Alvo de um mandado de prisão expedido pela Polícia Civil de Roraima na manhã desta segunda-feira, o ex-senador Telmário Mota é acusado de ter mandado matar sua ex-mulher, Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos. Há dez meses fora do Senado Federal, Telmário ocupou uma cadeira no Congresso Nacional entre 2015 e 2022, mas não foi reeleito nas eleições do ano passado, quando obteve pouco mais de 19 mil votos e terminou em terceiro lugar na disputa.
Pouco antes das eleições, em agosto de 2022, a filha de 17 anos de Telmário com Antônia o acusou de estupro e registrou um boletim de ocorrência contra o ex-parlamentar. Na ocasião, a adolescente afirmou que ele a forçou entrar no carro e tocou suas partes íntimas.
Formado em economia e contabilidade, antes do Senado Federal, entre 2008 e 2012, Telmário foi vereador de Boa Vista, capital de Roraima. Ele assumiu a vaga por ter ficado como primeiro suplente na eleição municipal de 2004.
À época, o ex-senador era filiado ao PDT. Em 2017, contudo, terminou expulso da sigla por ter votado a favor da PEC do teto dos gastos públicos. Com a saída definida, Telmário começou a indicar que iria pedir filiação ao PTB, partido chefiado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson.
A filiação ao PTB foi confirmada em fevereiro de 2017. Nas eleições do ano seguinte, ele foi candidato ao governo de Roraima pelo partido, mas ficou em último lugar no páreo, com menos de dez mil votos. Durante a campanha, o parlamentar se dizia "doido" e pedia para que a população do estado o desse uma chance por isso.
No ano seguinte, filiou-se ao PROS. Após o perder o pleito de 2022, contudo, deixou o partido e migrou para o Solidariedade, sigla da qual se desfiliou no último dia 17.
Atuação no Congresso
No Senado, Telmário defendeu o garimpo e criou projetos de lei para proibir a destruição de maquinários apreendidos com suspeitos de exploração ilegal.
Em 2021, o senador apresentou um projeto de lei para dar fim ao porte de armas para agentes do Ibama que atuem em campo no combate a crimes ambientais. Esse direito é previsto na Lei de Proteção à Fauna.
Em 2016, foi relator do processo de cassação de Delcídio do Amaral, aprovado por unanimidade. O político, que estava sem partido e representava Mato Grosso do Sul, foi cassado por quebra de decoro por tentar obstruir a investigação da Lava-Jato.
No mesmo ano, Telmário também foi relator do processo de cassação de Romero Jucá, quem dizia ser seu rival político. O processo não teve o apoio dos parlamentares, mas a rivalidade entre os dois políticos permaneceu. Em 2019, em audiência, o ex-senador chamou o ex-líder do PT de "ladrão":
— Faço parte desta Comissão e vim ficar aqui, mas lamento que aqui, na vaga dos Senadores, esteja um lobista, ex-senador, um cara envolvido em corrupção. Desse jeito, é impossível ficar aqui. Retiro-me — disse ao levantar da cadeira e sair da sala.
Em outro embate, Telmário tirou uma fotografia com uma cobra sucuri envolta no pescoço e aproveitou o momento para afrontar o rival. A imagem foi publicada como um meme, no qual o ex-senador escreveu: "não tenho medo de sucuri, imagina de caju", se referindo ao apelido dado a Jucá em pagamentos pela Odebrecht em 2017, no auge da operação Lava-Jato.
Em 2020, o Ministério Público Federal o investigou por suposto desvio de verbas da pandemia. Por este motivo, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), impediu o contato entre Telmário e o senador Chico Rodrigues (União-RR), que havia sido flagrado com mais de R$ 33 mil na cueca. Nas eleições do ano passado, ele declarou um patrimônio de R$ 3,528 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em um outro caso que envolve corrupção, a médica Suzete Oliveira, que é esposa do ex-senador, foi condenada em segunda instância a seis anos e oito meses de prisão em 2016 por envolvimento no esquema de desvio de verbas públicas conhecido como 'escândalo dos gafanhotos'. Ela se entregou a polícia e foi solta no mesmo mês após a juíza do caso conceder habeas corpus.
Agressão contra jovem
Em 2015, uma jovem de 19 anos, com quem Telmário mantinha um relacionamento, o acusou de tê-la agredido "até desmaiar". Maria Aparecida Nery de Melo afirmou à polícia que tinha relações com o então senador desde quando tinha 16 anos. Um mês depois, ela pediu para retirar a queixa sob a alegação de que se machucou ao tentar agredir o ex-senador.
No entanto, a denúncia não pôde ser retirada, e foi encaminhada à Procuradoria de República (PGR), por conta do foro privilegiado do parlamentar. O ministro Gilmar Mendes, do STF, autorizou a abertura de uma investigação sobre o caso em agosto de 2016.
Em depoimento, a jovem afirmou ter mantido um relacionamento com o parlamentar por três anos e meio e alegou que, no período em que estiveram juntos, houve outras agressões físicas e ameaças. O então senador admitiu que os dois tiveram um relacionamento, mas negou as agressões.
O resultado de um exame de corpo de delito presente no pedido de investigação da PGR constatou lesões na cabeça, boca, orelha, dorso, braço e joelho da jovem. A procuradoria quer que Telmário, a estudante e o advogado que a acompanhou quando ela foi à polícia sejam ouvidos novamente.
Festa na pandemia e teoria conspiratória
Enquanto Roraima passava pela fase mais grave da pandemia da Covid-19, em janeiro de 2021, o então senador promoveu uma festa com aglomeração na Praça do Grêmio, no Centro de Rorainópolis. Telmário afirmou ao g1 que o evento já estava programado e que todos que recebiam a pulseira, também recebiam máscara.
Em 2017, uma fala do ex-senador no Plenário do Senado viralizou nas redes sociais. Telmário reafirmou uma teoria conspiratória que indicava que um planeta X7, conhecido como “Nibirú”, iria colidir com a Terra.
Ainda que a Agência Espacial Americana (Nasa) tenha confirmado que o Nibirú não existe, o ex-parlamentar disse ter recebido informações da agência de que que iria ocorrer a colisão e que este seria o fim do "ciclo atual" do planeta Terra.
O ex-senador também foi acusado de ter participado de uma rinha de galos em 2016. Em depoimento dado à época, ele negou ter participado das competições com animais, descoberta pela polícia numa chácara em que estava para um aniversário.
Em 2005, Telmário respondeu por acusações de ter participado de uma rinha de briga de galo, quando ainda não era parlamentar, mas foi absolvido pela Primeira Turma do STF. O parlamentar também era acusado de apologia ao crime e quadrilha, por supostamente ter defendido a prática e se associado a outras três pessoas para realizar as competições em três municípios do estado.
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