Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o ministro dos Transportes, Renan Filho, evitou demonstrar incômodo com a entrada do PP de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, no governo federal — os dois são adversários históricos em Alagoas, estado que o filho do senador Renan Calheiros (MDB) governava até abril do ano passado. No entanto, ao ser perguntado sobre o caso da compra de kits de robótica, pelo qual Lira chegou a ser investigado até que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulasse as provas já obtidas, o ministro aproveitou para alfinetar o rival:
— A decisão do STF precisa ser cumprida, mas o caso dos kits de robótica é um tema nebuloso e antigo. As pessoas lá sabem bem o que aconteceu, e é importante que aquela investigação, se não cumpriu os requisitos que a legalidade impõe, que seja feita outra investigação para que as coisas sejam esclarecidas. É isso que o povo alagoano espera — afirmou Renan Filho, acrescentando que os kits teriam sido entregues em escolas que não tinham sequer energia elétrica.
No começo do mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, anulou todas as provas que envolvem Lira na investigação sobre os kits de robótica, atendendo a um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR). O magistrado entendeu que, como havia indícios da participação do presidente da Câmara desde o início da apuração, o caso deveria ter tramitado desde o princípio na Suprema Corte por conta do foro privilegiado de parlamentares.
Apesar do comentário sobre o rival político, Renan Filho minimizou a animosidade entre ambos ao afirmar que "não tem inimigos" e que vê Lira apenas como um adversário local. Em seguida, ele elogiou os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ampliar sua base aliada no Congresso, o que inclui o embarque iminente do PP de Lira e do Republicanos no governo.
— Eu não me considero inimigo de ninguém, mas somos adversários, sim — disse o ministro, antes de prosseguir: — Todo presidente da Câmara tem seu papel, mas nenhum presidente de Câmara ou do Senado pode aprovar nada sozinho. O presidente (Lula) faz agora um esforço adicional para ampliar sua base. Acho que é inteligente o trabalho que faz e, do começo do ano para cá, nunca houve refluxo.
Esposa no TCE
Na entrevista, o ministro ainda negou que tenha havido nepotismo ou imoralidade ao indicar a mulher, Renata Calheiros, a uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Alagoas. Até abril do ano passado, quando se licenciou para disputar — e vencer — uma vaga no Senado, Renan Filho ocupava o cargo de governador. Portanto, Renata poderia vir a ser uma das responsáveis pela avaliação da prestação de contas do marido.
— A Renata tem uma participação muito importante no estado, e a vaga era de indicação da Assembleia Legislativa. Abriu o edital e ela se inscreveu. Eu apoiei, mas quem escolheu foram os deputados. Numa democracia, ninguém pode ser impedido de disputar uma vaga — afirmou, ainda no Roda Viva.
Em dezembro do ano passado, o emedebista conseguiu garantir a vaga aberta no Tribunal de Contas do estado para sua mulher, Renata Calheiros. Após ser indicada, ela teve a candidatura aprovada no dia seguinte.
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