RIO - Entre 1997 e 2017, o Brasil registrou 715 greves de agentes da Segurança Pública , uma média de 36 paralisações por ano, como a atual que levou a uma crise de violência no Ceará . A conclusão é de um estudo recém-produzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que contabilizou movimentos realizados por 11 categorias, como Polícia Civil, Bombeiros, Polícia Federal, Guarda Municipal e agentes penitenciários.
Destas, 52 greves, ou 7% do total, foram feitas pela Polícia Militar. São as paralisações que costumam ter maior impacto no cotidiano das cidades, uma vez que cabe prioritariamente às PMs o policiamento das ruas. Policiais militares, desde 1997, interromperam o trabalho em protesto ao menos uma vez em 25 estados. As exceções são Amapá, Tocantins e São Paulo.
Embora o movimento seja proibido pela legislação, o Brasil viveu um aumento no número de casos de paralisações a partir de 2013, que registrou o recorde de 80 greves de todas as categorias pesquisadas, número repetido em 2014. Em 2015, foram 43 paralisações; em 2016, 77; e, em 2017, 49 greves. Antes disso, entre 1997 e 2012, o recorde havia sido registrado em 2011, com 42 casos.
A pesquisa foi realizada pelo sociólogo José Vicente Tavares dos Santos e por Ana Paula Rosa, do programa de pós-graduação em Segurança Cidadã, ambos da UFRGS. Com o objetivo de mapear, sistematizar e explicar as greves da Segurança Pública nos últimos 20 anos (1997-2017), eles analisaram as causas e consequências das paralisações das categorias envolvidas. Os dados utilizados foram fornecidos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Reportagens da imprensa e de entidades sindicais também foram consideradas.
Segundo os pesquisadores, as categorias que mais realizaram greves foram a Polícia Civil, com 307; agentes penitenciários, com 137 e Polícias Militares, com 52. Salários, carga horária, condições de trabalho, regime disciplinar e causas políticas são as principais motivações.
— É uma questão social. É uma luta pela por condições de trabalho, equipamentos de defesa, escala de trabalho. Há a questão dos regimentos, que são extremamente rígidos e há um descontentamento. A greve é um resultado de descontentamento e insatisfação. As polícias buscam um reconhecimento profissional que ainda não houve — diz Santos.