Em reunião ministerial ocorrida em 5 de julho de 2022, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) Augusto Heleno pediu a palavra para defender que seria preciso "agir" contra "instituições e pessoas" antes das eleições presidenciais daquele ano. O vídeo do encontro, revelado pela coluna de Bela Megale, foi citado no inquérito da Polícia Federal como prova que "revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da cúpula do governo" passado. As imagens foram mencionadas na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, na qual o magistrado autorizou mandados de busca e apreensão e prisão da Operação Tempus Veritatis, que teve como alvos o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
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— Não vai ter revisão do VAR. O que precisa ser feito, precisa ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições, se tiver que virar a mesa é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva, eles vão fazer tão bem feito, a conversa do [ministro do STF Edson] Fachin foi com os embaixadores para eliminar as condições de o VAR acontecer. No dia seguinte, todo mundo reconhece e fim de papo. Tem que ficar bem claro: as coisas têm que ser feitas antes das eleições — disse Heleno, frisando que algo precisaria ser realizado antes das eleições de 2022 em que Bolsonaro saiu derrotado.
'Virar a mesa é antes das eleições', diz Augusto Heleno, então ministro do GSI
— Vai chegar um ponto em que a gente não vai poder falar, vai precisar agir, agir contra determinações instituições e pessoas — acrescentou Heleno, sem mencionar quem seriam as "instituições e pessoas" que deveriam ser atacadas pelo governo.
Antes de discursar sobre "virar a mesa", Heleno iniciou a sua fala dizendo que estava trabalhando na infiltração de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em campanhas eleitorais, segundo análise feita pela Polícia Federal.
— Primeiro, o problema da inteligência, eu conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar os dois lados que estão fazendo disso. (...) O problema disso é se vazar qualquer coisa (...). A gente se conhece nesse meio, se houver qualquer acusação de infiltração desses elementos na Abin em qualquer lugar (...) — disse Heleno, que logo em seguida foi interrompido pelo então presidente de maneira ríspida. Bolsonaro lhe pediu para evitar vazamentos e tratarem desse assunto de forma reservada.
— General, eu peço que o senhor não fale. Por favor, não prossiga na tua observação, se a gente começar a falar: 'não vazar', então, esquece, pode vazar, o que por ventura a Abin está fazendo — disse Bolsonaro.
Tanto Bolsonaro como Heleno foram alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF nesta quinta-feira. Eles são investigados por tentativa de articular um golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito para impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder.
Tempus Veritatis :
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