Candidato à Presidência no ano passado, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes afirmou nesta segunda-feira que sua ala no PDT "não aceita suborno". A declaração ocorreu três dias após o encontro do partido no Rio de Janeiro em que quase chegou as vias de fato com o seu irmão, o senador Cid Gomes. Atualmente, os dois políticos dividem a sigla e travam uma queda de braço por discordarem sobre o apoio ao governador Elmano de Freitas (PT): enquanto Ciro deseja que o partido siga pela oposição, Cid crê que o melhor caminho é ser base e retomar a aliança de anos com o PT.
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Três dias após o evento em que discutiu de forma acalorada com o irmão, Ciro compareceu a convenção estadual do PSDB, em um sinal de apoio ao ex-senador tucano Tasso Jereissati. Em seu discurso agradeceu a recepção e alfinetou o grupo de Cid:
— O Ceará, Fortaleza, precisa muito de Tasso Jereissati e do PSDB. E contem conosco, contem conosco, porque esse pedaço de PDT que tá aqui não aceita suborno — disse o ex-governador, ao lado de políticos de sua ala, como o atual prefeito de Fortaleza José Sarto e o antecessor, Roberto Cláudio.
Três dias após briga com Cid, Ciro Gomes diz que seu pedaço do PDT 'não aceita suborno'
A disputa na capital do Ceará no ano que vem representa um ponto de discordância entre os irmãos. Enquanto Ciro defende a reeleição de Sarto, o grupo de Cid não tem afeição pelo atual prefeito e quer uma aliança eleitoral com o PT.
Neste mesmo evento, Ciro criticou Elmano de Freitas no estado:
— Nosso Estado do Ceará está sendo destruído daquele caminho que nós trilhamos tá sendo destruído pela traição, tá sendo destruído pelo descompromisso (...) O nosso estado hoje no Ceará não se realiza uma obra pública sem pagar propina, uma obra pública sequer se realiza nesse estado sem problemas — acusou Ciro Gomes.
Outro irmão: 'Vou para onde Cid for'
Em meio a briga entre Cid e Ciro, o prefeito de Sobral Ivo Gomes, cidade natal da família, publicou uma mensagem em seu perfil no Instagram de apoio ao senador. Ao ser questionado por um internauta sobre a situação do PDT, Ivo respondeu: "Vou para onde o Cid for".
Em outras quedas de braço entre os irmãos mais velhos, Ivo já havia se colocado ao lado do senador. A fala da publicação destoa de uma declaração de Ivo em maio deste ano. Em entrevista a um site local, o prefeito de Sobral afirmou que o conflito entre os irmãos políticos "um dia vai ser superado".
Entenda o imbróglio
Antes da fala de Ciro e o encontro no Rio, André Figueiredo e o senador Cid Gomes já vinham somando entraves. Com o aval de Ciro, Figueiredo destituiu a Executiva do Ceará, que acabou reestabelecida via liminar.
Após a retomada, Cid convocou novas eleições locais e foi eleito presidente estadual. Horas depois, contudo, com outro acionamento judicial, o grupo de Ciro Gomes o retirou do posto, e o comando cearense voltou às mãos de Figueiredo.
Na última sexta-feira, a Executiva nacional interviu no diretório estadual. Após a manobra, Cid convocou seus aliados para discutir "coletivamente a situação do partido" na próxima quinta-feira (9).
As divergências entre os grupos do senador e do ex-presidenciável ocorrem desde o ano passado e circundam o mesmo tema: o apoio ao PT. Assim como fez no segundo turno das eleições, a ala de Cid defende que o partido retome a aliança e seja base do governador Elmano de Freitas, enquanto os ciristas preferem que a sigla fique na oposição.