Política
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Por e — Rio de Janeiro

Passado um ano da corrida presidencial mais acirrada desde a redemocratização, especialistas se dividem sobre a influência da polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais de 2024. Os dois buscam pautar disputas em grandes centros e ampliar sua base de prefeitos, mirando um “terceiro turno” do pleito de 2022. Há dúvidas, porém, sobre a capacidade de figuras nacionais ditarem a agenda de eleições que, via de regra, se voltam para temas locais.

— A importância da questão local é uma lei de ferro nas eleições municipais, difícil de ser quebrada — resume o cientista político João Feres, coordenador do Observatório do Legislativo Brasileiro na Uerj. — O PT vai tentar um “efeito Lula”, mas isso não ocorre em todas as regiões. E a agenda de valores mobilizada pelo bolsonarismo pode ser muito abstrata no contexto dos municípios.

Já o cientista político Felipe Nunes, diretor do instituto de pesquisas Quaest, vê indicativos de que a polarização pode ter papel significativo, mas aponta para diferentes perfis de disputas. Para ele, a polarização deve ser mais decisiva nas metrópoles, e o debate deve se concentrar nas gestões locais nas cidades pequenas e em regiões em que o voto foi mais homogêneo na eleição presidencial.

Principais disputas — Foto: Editoria de Arte
Principais disputas — Foto: Editoria de Arte

— Nas metrópoles, é o prefeito que pode vetar ou dar vazão aos debates sobre as escolas municipais abordarem sexualidade ou não, sobre qual vai ser o livro utilizado. A polarização vai chegar nas eleições municipais — afirma.

Por ora, Lula e Bolsonaro têm mergulhado na definição de candidaturas justamente nos dois maiores colégios eleitorais: São Paulo e Rio. Na capital fluminense, o ex-presidente ungiu no último mês o deputado Alexandre Ramagem (PL) como pré-candidato, com o objetivo de fazer contraponto ao prefeito Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula. Na capital paulista, o petista dividiu palanque há uma semana com seu pré-candidato à prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL), e distribuiu críticas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que negocia uma aliança com Bolsonaro.

Com o ex-titular do Palácio do Planalto de cabo eleitoral, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estipulou a meta de eleger “mil prefeitos”, o triplo do conquistado em 2020. Já o PT ampliou suas prefeituras entre 2004 e 2012, quando ocupou a Presidência.

Para o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político e Eleitoral na UFRJ, a oscilação de Bolsonaro entre apoiar Nunes ou lançar um candidato do PL em São Paulo é um exemplo tanto da expectativa de nacionalização em 2024, quanto da intenção de lideranças nacionais de assumirem as rédeas da campanha.

— A eleição de São Paulo é o terceiro turno de 2022. Lula teve mais votos do que Bolsonaro na cidade, e entende que se vencer ali de novo sai fortalecido para 2026 — avalia.

Em capitais como Porto Alegre e Belém, essa expectativa tem levado pré-candidaturas a se aglutinarem em palanques lulistas e bolsonaristas. Já no Nordeste, região onde Lula foi bem votado, Bolsonaro escalou ex-ministros para marcarem posição contra aliados do atual presidente.

Transferência de voto

O cientista político Murillo de Aragão, diretor da Arko Advice, lembra que estratégias semelhantes foram adotadas em 2020, muitas vezes sem render vitórias. O PT, que buscava reagir após o declínio da Lava-Jato, lançou candidatos na maioria das capitais recorrendo à imagem de Lula, que havia deixado a prisão no ano anterior. Nenhum foi eleito.

Bolsonaro, que ofereceu apoio errático, foi cabo eleitoral cobiçado por candidatos como o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). Mal avaliado, ele perdeu para Paes, que evitou à época mostrar preferência por quaisquer lideranças nacionais, diferentemente da tática atual.

— Bolsonaro e Lula têm influência, mas sozinhos não elegem prefeitos. Em muitos casos, vai depender do patamar de rejeição desses gestores — diz Aragão.

Um dos fatores usados na eleição de 2022 por Lula e Bolsonaro para alimentar rejeição entre si, a agenda de costumes costuma ser mobilizada em municípios menores, sob o formato de “campanha suja”, na avaliação da cientista política Hannah Maruci. Doutora pela USP e pesquisadora da participação feminina em disputas eleitorais, ela avalia que esta agenda tende a perpassar as campanhas em 2024.

— Isso se mistura a uma dinâmica quase de fofoca, mas tem efetividade grande.

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