Adversário do prefeito Eduardo Paes (PSD) nas eleições de 2020, o senador e ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella lamentou o rompimento entre o gestor carioca e seu partido, o Republicanos, que estariam juntos nas eleições municipais deste ano. Em entrevista ao GLOBO, Crivella caracterizou as exonerações de seus aliados e o cancelamento da licitação da ONG Contato como medidas "irreversíveis".
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— Eu lamento porque eu acho que essa demissão causa uma situação irreversível. O ideal seria ter conseguido rever o contrato de licitação, de valores e readequar os serviços — afirmou o ex-prefeito.
A ONG citada por Crivella é motivo de disputa política, por ter sido citada nas investigações do assassinato de Marielle após recebimento de emendas parlamentares de Chiquinho Brazão. Preso, o deputado é alinhado ao grupo político do Republicanos e acusado de ser o mandante do crime. A suspeita é de que a instituição teria sido usada para lavar dinheiro. O caso atualmente é investigado pela Polícia Federal. Neste contexto, o prefeito optou por cancelar a licitação e pelo rompimento.
Com um passado de rusgas com Paes, Crivella disse ainda que estava convicto a seguir a orientação partidária e subir no palanque de seu antigo adversário:
— Não tenho nada contra Eduardo (Paes) e nem disse que não subiria em seu palanque. Agora, o partido vai se reunir no Rio, tomar uma decisão e nos vamos acatar. Eu sou soldado do Republicanos — finalizou.
Apesar da declaração, Crivella vinha indicando nos bastidores que não subiria no palanque do prefeito. A postura adotada seria de neutralidade. O tom mais pacífico do ex-prefeito do Rio tem como pano de fundo seu interesse em concorrer ao Senado em 2026, quando o Rio poderá escolher dois parlamentares. No lado da direita bolsonarista, dois nomes já disputam o eleitorado: Flávio Bolsonaro (PL), que tentará à reeleição, e possivelmente o governador Cláudio Castro (PL), que já está em seu segundo mandato no Executivo.
O cálculo político do ex-prefeito é que faltaria espaço para ele disputar legenda no lado do bolsonarismo, podendo eventualmente recorrer a Eduardo Paes para integrar a coligação. Pré-candidato à reeleição, Paes não esconde seu desejo em disputar o governo do estado em dois anos.
Rusga com Republicanos
Nesta terça-feira, o Diário Oficial do município do Rio amanheceu com mudanças substanciais na política fluminense. Pré-candidato à reeleição e em troca do apoio da sigla, Paes havia nomeado o aliado do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, Marcus Vinicius Medina Costa, na Secretaria de Habitação.
O novo ocupante será Gustavo Freue, atual chefe de gabinete do presidente da Câmara dos Vereadores, Carlo Caiado, que tem uma relação de longa data com o prefeito, já tendo chefiado a Secretaria de Esportes em seu segundo mandato.
Em nota, o Republicanos afirmou que a saída da prefeitura foi motivada pelo não cumprimento de acordos firmados com o prefeito. "Quando aceitamos firmar a aliança, foram cumpridos, onde filiações de candidatos na legenda não foram feitas, nomeações saindo em conta gotas, a maioria travadas, obras prometidas e não iniciadas, sem a menor garantia de sua real execução, além do impacto no resultado da nossa chapa de vereadores, desses compromissos assumidos, mas não realizados a contento", diz trecho de posicionamento.
Segundo o partido, a relação de confiança foi quebrada "pelas insinuações divulgadas acerca dessa suposta contratação, onde frisa-se, que os reais vencedores dessa licitação, já prestam serviços a prefeitura em outras secretarias, além de também prestarem serviços em emendas parlamentares de deputados aliados do prefeito, sem qualquer indício de nenhuma irregularidade".
Desde o final do ano passado, Eduardo Paes se aproximou do Republicanos com uma aliança que foi consolidada a partir da posse de Chiquinho Brazão na Secretaria de Ação Comunitária.
Desde que o deputado deixou a gestão de Paes, um mês antes de sua prisão, a relação entre o prefeito e o partido sofreu turbulências. No mês passado, Marcus Vinicius foi indicado para a Secretaria de Habitação por sua proximidade com um dos articuladores do Republicanos, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.
Apesar do cargo, a insatisfação continuou. Desta vez, com o espaço no secretariado do prefeito e sua real influência. Neste contexto, o partido ameaçou dar para trás no acordo com o prefeito e apoiar outro candidato.
Além de Marcus Vinicius, os presidentes da Rioluz, Raoni César Ras, e do IplanRio, Michell Yamasaki Verdejo, ligados ao Republicanos e próximos ao prefeito de Belford Roxo, Waguinho, também foram afastados de seus cargos.
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