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Política

Brigas entre deputados e partidos no TSE crescem e somam 40 casos em 2019

Número é maior do que a soma de todos os casos do tipo nos quatro anos anteriores
Deputado Felipe Rifoni (PSB) fala sobre ação no TSE para justificar saída do partido; ao lado, Tabata Amaral (PDT), Gil Cutrim (PDT), Jeferson Campos (PSB), Flavio Nogueira (PDT), Rodrigo Coelho (PSB) e Marlon Santos Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Deputado Felipe Rifoni (PSB) fala sobre ação no TSE para justificar saída do partido; ao lado, Tabata Amaral (PDT), Gil Cutrim (PDT), Jeferson Campos (PSB), Flavio Nogueira (PDT), Rodrigo Coelho (PSB) e Marlon Santos Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO — Após um ano em que brigas internas dos partidos se tornaram públicas e notórias, o Tribunal Superior Eleitoral ( TSE ) iniciará 2020 com 40 deputados federais envolvidos em processos de fidelidade partidária — todos referentes ao ano passado, o primeiro da legislatura atual na Câmara . O número é maior do que a soma de todos os casos do tipo nos quatro anos anteriores.

Só em 2019, houve 37 pedidos de parlamentares para justificar a saída do partido pelo qual foram eleitos. Entre eles, dois grupos se destacam: aqueles que pediram a justa causa por ter proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (a ala bolsonarista do PSL, por exemplo), e os que divergiram da orientação das legendas na votação da Reforma da Previdência na Câmara (PDT e PSB). Em outros três casos, deputados são alvo de pedido de perda de mandato.

Se a maioria das ações foi para justificar a desfiliação partidária em 2019, o cenário era o oposto na legislatura passada: de um total de 32 casos, 30 pediam a punição de parlamentares que trocaram de legenda.

As disputadas que têm Jair Bolsonaro como pivô não se restringiram aos pesselistas. Em agosto, o deputado Aluísio Mendes pediu justa causa para sair do Podemos sob alegação de que sua proximidade com Bolsonaro estaria lhe causando retaliações dentro da legenda. Mesmo sem o trânsito em julgado do processo, o parlamentar já conseguiu migrar para o PSC.

O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira explica que um dos motivos para essa mudança na comparação com outros anos é o aumento de poder dos líderes partidários em relação a seus colegas de bancada.

— Se de repente um membro do partido se comporta contra o líder e nota que está sofrendo retaliação no sentido de não integrar mais nenhuma comissão ou ocupar relatorias e presidências, que são definidas pelo líder, a sua significância no Congresso cai drasticamente. Por isso que agora os deputados atuam em busca de alternativas junto à Corte Eleitoral para tentar preservar os seus mandatos — explica Pereira, que completa: — Antes eram os partidos que viam essa migração como ameaça. Agora, são os deputados.

Fidelidade partidária
40
26
4
Número de
deputados por ano
2
0
2015
2016
2017
2018
2019
Motivo
Deputado
Partido
Ação
Bibo Nunes
Alê Silva
Aline Sleutjes
Bia Kicis
Carla Zambelli
Carlos Jordy
Caroline de Toni
Chris Tonietto
Daniel Freitas
Daniel Silveira
General Girão
Léo Motta
Eduardo Bolsonaro
Cabo Junio Amaral
Filipe Barros
Major Fabiana
Coronel Chrisostomo
Helio Lopes
Coronel Armando
Dr. Luiz Alberto Ovando
Guiga Peixoto
Luiz P. de O. e Bragança
Luiz Lima
Vitor Hugo
Sanderson
Marcio Labre
Aluisio Mendes
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
Podemos
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
Proximidade
com o
presidente
Carla
Zambelli
Eduardo
Bolsonaro
Helio
Lopes
Deputado
Partido
Ação
Jefferson Campos
Atila Lira
Gil Cutrim
Marlon Santos
Flavio Nogueira
Rodrigo Coelho
Tabata Amaral
Felipe Rigoni
PSB
PSB
PDT
PDT
PDT
PSB
PDT
PSB
justa causa
perda de mandato
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
Reforma da
Previdência
Atila
Lira
Tabata
Amaral
Felipe
Rigoni
Deputado
Partido
Ação
Evandro Roman
Sebastiao Oliveira
Professor Israel Batista
Wladimir Garotinho
Lauriete
PSD
PL
PV
PRP
PL
perda de mandato
justa causa
justa causa
perda de mandato
justa causa
Outros
Fidelidade partidária
40
Número de
deputados por ano
26
4
2
0
2015
2016
2017
2018
2019
Motivo:
Proximidade com o presidente
Deputado
Partido
Ação
Bibo Nunes
Alê Silva
Aline Sleutjes
Bia Kicis
Carla Zambelli
Carlos Jordy
Caroline de Toni
Chris Tonietto
Daniel Freitas
Daniel Silveira
General Girão
Léo Motta
Eduardo Bolsonaro
Cabo Junio Amaral
Filipe Barros
Major Fabiana
Coronel Chrisostomo
Helio Lopes
Coronel Armando
Dr. Luiz Alberto Ovando
Guiga Peixoto
Luiz P. de O. e Bragança
Luiz Lima
Vitor Hugo
Sanderson
Marcio Labre
Aluisio Mendes
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
PSL
Podemos
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
Reforma da Previdência
Deputado
Partido
Ação
Jefferson Campos
Atila Lira
Gil Cutrim
Marlon Santos
Flavio Nogueira
Rodrigo Coelho
Tabata Amaral
Felipe Rigoni
PSB
PSB
PDT
PDT
PDT
PSB
PDT
PSB
justa causa
perda de mandato
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
justa causa
Outros
Deputado
Partido
Ação
Evandro Roman
Sebastiao Oliveira
Professor Israel Batista
Wladimir Garotinho
Lauriete
PSD
PL
PV
PRP
PL
perda de mandato
justa causa
justa causa
perda de mandato
justa causa

