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Política Eleições 2022

'Não faço política olhando pelo retrovisor', diz Marília Arraes sobre possível aliança entre PT e PSB

Petista apresenta seu nome para concorrer ao governo de Pernambuco, mas diz que respeitará posição dada por Lula, que tem buscado diálogo com prefeito de Recife, João Campos
A deputada federal Marília Arraes (PT-PE) no plenário da Câmara: disposição de concorrer ao governo de Pernambuco Foto: Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados/01-07-2020
A deputada federal Marília Arraes (PT-PE) no plenário da Câmara: disposição de concorrer ao governo de Pernambuco Foto: Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados/01-07-2020

RIO - Alvo de ataques pessoais na disputa contra o primo João Campos (PSB) na eleição para a prefeitura do Recife (PE), a deputada federal Marília Arraes (PT) trabalha para que o partido tenha candidatura própria em Pernambuco no ano que vem, enquanto o ex-presidente Lula costura uma aliança com os socialistas para o palanque nacional .

O racha entre a neta de Miguel Arraes e a família Campos pode, no entanto, ser deixado de lado no próximo pleito: Marília diz que não fará política “olhando para o retrovisor”, defende uma autocrítica do PSB e afirma que respeitará a “missão” dada por Lula, mesmo que isso signifique abdicar da candidatura ao governo do estado.

A senhora foi criticada por alas do PT por ter negociado com o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), ligado ao presidente, para ocupar a mesa diretora da Câmara, sem o aval do partido. Essa questão já foi superada?

O que aconteceu foi uma articulação política normal. Está superado. A Câmara é uma casa do diálogo. A maioria das mulheres que conseguiu fazer parte da Mesa foi disputando de forma avulsa. Não foi por indicação do partido. O partido ia me indicar, de última hora mudou de ideia e eu mantive a candidatura. Isso é natural para nós mulheres que estamos buscando espaço.

Em visita ao Nordeste, o ex-presidente Lula buscou refazer pontes com o PSB. A senhora defende uma aliança entre entre o PT e o PSB em Pernambuco?

A conversa com o PSB é, antes de tudo, nacional. Eu defendo que o presidente Lula busque alianças e o apoio, não só do PSB, mas de partidos de centro que apoiem a democracia. Em Pernambuco, defendo que tenhamos uma candidatura própria, mesmo que o PSB decida apoiar o presidente Lula. Já me coloquei mais de uma vez à disposição para colaborar com esse projeto. A grande prioridade é a eleição de Lula para presidente.

A senhora pretende disputar o governo do estado no ano que vem?

Eu me coloquei à disposição, não só por ler análises de pesquisa. Acredito que o PT no meu estado tem o potencial muito maior do que é aproveitado.

O PSB defende que o PT apoie o partido em Pernambuco e no Rio como requisito para uma aliança em âmbito nacional. Já Lula defende nos bastidores que o partido não abra mão de ter candidatos nestes estados-chave. Como costurar uma aliança que atenda aos dois partidos?

Essa costura deverá ser feita pelos líderes nacionais. O que posso fazer é esperar a missão. É possível haver diálogo. Alianças em um momento em que estamos com a democracia ameaçada, como agora com Bolsonaro, não podem ser construídas com base do toma lá, dá cá desconsiderando a força política dos aliados. É preciso disputar com respeito, coisa que não aconteceu aqui no Recife no segundo turno. Foi uma baixaria como nunca se viu aqui. Tem que haver diálogo com respeito e civilidade. Estou aguardando a missão que será a mim delegada e tentarei cumprir da melhor maneira possível.

A senhora foi alvo de duros ataques na campanha de 2020 na campanha para a prefeitura do Recife. Como ficou a relação entre você e o prefeito João Campos (PSB)?

Não há qualquer relação política entre nós. É algo que pode ser alvo de diálogo tendo em vista o cenário nacional. Essa eleição foi dura , mas quando a gente sofre ataques dessa forma faz a gente crescer e amadurecer. Levo como aprendizado. Não podemos fazer política olhando para o retrovisor, mas é preciso memória e mostrar que disputa política não se faz desse jeito. Cobram tanto autocrítica do PT, mas é preciso que o PSB faça uma autocrítica sobre o que foi feito para podermos olhar pra frente.

A senhora subiria em um palanque com ele em prol de uma campanha nacional?

Ainda é muito cedo para tratar disso, mas a minha prioridade é a eleição do presidente Lula e tirar o Brasil do caos que estamos vivendo.

Os ataques na campanha eleitoral foram uma reedição do que a senhora sofreu quando saiu do PSB?

Desde que eu tenho posições divergentes do PSB sofri ataques. A diferença para 2020 é que foram ataques sistemáticos e contínuos, feitos pela TV, em inserção comercial... Eu não faço política com rancor, com mágoa, com ódio. Isso passou, foi superado... Mas deve ser conversado. Não pode ser dessa maneira. Deve ser com respeito. Foi assim que aprendi com meu avô, Miguel Arraes. Faltar com respeito a um adversário é faltar com respeito ao povo que está presenciando essa baixaria.

A senhora abriria mão novamente da candidatura em prol de uma aliança com o PSB?

Em 2018, o PT retirou minha candidatura. Agora, em 2020, eu me coloquei à disposição em ser candidata. Claro que tem como objetivo, seja lá para quando for, um projeto majoritário para Pernambuco. Terei que esperar as tratativas e o direcionamento que o presidente Lula vai dar.

O que o ex-presidente já conversou com a senhora sobre as alianças com o PSB e a eleição de 2020?

O presidente expôs que o cenário é bastante indefinido e que o objetivo dele é aglutinar o máximo de forças possíveis. Temos que criar solução e buscar agregar para a liderança que é maior do que nós.

Há uma disputa interna no PT em Pernambuco em torno do seu nome e do senador Humberto Costa para uma eventual candidatura no ano que vem. Como isso será definido?

O PT precisa definir se terá candidato, o que defendo. Tendo candidato, quem vai decidir será o presidente Lula. Não será uma decisão tomada localmente. Tenho respeito pelo senador Humberto Costa, apesar de divergir de estratégias que ele defende. Vou cumprir a decisão que for tomada.