Ao costurar uma aliança com o pré-candidato do Republicanos à prefeitura de Belo Horizonte para que sua ex-secretária seja vice, o governador Romeu Zema (Novo) entrou no mesmo palanque que um adversário antigo, o ex-prefeito Alexandre Kalil. Em 2022, os dois disputaram o segundo turno para o governo do estado, ocasião em que trocaram uma série de farpas.
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O pano de fundo da chapa que une o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) e a ex-secretária de Planejamento, Luísa Barreto (Novo), mira as eleições de 2026. O planejamento é que Kalil, recém-filiado ao Republicanos, concorra ao governo do estado em uma chapa com Tramonte, sem definição sobre quem seria o cabeça de chapa. Neste contexto, Barreto herdaria a prefeitura.
Neste cálculo, contudo, quem sobra é o vice-governador Mateus Simões (Novo), que já deixou claro seu desejo em suceder Zema.
Ao GLOBO, Alexandre Kalil confirmou que estará firme na campanha de Tramonte e disse não ver problema em estar no mesmo palanque eleitoral que Zema. Segundo ele, tratam-se de "desavenças passadas". Kalil aproveitou ainda para elogiar Luísa Barreto, quem chamou de técnica.
– Isso foi conversado comigo, eu falei que não tinha nada demais. Ela é uma boa moça, mulher técnica, então não existe motivo nenhum para levar desavenças eleitorais passadas para uma campanha tão importante como a prefeitura de BH. O prefeito será Tramonte e a vice deve ser Luísa Barreto, eles precisam se preocupar em cuidar das pessoas e não com política.
A mudança de Kalil ao Republicanos ocorreu há duas semanas. Segundo ele, não houve qualquer trauma com o PSD. Como exemplo, citou a presença do presidente de seu ex-partido, Gilberto Kassab, no governo de seu correligionário em São Paulo, Tarcísio Freitas. Sobre os opositores que chamam o Republicanos de bolsonarista, o ex-prefeito relembra a presença da sigla no primeiro escalão do governo federal.
Na quarta-feira, Zema, Tramonte e Barreto almoçaram juntos, quando a aliança foi costurada. No entanto, o anúncio oficial só será feito no sábado, quando as duas siglas farão suas convenções, de maneira quase simultânea: a do Novo tem início previsto às 9h e a do Republicanos, às 10h.
Segundo a última Quaest divulgada na capital, Mauro Tramonte lidera a disputa, com 25% das intenções de voto. Atrás dele, seis pré-candidatos aparece empatados, incluindo o prefeito Fuad Noman (PSD), que busca a reeleição. Luísa Barreto, por sua vez, tem 1%.
Histórico de farpas
Hoje no mesmo palanque, Zema e Kalil tem um histórico de desavenças que não se restringe apenas a campanha eleitoral. Em maio deste ano, em entrevista ao GLOBO, criticou a gestão estadual:
– Governo dele é um estado quebrado, devendo R$ 170 bilhões (referência a dívida pública com a União Federal). Zema tem que cumprir suas promessas – afirmou, à época. Em outras ocasiões, pontuou falhas do governo em temas como a geração de empregos.
Em 2022, as críticas eram mais contundentes. Em entrevista ao Flow Podcast, o ex-prefeito disse que Zema não tinha humanidade e o chamou de "débil mental".
– Eu apoio o Lula porque eu tenho humanidade, cara, o que esse governador não tem. Ele fala que é crime dar cesta básica pros outros, que o bonito é passar fome, que tem que dar emprego. Avisar pra esse débil mental que eu estou com 12 milhões de desempregados e 5 milhões de desalentados.
Após o apoio de Zema ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno, Kalil disse que o governador traia seus eleitores.
Zema, por sua vez, rebateu Kalil e disse que ele vive "à sombra do pai".
– Recebi uma empresa pequena e multipliquei. Ele (Kalil) sempre viveu na sombra do pai dele, depois na sombra do Atlético, que também melhorou depois da saída dele. E eu desafio ele a fazer um teste de QI. Talvez se eu seja (débil mental), mas ele é muito mais – disse em entrevista coletiva.
Citado por Zema na ocasião, Elias Kalil presidiu o Atlético Mineiro entre 1980 e 1985, cargo que foi ocupado pelo ex-prefeito entre 2008 e 2014.
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