Uma das famílias mais conhecidas da política do Rio vive uma disputa interna pelo controle da influência do grupo. Os ex-governadores Anthony Garotinho (Republicanos) e Rosinha e seus filhos, Clarissa e Wladimir (PP), prefeito de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, protagonizam uma crise distante do fim. Em lados opostos estão pai e filho; entre eles, a mãe, que recentemente expôs nas redes sociais a briga num desabafo contado por meio de trechos bíblicos. Os desentendimentos ainda envolvem a ex-deputada federal Clarissa, que saiu em defesa dos pais.
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Garotinho tem confidenciado a amigos que o filho busca ser um líder político e, para isso, isolou o pai em Campos, seu reduto eleitoral. Wladimir teria cooptado aliados e impedido Garotinho de formar nominatas de candidatos a vereador em siglas que fazem parte da base de sua gestão.
Segundo interlocutores do ex-governador, Garotinho se ressente também de o filho, candidato à reeleição, não ter delegado a ele a articulação política do governo. Já aliados de Wladimir afirmam que o prefeito quer ter vida política própria, sem interferência do pai que, para seu grupo, “exagera no jeito beligerante”.
Em meio ao conflito, Garotinho perdeu o controle do diretório municipal do PL em Campos, partido que abrigaria seus aliados nas eleições deste ano. Numa articulação que passou pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Wladimir indicou a executiva local, levando a sigla à base de seu governo.
Garotinho havia acertado o controle do diretório com outros caciques da direção estadual, mas perdeu a queda de braço para o filho, que inviabilizou seus planos. O ex-governador encontrou abrigo no Republicanos, legenda pela qual disputará vaga na Câmara Municipal do Rio.
Wladimir ainda teria contribuído para afastar o pai do governador Cláudio Castro (PL), seu aliado. Adversários do prefeito vão além nas críticas e afirmam que aliados dele teriam contribuído para inviabilizar juridicamente Garotinho. Até o ano passado, o ex-governador estava inelegível.
A briga entre pai e filho, que alimentava rodas de conversas em Campos, veio a público no estado pelas redes sociais após Rosinha — que a amigos confessa a angústia de ver os desentendimentos — postar mensagens direcionadas, indiretamente, a Wladimir. Evangélica, recorreu a trechos bíblicos para falar de “sua dor”.
“Já é bíblico que chegaria o tempo em que os filhos se voltariam contra seus pais”, disse Rosinha no Instagram no início deste mês. “Eu só não me preparei pra passar por isso dentro da minha família”, prosseguiu. A ex-governadora afirmou que o herdeiro enaltece os pais “em público” apenas por “interesses pessoais”, mas “no secreto humilha, pisa, nos neutraliza como se fôssemos um fantoche”.
Briga entre irmãos
Clarissa, distante do irmão há um ano, apoiou a mãe num comentário: “É triste, mas te entendo. Infelizmente nem tudo pode ser escrito. Fica bem!”. Clarissa e Wladimir se afastaram após o prefeito ser contra a candidatura da irmã ao Senado em 2022. Ele apoiava o petista André Ceciliano e, segundo interlocutores, cobrava da irmã a reeleição para a Câmara dos Deputados, uma forma de garantir a manutenção do envio de emendas parlamentares a Campos. Por outro lado, há queixas de que nem sempre verbas indicadas por Clarissa foram creditadas pela administração municipal a ela, prejudicando a relação dos dois.
Wladimir publicou ontem em suas redes sociais uma mensagem de Dia dos Pais em que admite a contenda. Com uma foto beijando o ex-governador, ele tratou da crise familiar: “Sim, pai, estamos em um momento difícil do nosso relacionamento.”
Procurado, Wladimir informou por meio de sua assessoria que não vê ligação dele com a postagem de Rosinha, e que mantém contato com a família; já Rosinha e Garotinho não retornaram. Clarissa não quis comentar.
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