Política Coronavírus

Em pronunciamento, Bolsonaro baixa o tom sobre coronavírus e não fala em fim do isolamento

Presidente voltou a citar discurso de diretor-geral da OMS, mas não disse que ele defendeu retorno ao trabalho, como havia feito horas antes
O presidente Jair Bolsonaro grava pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão Foto: Isac Nóbrega/Presidência
O presidente Jair Bolsonaro grava pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão Foto: Isac Nóbrega/Presidência

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro baixou o tom em seu discurso sobre o novo coronavírus, em pronunciamento em rede nacional de televisão e rádio exibido na noite desta terça-feira. Após minimizar por diversas vezes a Covid-19, já chamada por ele de "gripezinha" e "fantasia", Bolsonaro classificou este como o "maior desafio da nossa geração". Além disso, não defendeu o fim do isolamento social, como havia feito na semana passada em outro pronunciamento.

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— O Brasil avançou muito nesses 15 meses, mas agora estamos diante do maior desafio da nossa geração — disse, referindo-se ao período do seu governo.

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Bolsonaro também pregou a "colaboração" e a "união" com todos, inclusive governadores, criticados por ele nas últimas semanas pelas medidas tomadas contra o coronavírus.

— Agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: parlamento, judiciário, governadores, prefeitos e sociedade.

Outra mudança de tom foi em relação às vítimas da pandemia: se antes Bolsonaro havia dito que era preciso ter "paciência" com as mortes e que "essa é a realidade", agora afirmou que é preciso evitar "o máximo qualquer perda de vida humana".

— O coronavírus veio e um dia irá embora. Infelizmente teremos perdas neste caminho. Eu mesmo já perdi entes queridos no passado e sei o quanto é doloroso. Todos nós temos que evitar o máximo qualquer perda de vida humana.

Bolsonaro também foi mais cauteloso ao falar da hidroxicloroquina, substâncias que têm sido testadas contra a Covid-19: apesar de dizer que ela parece "bastante eficaz", ressaltou que não tem "eficiência cientificada comprovada". Na semana passada, o presidente fez progaganda de remédios baseado na substância e disse que o uso dela "já deu certo"

— O vírus é uma realidade, ainda não existe vacina contra ele ou remédio com eficiência cientificamente comprovada, apesar da hidroxicloroquina parecer bastante eficaz.

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Durante o pronunciamento, o presidente voltou a ser alvo de panelaço.

Bolsonaro citou novamente o discurso do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde ( OMS ), Tedros Adhanom Ghebreyesus, como já havia feito em entrevista na manhã desta terça, mas em um tom mais brando. De manhã, ele disse que Tedros havia defendido o retorno o trabalho. Entretanto, a OMS e o próprio diretor-geral vieram à público para reafirmarem a importância do isolamento social e cobrar políticas sociais de proteção econômica aos que não podem trabalhar neste período.

No pronunciamento, o presidente voltou a citar trechos da fala de Tedros que defendem a atenção aos mais pobres, mas disse que não fazia isso para criticar medidas de prevenção. Ele não falou sobre o suposto pedido de retorno ao trabalho.

— Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que da mesma forma precisamos pensar nas mais vulneráveis. Esta tem sido a minha preocupação desde o princípio.

O presidente também repetiu diversas vezes que é preciso combater tanto o vírus quanto o desemprego, e disse que orientou os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Paulo Guedes (Economia) a tomar medidas nesse sentido.

— Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos que ter cautela e preocupação com todos, principalmente junto aos mais idosos e portadores de doenças preexistentes. Por outro, temos que combater o desemprego, que cresce rapidamente, em especial entre os mais pobres. Vamos cumprir essa missão, ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas.

Quarto pronunciamento em um mês

Este foi o quarto pronunciamento sobre o coronavírus realizado em um período de menos de um mês.No primeiro pronunciamento sobre o tema, realizado no dia 6 de março, Bolsonaro afirmou que não havia motivo para "pânico" e que o momento era de união.

A segunda fala sobre o tema foi realizada na semana seguinte, no dia 12 de março. O presidente recomendou o adiamento de manifestações que estavam marcadas para o domingo seguinte, devido à recomendação para evitar aglomerações. O próprio Bolsonaro, contudo, acabou participando dos protestos .

No terceiro pronunciamento, feito na semana passada, Bolsonaro pediu a reabertura do comércio e das escolas e o fim do "confinamento em massa".