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Política Flávio Bolsonaro

Em agenda apreendida pelo MP, Márcia ensaiou depoimento escrevendo o que é 'legislar'

Mulher de Queiroz se apresentou ao MP na última quarta-feira pela primeira vez, mas manteve-se calada
Mulher de Queiroz, Márcia Aguiar também é investigada no inquérito sobre rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj Foto: Reprodução
Mulher de Queiroz, Márcia Aguiar também é investigada no inquérito sobre rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj Foto: Reprodução

RIO — Durante a ação de busca e apreensão no apartamento de Fabrício Queiroz e sua mulher, Márcia, feita em dezembro do ano passado, o Ministério Público do Rio apreendeu uma agenda em que Márcia fez uma espécie de ensaio do depoimento que prestaria aos promotores que investigam as suspeitas de rachadinha no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Alerj. Em quatro páginas manuscritas, obtidas pelo GLOBO, Márcia listava as funções de um assessor parlamentar. Os promotores suspeitam que assessores devolviam seus salários para Flávio e não trabalhavam de fato no gabinete. Na quarta-feira, Márcia e Queiroz se apresentaram pela primeira vez ao Ministério Público na investigação, mas recorreram ao direito de não responder às perguntas.

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Márcia escreveu as anotações de modo a enumerar alguns pontos, como se fosse uma ordem de argumentos. Anotado como item número um,  está “fazer ponte entre a população e o político” e, em seguida, ela escreveu “nosso deputado nem sempre podia estar com seus eleitores por diversos compromissos. E aí que nós acessores (sic) fazemos essa parte entre eletor (sic) e deputado”. Logo em cima desse trecho, a mulher de Queiroz anotou “Legislar” e fez uma flecha para “fazer lei do estado”. Junto também escreveu que o “acesor (sic) é responsável por diversas atividades”.

Já no número dois, ela escreveu que “éramos escolhido (sic) para representar o deputado em eventos importantes as quais (sic) ele não podia comparecer, anotando as demandas da população e dando feedback aos cidadãos (por exemplo)”.

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Depois, no item três, a mulher de Queiroz escreve: “eu realizava pesquisas diversas que tenham (sic) como objetivo identificar as demandas dos cidadãos e constatar quais ações o político deve tomar para trazer benefício a (sic) população”.

Na mesma agenda, Márcia anotou o “dinheiro recebido” no total de R$ 174 mil para custear o tratamento médico do marido em São Paulo. No ano passado, antes da busca e apreensão, o GLOBO revelou que o pagamento das despesas médicas de Queiroz no hospital Albert Einstein, em São Paulo, tinha ocorrido por meio de um pagamento em dinheiro vivo. O MP agora investiga a origem desse montante.

Márcia também registrou seus serviços como cabeleireira. Escreveu, por exemplo, “Tete fez cabelo dia 03/12/2018” e o custo “R$ 150 botox e R$ 35 sobrancelha”. Um trecho desta agenda tinha sido publicado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” quando foi divulgado que ela mantinha anotados ainda os telefones do presidente Jair Bolsonaro e de Michele Bolsonaro. Além disso, estavam os números de celulares de Flávio e de sua mulher, Fernanda, entre outros políticos.

Procurado, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que atua na defesa de Márcia e Queiroz, disse que as anotações são comuns para pessoas que estão sob investigação.

— É muito comum as pessoas investigadas organizarem as ideias por meio de escritos antes de qualquer depoimento, não sendo, todavia, possível afirmar se assim ocorreu antes que a defesa tenha acesso ao referido documento.