O governo prepara uma reformulação na área de Inteligência após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinar mais agilidade na análise de informações e uma estrutura que reúna dados hoje distribuídos por diferentes instâncias da administração federal. Na sequência dos atos golpistas de 8 de janeiro, o petista já havia reclamado do setor. Agora, as mudanças vêm sendo capitaneadas pelo diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, chefe da Polícia Federal no segundo mandato de Lula.
- Malu Gaspar: Abin admite 'erro material' em relatórios enviados pelo ex-GSI de Lula sobre 8 de janeiro
- Botijões explosivos e bilhete com ameaça: relatórios da Abin alertaram sobre risco de sabotagem após 8 de janeiro
A leva incluirá a reestruturação do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que engloba órgãos federais para a troca de informações, e a alteração do comitê central do colegiado. Uma das ideias é torná-lo mais enxuto, com os ministros da Justiça, Defesa e Relações Exteriores, além de assessores responsáveis pela Inteligência nas pastas. O grupo será responsável por juntar e refinar os dados que, a partir daí, serão levados pela Abin a Lula. Nas próximas semanas, o presidente receberá um modelo para aprovação.
Hoje, o conselho tem representantes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Marinha, Aeronáutica e Exército. A mudança, portanto, vai elevar a hierarquia, reduzindo o número de intermediários nas discussões — outro efeito será diluir a influência militar.
— Aqui nós temos Inteligência de Exército, GSI, Abin, Marinha, Aeronáutica… A verdade é que nenhuma dessas Inteligências serviu para avisar o presidente da República que poderia ter acontecido isso — afirmou Lula em 18 de janeiro, dez dias após a ação golpista na Praça dos Três Poderes.
Veja os 38 ministros do governo Lula
Auxiliares do presidente avaliam que as diferentes agências de Inteligência do governo não dialogaram entre si para avisar o Planalto sobre os riscos de ataques, gerando um “apagão”.
No governo Lula, a Abin saiu do escopo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e foi levada para a Casa Civil. Embora esteja dentro da estrutura chefiada pelo ministro Rui Costa, a agência tem autonomia para comandar a reformulação da Inteligência. Corrêa tem tratado do tema diretamente com Lula, e Costa vem sendo informado das discussões.
Mudança também interna
O movimento do presidente também tenta fortalecer a imagem da instituição. Como revelou O GLOBO, durante o governo de Jair Bolsonaro, a agência usou um sistema secreto para monitorar até dez mil proprietários de celulares.
- CPI do 8 de Janeiro: base do governo pede convocação de líder ruralista citado em relatório da Abin
A Abin prepara ainda uma reformulação na própria estrutura, com a criação do Departamento de Inteligência Externa, o que vai ampliar o foco da análise de Inteligência na área internacional. Um exemplo disso é que o Brasil passará a se colocar como ponto focal para tratar de temas de terrorismo na África.
Enquanto se reestrutura, a Abin tem revisitado seus interlocutores em cada ministério e tentado facilitar protocolos de contato — nem mesmo mensagem por WhatsApp será descartada quando necessário. A agência planeja intensificar o envio de análises para as pastas e assumirá a tarefa de produzir relatórios de Inteligência sobre políticas públicas que o governo vem desenvolvendo.
Isso já tem sido feito para temas ambientais, como na operação humanitária na Terra Indígena Yanomami, mas o objetivo é ampliar para outras áreas. Uma das possibilidades é o mapeamento, por exemplo, de populações que vivem em áreas de risco, para direcioná-las ao programa Minha Casa, Minha Vida.
Também está em elaboração um protocolo específico para casos de violência nas escolas, o que será discutido nas próximas semanas com o Ministério da Educação. Outro debate interno é a ampliação das ações regionais, com as superintendências mais fortes e a integração com as polícias nos estados.
Inscreva-se na Newsletter: Jogo Político