Política
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Por Luã Marinatto

A investigação da Polícia Federal (PF) que frustrou ataques da maior facção criminosa do país contra autoridades e agentes públicos, entre eles o ex-juiz e senador Sérgio Moro (União-PR), localizou diversas informações relativas à contabilidade da quadrilha. As cifras constam na representação remetida à Justiça Federal, que deferiu 11 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão, a maior parte deles cumprida em operação realizada nesta quarta-feira. Ao todo, somando os diferentes gastos computados pelos criminosos, o valor despendido com o plano foi de pelo menos R$ 1,2 milhão, em cálculo feito pelo GLOBO com base no relatório elaborado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise), que leva a assinatura do delegado Martin Bottaro Purper.

Os dados estavam em diferentes celulares e endereços de e-mail indicados por uma testemunha que deu origem à apuração, que passaram a ser monitorados pelos agentes com autorização judicial, mediante quebra do sigilo telemático. Segundo essa pessoa, um ex-integrante da facção que decidiu delatar os antigos comparsas após ser jurado de morte, as linhas e contas eram associadas a Janeferson Aparecido Mariano Gomes, apontado pela PF como chefe da célula que vinha arquitetando os atentados contra Moro e outras autoridades.

"Não há dúvidas da aplicação dos valores oriundos do tráfico de drogas e da associação para o tráfico de drogas de Janeferson para o financiamento das atividades criminosas na cidade de Curitiba", diz um dos trechos do relatório da PF.

Um registro no no bloco de notas de um dos aparelhos, por exemplo, traz uma série de gastos vinculados a "Tokio", apelido usado para referências a Moro, de acordo com os investigadores. A lista inclui R$ 50 mil de custos iniciais, R$ 12 mil com viagens, R$ 55 mil para adquirir um carro, R$ 50 mil para aluguéis e manutenção e R$ 110 mil com um fuzil, entre outros itens. Só esta anotação totaliza R$ 564,5 mil em gastos.

Anotações obtidas pela PF — Foto: Reprodução
Anotações obtidas pela PF — Foto: Reprodução

Já a contabilidade em uma das contas de e-mail enumerava aluguéis de diferentes imóveis em Curitiba, no Paraná, cidade onde o ex-juiz e sua família mantinham residência. Entre os dias 1º e 27 de setembro do ano passado — mês em que o senador passou a ter os passos vigiados pela quadrilha, como consta na investigação —, foram locados um apartamento (a R$ 10 mil), uma casa (a R$ 6 mil) e uma chácara (a R$ 5 mil). O bando também investiu R$ 3,5 mil em móveis, R$ 1 mil em viagens, R$ 17,8 mil com carro e R$ 2 mil em alimentação e combustível.

Outra mensagem, esta obtida numa conta de WhatsApp, enumera gastos em outubro. Aparecem, por exemplo, R$ 500 em despesas com hotel, R$ 1 mil com TV, R$ 200 com gasolina e R$ 25 mil com um carro. Em outra data do mesmo mês, vão-se R$ 6.900 com passagem, R$ 620 com gasolina, R$ 2.040 com mercado, R$ 600 com uma bateria e até R$ 200 com um corta-grama, entre outras despesas.

A conversa no WhatsApp onde constavam esses custos eram entre Claudinei Gomes Carias, um dos alvos da operação, e um comparsa de vulgo Nei, criminoso de posição elevada na hierarquia da facção ainda não identificado pelos agentes. Segundo o relatório, Claudinei fazia "a contabilidade dos gastos em um notebook", usando também um pendrive.

Ainda de acordo com os investigadores, Claudinei "estava em Curitiba/PR tanto na época do período eleitoral quanto nos últimos dias". A PF descobriu que uma das hipóteses avaliadas pela quadrilha foi executar o plano contra o ex-juiz no dia do primeiro turno. "Os contatos salvos e fotos recentes demonstram a intensa atuação de Claudinei nos dias atuais, na cidade de Curitiba, local onde fatalmente o crime contra o senador da República Sergio Moro pode se consumar", reforça o documento.

O controle refinado das despesas incluía até mesmo a devolução ou complementação de valores gastos no plano. Por diversas vezes, quando o montante recebido pela célula do caixa geral da facção se mostrava inferior à listagem de custos, a diferença aparecia discriminada na contabilidade como "reembolso".

Mesmo assim, o pedido de prisão preventiva apresentado pela Polícia Federal à Justiça Federal contra os suspeitos de estruturar os atentados menciona desvio de recursos dentro da quadrilha. Em uma das conversas de Claudinei interceptadas, o superior não identificado diz: “Tô achando que tá dando muito”. Para a Polícia Federal, as mensagens deixam “evidente que parte dos investigados desviou valores para proveito próprio”.

Em outro áudio, o homem reclama por não ter recebido de Claudinei o detalhamento de gastos no prazo combinado. Ele cita haver uma cobrança da “financeira da Bolívia”, o que, segundo os investigadores, comprova que o “dinheiro recebido pelos investigados vem, naturalmente, do tráfico de drogas”. "Maior falta de responsabilidade, do caralho. Preciso dessa parada, aí, filho", exige o chefe.

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