Processo de suplentes

Entre os casos referentes a perda de mandato nas mãos do TSE está o do deputado Evandro Roman (PSD-PR), que tem dois processos contra ele abertos por suplentes. Roman pretende deixar o PSD e se filiar ao Patriota com intenção de se candidatar a prefeito da cidade de Cascavel, no oeste do Paraná, este ano.

O levantamento do GLOBO levou em conta apenas casos em que o atrito entre parlamentar e partido foi parar na Justiça. Houve outras brigas internas nas legendas em 2019 . O deputado Marco Feliciano foi expulso do Podemos pela aproximação com Bolsonaro. Já Alexandre Frota (PSDB-SP) deixou o PSL por críticas ao presidente.

O deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES) é um dos parlamentares com processo no TSE. Ele entrou com a ação para justificar a saída do partido após a votação da Previdência na Câmara.

— Tenho uma relação positiva com o partido, apesar do atrito. Mas a percepção é que o meu pensamento não cabe mais no PSB, devido às perseguições que ocorreram por causa da Reforma da Previdência. Eu pedi para sair do partido e continuo com essa intenção — explica o deputado, que aguarda a decisão do relator sobre seu processo no TSE.

O advogado especialista em Direito Eleitoral Eduardo Damian aponta que o movimento de renovação política como fator para aumento do número de processos . Rigoni, por exemplo, é vinculado ao movimento Acredito.

— A entrada de novos nomes, muitas vezes, ocorre sem o pleno conhecimento da vida e estrutura partidária. A insatisfação surge no dia a dia da política e assim eles buscam justificativa para se desfiliar, no afã de se candidatar na próxima eleição — afirma Damian, citando a proximidade com as eleições municipais deste ano.

Na legislatura anterior, 2016 foi o único ano a registrar um número alto de ações motivadas por fidelidade partidária. Um processo aberto pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB) que discutia o uso do fundo partidário pela legenda pediu a perda do cargo de 20 deputados federais de uma só vez. No entanto, a advogada Karina Kufa, que na época atuava pelo PMB, explica que a abertura dessa ação foi um erro e que o próprio TSE julgou o caso improcedente em relação à perda de mandato.

Expectativas para 2020

O ex-ministro do TSE Admar Gonzaga é um dos advogados no processo em que 26 deputados federais pedem justa causa para se desfiliar do PSL. Ligados a Bolsonaro — incluindo o filho do presidente Eduardo Bolsonaro — os parlamentares alegam perseguição política após terem pedido mais transparência ao presidente da sigla, Luciano Bivar. Gonzaga está otimista com o desfecho da ação.

— A expectativa é que o processo seja deferido, até porque já ganhamos outras ações contra o partido a respeito das suspensões que os deputados sofreram na Câmara — explica o ex-ministro.

Nenhum dos processos iniciados transitou em julgado, mas três deles já tiveram decisões. No caso do deputado Aluísio Mendes, do Maranhão, a Justiça autorizou sua ida do Podemos para o PSC. Já o deputado Professor Israel Batista, do Distrito Federal, alegou perseguição dentro do PV e entrou com processo de saída por justa causa. O pedido, porém, foi negado pelo TSE. Já o PSB pediu a perda do mandato do deputado piauiense Átila Lira, expulso após a votação da Reforma da Previdência na Câmara, mas sem sucesso. Atualmente, Lira está filiado ao PP e continua com suas atividades no Congresso.