Política
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Por Bernardo Mello e Marco Grillo — Rio

O antropólogo Juliano Spyer, autor do livro “Povo de Deus - Quem são os evangélicos e por que eles importam”, afirma que cristãos protestantes não formam um grupo homogêneo, foram hábeis em conquistar corações católicos de pessoas que deixaram o campo e ocuparam as periferias das cidades na segunda metade do século XX, têm direito de participar da política e que sofrem preconceito no Brasil.

Os evangélicos eram 6,6% da população em 1980, e hoje são 30%, segundo estimativas. Qual a explicação do crescimento?

A partir dos anos 1950, depois da Segunda Guerra Mundial, há uma migração massiva, e o Brasil, que era uma grande fazenda, vira uma imensa cidade. Cerca de 20 milhões de pessoas foram morar em áreas urbanas que não tinham água, luz, ou seja, sem a presença do Estado. Essa população rural que migrou já era católica, então não precisou ser convencida sobre a Bíblia. Nesse ambiente, os evangélicos conseguiram ser mais ágeis que a Igreja Católica, que acabou se movendo lentamente, até por ser uma só. Já o evangélico não é uma igreja, é uma rede de pessoas ligadas por tradição e vínculo. Há uma reprodução de laços e redes de solidariedade. A igreja, assim, assumiu o papel de família.

Por que a Igreja Católica teve dificuldade de reagir?

Ela nem se deu conta. O protestantismo tem um elemento empreendedor, de ocupar espaços, inovar a linguagem e observar com rapidez os problemas para respondê-los.

O evangélico é vítima de preconceito?

Não de perseguição, mas há um preconceito caracterizado, sim. Muitas vezes, pessoas em posição de decisão não se interessam por esse público e acham que a pessoa ir à igreja demonstra fraqueza. Ou seja, “coitadinha, não foi para a escola”, é a análise padrão. Tratam o fiel como alguém menos capaz porque tem envolvimento com religião.

E o preconceito dos evangélicos com religiões de matriz africana, existe?

A intolerância é muito anterior ao protestantismo. Vale a pena ampliar essa cronologia para pensar o quanto o Brasil é racista e o quanto isso se desdobra em um racismo religioso.

Qual o grau de influência de pastores sobre fiéis?

O fiel obedece quando o pastor se dá ao respeito. A igreja é um lugar politizado, no sentido amplo, mas esse espaço não é propriedade do líder evangélico. Se ele irrita o público e não condiz com o que as pessoas esperam da igreja, elas pedem para o pastor sair.

Os fiéis estão cansados da política dentro das igrejas?

Há indícios de pessoas passando desse limite. Houve o caso de Goiânia (um homem foi baleado dentro da igreja após uma discussão política) e o episódio em que a Igreja Lagoinha convidou Bolsonaro a se dirigir às pessoas enquanto político pedindo voto. Há demonstrações claras de aliança, com o governo levando evangélicos ao primeiro escalão, indicando André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro passou a ser visto como alguém que deu um protagonismo que o evangélico nunca teve.

Essa é a chave da distância entre Bolsonaro e Lula entre os evangélicos?

É o ponto mais importante. Nenhum governo destratou os evangélicos, mas só agora o presidente se diz cristão e a favor da família tradicional.

É legítimo o evangélico estar na política? Um pastor se candidatar, por exemplo?

Nenhum problema. O evangélico pode influenciar o debate público, tanto quanto católicos ou praticantes de religião de matriz africana.

O segmento pode se mobilizar para aprovar uma lei, por exemplo, como os sindicatos e a bancada ruralista fazem?

A bancada ruralista é um segmento produtivo econômico, é diferente. Os ruralistas não vendem um entendimento de mundo. Ao mesmo tempo, há um entendimento superficial sobre o que vem a ser a influência evangélica. Não há pensamento monolítico, mas concordâncias e discordâncias. A pauta moral é o maior ponto em comum.

Qual o limite da atuação política então?

Tenho dificuldade de ter a resposta exata ainda. Toda minha jornada tem sido tentar traçar essa linha no chão.

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