O vídeo da reunião realizada no Palácio do Planalto, em 5 de julho de 2022, revela o temor do ex-presidente Jair Bolsonaro e de ministros de serem presos em caso de derrota nas eleições. O então chefe do Executivo alertou sobre a possibilidade de ser detido por “ato antidemocrático”, enquanto Anderson Torres, então titular da Justiça, disse que eles iriam “se foder” caso Luiz Inácio Lula da Silva vencesse o pleito. Houve ainda temor entre presentes no encontro de a reunião estar sendo gravada e as imagens virem a público, como acabou ocorrendo nesta sexta-feira, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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— Eu não tenho dúvida do que está acontecendo. Não tenho prova de muita coisa, mas não tenho dúvida. (...) Eu tenho que me virar acreditando que vai dar tudo certo ano que vem? Eu vou descer daqui da rampa preso por atos antidemocráticos — disse Bolsonaro.
Esse não é o único momento em que Bolsonaro manifesta preocupação. Quando o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirma ter conversado com um diretor da Agência Brasileira de Investigação (Abin) sobre infiltrar espiões em campanhas, Bolsonaro pede para que eles “conversem em particular” sobre o tema.
Na reunião, Anderson Torres diz que todos iriam “se foder” em caso de derrota e que os presentes tinham “medo” porque o cenário era “ameaçador”. O ministro fez referência ainda à ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez, presa sob a acusação de participar de um golpe.
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— Tem muitos aqui que eu não sei nem se têm estrutura pra ouvir o que a gente está falando aqui. Com todo o respeito a todos. Mas eu queria começar por uma frase que o presidente colocou aqui, que eu acho muito verdadeira(..). Senhores, todos vamos se foder! (sic). Eu quero deixar bem claro isso. Eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vamos se foder (sic). Não tenho dúvida disso — declarou Torres.
Temor por gravação
O então ministro da Justiça disse que todos tinham um medo “velado” diante do que considerou uma “ameaça”:
— Existe o medo, presidente, velado, hoje, e todos aqui têm esse medo. Realmente é ameaçador o que está acontecendo. Do lado de lá, é ameaça direta, de lá para cá.
Secretário de Segurança do Distrito Federal durante os atos do 8 de janeiro, Torres estava nos EUA no dia dos ataques. Ele voltou ao Brasil no dia 14, foi preso e solto 117 dias depois, em maio.
Em um outro trecho, Bolsonaro sinalizou aos presentes que o encontro não estaria sendo gravado por completo e que teria mandado gravar apenas a fala dele. No momento, o ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, interrompe a própria fala para questionar:
— A reunião está sendo gravada? — pergunta Rosário, que recebe um “não” do ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto e a sinalização de negativo com os dedos do presidente.
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