Política
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Por Jeniffer Gularte e Sérgio Roxo

A demissão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, na tarde da última quarta-feira foi o momento de maior tensão da relação de duas décadas entre o presidente Lula e o general, o quadro mais próximo do petista no mundo militar. Por causa do histórico de amizade, aliados de Lula descartam a possibilidade de o general, conhecido como GDias, ter sido desleal com o presidente no episódio da invasão do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.

Uma das principais vozes em favor da saída de GDias foi a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Ela também endossou o discurso de que a segurança pessoal do presidente e dela fosse feita por policiais federais, e não por militares. GDias não é próximo da atual esposa do presidente. Embora amigo de Lula, não foi convidado para o casamento com Janja, em maio do ano passado.

Com pouco trânsito entre os militares, Lula, ao vencer a sua primeira eleição presidencial em 2002, procurou o pai do atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o general da reserva Oswaldo Muniz Oliva, para se aconselhar sobre questões da caserna. Na conversa, o então presidente eleito pediu a sugestão de um oficial para comandar a sua segurança. Oliva indicou Gdias, que na época era coronel e servia em São Paulo. O militar tinha uma relação muito próxima com o coronel Oswaldo Oliva Neto, irmão de Mercadante.

A indicação foi motivada pelo fato de ele ser considerado competente para a função, mas também porque GDias manifestava a colegas tendências políticas progressistas, afastado das posições de direita que são majoritárias no mundo militar.

Câmeras de segurança mostram ministro-chefe do GSI no Planalto durante o 8 de janeiro

Câmeras de segurança mostram ministro-chefe do GSI no Planalto durante o 8 de janeiro

Mesmo sem vivência em Brasília, o GDias assumiu a segurança de Lula e montou a equipe que acompanha o presidente até hoje. Como responsável pela segurança nos dois primeiros mandatos, GDias passou a ser conhecido como “a sombra de Lula”. Em muitos momentos, sofreu com o estilo do presidente de quebrar protocolos e buscar contato direto com o povo, especialmente nos momentos que essa interação não estava prevista.

No final do primeiro mandato de Lula, GDias foi promovido a general. Por causa da intensa convivência diária, o militar e o presidente se tornaram amigos. Na descrição de pessoas próximas, o general é afável, discreto e responsável, perfil que conquistou a confiança do presidente. A aproximação de GDias da vida pessoal do presidente, no entanto, gerou desconfianças no Exército.

 Então comandante da 6ª Região Militar do Exército, na Bahia, GDias confraterniza com PMs amotinados — Foto: Marcelo Carnaval/07.02.2012
Então comandante da 6ª Região Militar do Exército, na Bahia, GDias confraterniza com PMs amotinados — Foto: Marcelo Carnaval/07.02.2012

Após a demissão de quarta-feira, a expectativa é que Gdias e Lula se afastem, mas só o tempo dirá se a amizade acabou. De acordo com um petista próximo ao presidente, o general poderia até não ter qualificação para comandar o GSI, mas não pode ser acusado de ter agido de má fé. Seu perfil, segundo esse aliado, talvez fosse mais voltado para a operação do que para a estratégia que um cargo de primeiro escalão no governo exige.

Desde 8 de janeiro, a permanência do general à frente do ministério vinha sendo contestada. O GSI tem, entre as suas atribuições, analisar e acompanhar questões com potencial de risco à estabilidade institucional e coordenar ações de defesa dos palácios presidenciais. Frente a inúmeras críticas da atuação do órgão na invasão do palácio, petistas passaram a bombardeá-lo por não enfrentar o debate e não encarnar o espírito de disputa que o cargo exigia. Na avaliação de um deles, GDias não teve capacidade de reação e embate para atravessar a crise.

O ministro, que na primeira semana de governo circulava constantemente pelo palácio e até almoçava no bandejão do anexo do Planalto, se recolheu depois da invasão. Não era mais visto em eventos palacianos e passou a atuar ainda mais discretamente.

GDias voltou à cena durante a campanha eleitoral, quando foi chamado para cuidar da estrutura de segurança e logística dos eventos de Lula. Durante a transição, a pedido do presidente, agiu discretamente nos primeiros passos de pacificação do futuro governo com os militares. Na visão de aliados, GDias tinha a missão de atuar dos dois lados, internamente no PT e na caserna.

Quando deixou o comando do GSI, o ex-ministro nem havia conseguido se reunir com todos os integrantes da pasta, ainda estava conhecendo as equipes, identificando as pessoas e entendendo os processos do órgão. Na avaliação de aliados, como GDias estava há dez anos na reserva, não tinha a ideia de como o bolsonarismo havia contaminado militares da ativa e nem o tamanho do terreno pantanoso que se tornou o GSI no governo passado, herdado por ele no início de janeiro.

GDias assumiu a pasta em 2 de janeiro e teve cinco dias úteis de trabalho antes dos atos golpistas, em 8 janeiro. Quem defende o ex-ministro argumenta que o período foi insuficiente para perceber como funcionava a estrutura e ter noção do risco de infiltrados que pudessem facilitar a invasão ao Planalto. Dias após a tentativa de golpe, com sua situação fragilizada no governo, o general chegou a ser aconselhado por amigos militares a deixar o posto. Rebateu que não poderia sair do governo no meio da confusão por entender que criaria um problema ainda maior a Lula.

Confraternização

Acusado de ser leniente com os invasores do Planalto, GDias passou por situação semelhante há 11 anos. Em 2012 ele foi afastado do cargo de comandante da 6ª Região Militar do Exército, na Bahia, após receber um bolo de aniversário de policiais militares que estavam amotinados e faziam cerco à Assembleia Legislativa do estado. No topo do bolo estava escrito: “Você é especial”. A comemoração contou com “parabéns pra você” e levando o então comandante às lágrimas.

A cena não foi bem recebida pelo Palácio do Planalto, então chefiado por Dilma Rousseff. O general era responsável pelas negociações com os policiais acampados em Salvador, que reivindicavam questões salariais e a anistia aos amotinados. Dias chegou a dizer que seu presente (de aniversário) era “comandar essa missão e criar novos amigos".

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