Política Eleições 2022

PT lançará aliado de Rui Costa para governo da Bahia

Decisão ocorre após desistência do senador Jaques Wagner e atritos com governador sobre sucessão. PP negocia desembarque
O senador Jaques Wagner (PT-BA), e governador da Bahia, Rui Costa (PT) Foto: Arquivo O Globo
O senador Jaques Wagner (PT-BA), e governador da Bahia, Rui Costa (PT) Foto: Arquivo O Globo

RIO — Após o impasse iniciado pela desistência do senador Jaques Wagner (BA) , o PT definiu ontem seu candidato à sucessão do governador da Bahia, Rui Costa: será o secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues, nome da preferência de Costa. A decisão ocorreu em reunião do diretório estadual do PT nesta sexta-feira, após uma semana com atritos entre o governador e Wagner, por divergências sobre a chapa. Agora, o grupo governista pretende envolver o ex-presidente Lula (PT) na negociação para manter o apoio do PP baiano, que prepara um desembarque da chapa petista.

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Rodrigues era um dos três nomes cotados internamente para assumir a candidatura no lugar de Wagner , junto à prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, e ao secretário estadual de Relações Institucionais, Luiz Caetano. Enquanto Moema tinha apoio de petistas históricos e do movimento sindical, Caetano apresentava maior interlocução com parlamentares e prefeitos, e era tido como possível nome de consenso entre Wagner e Costa — sua entrada no secretariado, em 2021, buscava articular a pré-candidatura do senador petista à sucessão estadual. Após recuar da corrida ao governo, Wagner endossou a ideia de ser substituído por um nome petista.

Embora tenha despertado resistências, por nunca ter concorrido a um cargo eletivo, Rodrigues despontou como nome mais próximo ao governador e colheu sinalizações de apoio de lideranças de PSD e MDB, siglas que o PT deseja ter em seu palanque. O secretário de Educação também fez elogios ao vice-governador João Leão (PP), buscando costurar o apoio da sigla. Petistas tentam convencer Leão a avalizar o nome do deputado federal Ronaldo Carletto (PP-BA) como vice de Rodrigues.

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Na quarta-feira, Leão manifestou incômodo com a articulação do PT e indicou que pode concorrer ao governo, abrindo um possível palanque para o presidente Jair Bolsonaro (PL), ou apoiar a pré-candidatura de ACM Neto, do União Brasil. Ele também avalia tentar o Senado, vaga que na chapa petista já é ocupada pelo senador Otto Alencar (PSD-BA).

Um dos apoiadores da escolha de Rodrigues foi o deputado Otto Alencar Filho (PSD), filho do senador, que defende um esforço para manter a aliança com o PP.

— No momento atual, acredito que seja melhor para o PT um nome de renovação. Ele (Rodrigues) é professor, tem perfil agregador. Esta é uma eleição em que, diferentemente de 2014 e 2018, não temos tanta certeza do que irá acontecer aqui na Bahia— disse Otto Filho ao GLOBO.

Costa se elegeu no primeiro turno em 2014 com apoio do então governador Jaques Wagner e sob desconfiança da cúpula do PT, que defendia nomes mais experimentados, como o próprio Caetano e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. Em 2018, foi reeleito também no primeiro turno. O governador alimentou o projeto de concorrer ao Senado ao fim do mandato, especialmente após a desistência de Wagner, quando tentou deslocar Otto Alencar para a chapa ao governo. O senador do PSD, no entanto, deixou claro que queria tentar a recondução ao Congresso.

Na última segunda-feira, ao anunciar que Costa não concorreria mais ao Senado, Wagner lembrou a postura que adotou em 2014, quando ficou sem mandato para acomodar aliados na chapa, e comparou o processo de escolha do atual governador naquele ano ao de Dilma Rousseff como sucessora de Lula em 2010. No mesmo dia, Costa mostrou incômodo com as declarações, negou que tivesse recuado da candidatura a senador e sugeriu que a imprensa fosse “cobrar de quem falou”.

Com a definição de Rodrigues como sucessor, aliados têm aconselhado Costa a concluir o mandato — ele também avaliou uma renúncia para concorrer a deputado federal —, para evitar que Leão assuma o governo e use a máquina estadual para se candidatar à revelia do PT.