado insatisfeito com a articulação de Ramos na aprovação do Orçamento de 2021 e ameaçou obstruir a votação. Nos bastidores, lideranças do partido acusaram a Secretaria de Governo de privilegiar senadores na distribuição de emendas.

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Valdemar Costa Neto também expressou insatisfação a interlocutores após o Republicanos emplacar o ministro da Cidadania, João Roma. Pelo tamanho da bancada, que possui menos parlamentares, o PL se sentiu preterido.

Com a ida de Ramos para a Casa Civil, o ministro Walter Braga Netto deixa o Planalto e vai para o Ministério da Defesa, substituindo o general Fernando Azevedo e Silva, que foi demitido nesta tarde por Bolsonaro .

Além disso, o delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres assume o Ministério da Justiça e Segurança Púbica. Antes, ele estava na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Assim, André Mendonça volta para a Advocacia-Geral da União (AGU), cargo que ocupou até abril do ano passado. Mendonça substituirá José Levi, que também foi demitido nesta tarde .

Em outra troca, o embaixador Carlos Alberto Franco França assumirá o comando do Ministério de Relações Exteriores no lugar de Ernesto Araújo. O nome de França agrada parlamentares e pode ajudar a melhorar a relação com o Congresso. Nos últimos dias, as críticas de deputados e senadores à política externa do governo se intensificaram, tornando a permanência de Araújo insustentável.

Quem saiu do governo

Fernando Azevedo e Silva, Defesa

Azevedo foi demitido do cargo pelo presidente. Em nota, disse que sai "na certeza da missão cumprida", sem explicar o motivo da demissão. Ele também destacou que preservou as Forças Armadas como instituição de Estado em sua gestão . O Palácio do Planalto ainda não se manifestou oficialmente.

Segundo a colunista Malu Gaspar, Azevedo disse a interlocutores próximos que saiu do ministério da Defesa, porque não queria repetir o que viveu em maio passado . Maio de 2020 foi o mês em que bolsonaristas realizaram diversas manifestações pedindo intervenção militar e atacando o Supremo Tribunal Federal. A demissão está sendo compreendida entre os militares como uma demonstração do presidente de que "é ele quem manda" e que ele não abrirá mão de ser obedecido. Segundo um aliado muito próximo de Bolsonaro, Azevedo está saindo, porque "nunca se alinhou completamente" ao presidente da República.

Ernesto Araújo, Relações Exteriores

O chanceler decidiu pedir demissão do cargo, após sofre forte pressão do Congresso para sair. A informação foi repassada pelo próprio chanceler a seus subordinados. Segundo fontes do Planalto, Ernesto disse a Bolsonaro que não quer ser um problema ao governo .

Críticas à política externa e às estratégias adotadas por Araújo incluem a deterioração das relações com a China, principal parceira comercial do Brasil desde 2009 e agora ums dos maiores fornecedores de insumos para a produção de vacinas contra o coronavírus.

José Levi, advogado-geral da União

O presidente demitiu Levi, porque o ministro não assinou a ação que o Executivo apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia da Covid-19. O pedido, apresentado há dez dias, levou a assinatura apenas de Bolsonaro. A ausência da assinatura de José Levi na ação chamou atenção porque, em atuações recentes da AGU, a assinatura do Advogado-Geral sempre aparecia nas petições enviadas ao STF.