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Política Jair Bolsonaro

Esvaziado no governo, Onyx irrita Planalto com projeto eleitoral para 2022

Alvo de críticas, ministro quer disputar governo do Rio Grande do Sul, o que, para Bolsonaro, prejudica atuação no Ministério da Cidadania
Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, perdeu influência e está cada vez mais isolado no governo Bolsonaro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, perdeu influência e está cada vez mais isolado no governo Bolsonaro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — De chefe da Casa Civil, um dos cargos centrais do governo, Onyx Lorenzoni está hoje isolado no Ministério da Cidadania. O ministro que mantinha agendas diárias com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto agora é recebido cada vez menos no gabinete presidencial. Durante o mês de outubro, Onyx só esteve com Bolsonaro duas vezes, segundo dados públicos do governo. Neste ano em que perdeu a cadeira no Planalto em fevereiro, participou de 59 agendas com o presidente até outubro, contra 199 registros no gabinete presidencial no primeiro ano do governo. Uma redução de 70% que condiz com a perda de influência.

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A aliados, o presidente não esconde a irritação com o trabalho do ministro. Reservadamente, Onyx é criticado por Bolsonaro por não entregar resultado e tocar a pasta de forma bem diferente que os elogiados Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, ou Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional. Bolsonaro tem demonstrado incômodo com o interesse de Onyx em disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2022. O presidente tem repetido a interlocutores que seu ministro só pensa na eleição, focado nas questões regionais, e deixa a desejar nas missões do governo federal.

Sob o comando de Onyx, a pasta liberou mais recursos ao Rio Grande do Sul, estado com 11,2 milhões de habitantes, do que para São Paulo, com 45 milhões. Foram empenhados R$ 27,9 milhões ao estado do Sul ao longo deste ano ante R$ 25,4 milhões para São Paulo. Em 2019, São Paulo havia sido o estado com mais investimentos liberados (R$ 35 milhões), seguido por Rio Grande do Sul (R$ 31 milhões) e Paraná (R$ 28 milhões).

O Ministério da Cidadania justificou que 86% dos 317 milhões já empenhados são decorrentes de emendas individuais e de bancadas de parlamentares, “cabendo aos órgãos apenas a execução desses valores no que diz respeito a formalização e execução (empenhos, pagamentos) e prestação de contas” — mostrando que Onyx mantém algum prestígio entre deputados sulistas que indicam as emendas.

Longe dos holofotes, Onyx pouco surfou na onda de popularidade do auxílio emergencial distribuído pelo governo para aliviar os impactos da Covid-19. Em abril, o governo começou a pagar parcelas de R$ 600 a desempregados e a trabalhadores informais cadastrados pela pasta da Cidadania e depois garantiu mais quatro parcelas de R$ 300. O que era positivo, acabou se tornando em um problema com a série de problemas no cadastramento dos beneficiários.

Interlocutores de Bolsonaro apostam em uma renovação no Ministério da Cidadania no início do ano que vem. A tendência é que Onyx seja deslocado para outra função no governo, e a pasta fundida com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandada hoje por Damares Alves.