Política
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Por O Globo — Rio de Janeiro

A fazenda Caçada Real, propriedade de 1.200 hectares do ex-senador Telmário Mota em Roraima, foi declarada por ele, à Justiça eleitoral, no valor de R$ 3,3 milhões e chegou a ser invadida por dois grupos de javalis, em julho de 2021. Foi nessa fazenda, segundo a Polícia Civil, que o político criou um "centro de treinamento" para o grupo que assassinou a sua ex-mulher, Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos. Apontado como mandante do crime, ele foi alvo de uma operação deflagrada pela Polícia Civil de Roraima nesta segunda-feira, mas só foi preso horas depois, à noite, em Goiás.

Na eleição de 2018, quando saiu derrotado na corrida pelo governo de Roraima, Telmário Mota declarou à Justiça eleitoral ter, entre seus bens, um veículo ano 2016 de R$ 27 mil e 305 "bicos de aves da raça combatente", mais conhecidos como "galos de briga", avaliados por ele em R$ 200 mil (R$ 655 por ave). No patrimônio, o bem mais valioso do candidato era a fazenda Caçada Real;

"Uma área rural com 1.200 há [hectares], com quatro edificações no município de Boa Vista, na gleba Cauamé, denominada Fazenda Caçada Real", declarou o postulante ao governo.

Anos depois, em julho de 2021, o político contou que a propriedade havia sido invadida por grupos de javalis. A primeira invasão, segundo ele, ocorreu na sede da fazenda e incomodou galinhas e cachorros.

"Eu havia chegado de Brasília, entrei em casa, e a empregada avisou que tinham muitos porcos incomodando os animais da fazenda. Era realmente uma quantidade muito grande. Eles atacavam os cachorros, atacando as galinhas. Me assustei, pois são animais perigosos, fomos gritando para espantar eles, não demorou uns 10 minutos para eles irem embora", relatou, na ocasião.

Animais são espantados com trator em fazenda do ex-senador Telmário Mota, em Boa Vista — Foto: Reprodução
Animais são espantados com trator em fazenda do ex-senador Telmário Mota, em Boa Vista — Foto: Reprodução

Outro grupo de animais ainda invadiu a plantação de milho da fazenda e foi afastado com um trator.

Crime 'preparado' em fazenda

A informação de que o grupo se preparou para o crime na fazenda do político antes de sua execução foi divulgada pelo titular da Delegacia Geral de Homicídios de Roraima, João Evangelista, durante coletiva de imprensa. A relevância do local para os executores era tamanha que nome da propriedade foi usado para batizar a operação Caçada Real, deflagrada nesta segunda-feira para desarticular o bando.

— O nome da operação se reporta a um local onde houve não apenas o planejamento, não apenas a reunião do grupo, como até um treinamento antes da execução — explicou o delegado.

O imóvel consta na declaração de bens de Telmário Mota apresentada à Justiça Eleitoral em 2022, quando ele tentou a reeleição ao Senado, sem sucesso. Nos dados repassados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o político informou que a fazenda era avaliada em R$ 3,3 milhões, tendo 1.200 hectares — o equivalente a mais de mil campos de futebol, aproximadamente. Em 2021, o local ganhou notoriedade após o então senador afirmar que a propriedade havia invadido por aproximadamente cem porcos.

O ex-senador Telmário Mota — Foto: Waldenir Barreto/Agência Senado
O ex-senador Telmário Mota — Foto: Waldenir Barreto/Agência Senado

A polícia esteve na fazenda nesta segunda-feira em busca do ex-parlamentar, mas ele não foi encontrado no local, já que teria fugido para Goiás ao saber que era procurado. Os agentes também fizeram buscas em um apartamento do político em Brasília. Ao todo, a Justiça expediu três mandados de prisão e sete de buscas e apreensão, mas inicialmente só um alvo foi encontrado.

Leandro Luz da Conceição, apontado como suspeito de ter dado o tiro que matou Antônia, foi preso em Caracaraí, no interior de Roraima. Já o sobrinho do ex-senador, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como Ney Mentira, suposto responsável por organizar o assassinato com o tio, é considerado foragido.

Antônia foi morta com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro, por volta das 6h30, quando saía de casa para trabalhar. O crime foi executado por duas pessoas em uma moto. Conforme a investigação, a decisão de matá-la partiu de uma reunião na fazenda Caçada Real.

Ney Mentira, então, teria comprado a moto utilizada pelos criminosos. Ainda segundo os investigadores, o veículo foi adquirido por R$ 4 mil em espécie, estava em nome de outra pessoa e tinha documentação irregular. O sobrinho do ex-senador já era alvo de acusações de homicídio qualificado, estelionato, roubo majorado, furto qualificado e apropriação indébita.

Após a compra da moto, ainda segundo a polícia, Ney Mentira a entregou para a então assessora de Telmário Mota, que levou o veículo até uma oficina para a realização de reparos e revisão. Em seguida, a mesma mulher entregou a moto aos autores do crime em local indicado pelo sobrinho do político.

Depoimento

Na coletiva de imprensa desta segunda-feira, o delegado também falou sobre as motivações do crime, afirmando que uma das possibilidades é o depoimento que Antônia Araújo de Sousa daria sobre um crime de estupro envolvendo o político e a própria filha do ex-casal. Em agosto de 2022, a jovem de 17 anos o acusou de abuso sexual e registrou um boletim de ocorrência contra ele. Na ocasião, a adolescente afirmou que ele a forçou entrar no carro e tocou suas partes íntimas.

— Existem alguns processos de pedidos judiciais acerca de valores e pensões e, além disso, existe o processo criminal dando conta do envolvimento do ex-senador em um crime de estupro, onde a vítima seria a própria filha. E a vítima (Antônia Araújo de Sousa) desse caso de homicídio seria ouvida. Ela seria ouvida em uma segunda-feira e foi morta na sexta-feira da semana anterior — explicou o delegado.

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