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Política Eleições 2022

Resultados no futebol influenciam projetos eleitorais nos estados e impactam pré-candidatos em 2022

Presidentes de Grêmio e Bahia, cotados para chapas majoritárias, perdem força eleitoral após rebaixamento; em Minas, Kalil vê Atlético-MG mais distante em ano vitorioso
Kalil (à esquerda) teve atritos com atual cúpula do Atlético-MG; Bolzan e Bellintani tornaram-se alvos das torcidas de Grêmio e Bahia Foto: Montagem com fotos de Douglas Magno/O Tempo; Daniele Lentz/Grêmio; e Felipe Oliveira/Divulgação Bahia
Kalil (à esquerda) teve atritos com atual cúpula do Atlético-MG; Bolzan e Bellintani tornaram-se alvos das torcidas de Grêmio e Bahia Foto: Montagem com fotos de Douglas Magno/O Tempo; Daniele Lentz/Grêmio; e Felipe Oliveira/Divulgação Bahia

RIO - Rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro, Grêmio e Bahia deixaram seus dirigentes em situações incômodas, e não apenas no âmbito esportivo. O gaúcho Romildo Bolzan e o baiano Guilherme Bellintani, que apostavam na gestão do futebol como vitrine para disputar eleições a governos estaduais em 2022, agora correm contra o tempo para reverter o placar negativo. Em Minas Gerais, por outro lado, o ano vitorioso do Atlético-MG no gramado serviu de palanque para opositores do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ex-presidente do clube.

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Bolzan e Bellintani buscavam repetir o feito de Kalil, eleito na capital mineira em 2016 na esteira da popularidade como dirigente de futebol. Bolzan, ex-prefeito de Osório (RS), conduziu o Grêmio nos últimos anos a títulos nacionais e internacionais numa gestão tida como financeiramente equilibrada. O currículo o levou a ser apontado desde o início do ano pelo PDT como pré-candidato ao governo.

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Em meio à derrocada do clube neste ano, e alvo de insatisfação da torcida, Bolzan chegou a dizer que não deixaria a presidência do Grêmio em 2022. O partido tenta convencê-lo a manter a candidatura:

— Romildo teve esse revés momentâneo, mas creio que consiga reverter isso com a imagem de gestor. Torcida de futebol passa de xingamento para vibração de um minuto a outro — diz o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Bellintani, que também conversava com o PDT, é um dos nomes sondados para o posto de vice-governador na chapa de ACM Neto (DEM) ao Executivo baiano. Neto e Bellintani chegaram a se afastar após o presidente do Bahia ser convidado pelo PT no ano passado, em um bom momento do clube. Em outubro, sinalizaram uma reaproximação pública, semanas antes de o rebaixamento do Bahia ser consumado, quebrando uma série de êxitos recentes. O insucesso travou o movimento político de Bellintani, hoje cobrado a recolocar o clube na Série A antes de concluir a gestão.

Palco para opositores

No caso de Kalil, o período de cinco anos como prefeito de Belo Horizonte abriu caminho para uma mudança de eixo de poder no Atlético-MG , cuja cúpula atual se aproxima do governador Romeu Zema (Novo), adversário em 2022. Zema foi ao estádio do Mineirão no início do mês, na comemoração do título brasileiro, ao lado do deputado federal Marcelo Aro (PP-MG), seu aliado, e que foi convidado ao campo para dar o troféu aos jogadores do Atlético.

Hoje opositor ferrenho de Kalil, e aliado de vereadores que têm pressionado o prefeito de BH com investigações na Câmara Municipal, o deputado é irmão do atual presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Adriano Aro, e colega de partido de Castellar Guimarães Neto, vice-presidente da CBF. Ao longo do ano, Kalil teve atritos públicos com dirigentes do Atlético e com a federação após pressões para que a prefeitura liberasse público em jogos no Mineirão em meio à pandemia da Covid-19. O prefeito comemorou de forma discreta os títulos do Atlético em 2021.

Outros clubes que embalaram boas sequências em 2021 já se convertem em ativo eleitoral. O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, pré-candidato ao governo de Goiás, chegou a ser alvo de ação do Ministério Público por destinar R$ 10 milhões em convênios à Aparecidense, clube da cidade que conseguiu um acesso inédito à Série C do Brasileiro.

Já a eleição ao governo cearense pode reproduzir o “Clássico-Rei”, como é chamada a rivalidade entre Fortaleza e Ceará. O deputado estadual Evandro Leitão (PDT), ex-presidente do Ceará, busca se cacifar como candidato do governador Camilo Santana (PT). Leitão preside atualmente a Assembleia Legislativa do Ceará. De outro lado, o pré-candidato da oposição, Capitão Wagner (PROS), tem como cabo eleitoral o senador Eduardo Girão (Podemos), cuja gestão deu início à ascensão que levou o Fortaleza da Série C à Taça Libertadores neste ano. Embora torcedor do Ceará, Wagner elogiou a “gestão responsável e inovadora” do rival Fortaleza, atribuindo-a ao aliado Girão.

O próprio Girão, à época novato na política, se elegeu ao Senado em 2018 amparado no bom desempenho do Fortaleza, que se sagrou campeão brasileiro da Série B naquele ano.

— Em 2018, na campanha, pouca gente conhecia Girão pelo nome, mas todos sabiam quem era o presidente do Fortaleza que havia tirado o time da Série C — afirma o presidente do Podemos no Ceará, Fernando Torres Laureano.

Mundo da bola já teve goleadas e vexames nas urnas

As aventuras eleitorais de nomes famosos pelo que fizeram dentro dos campos de futebol já tiveram vitórias convincentes nas urnas e derrotas que, em alguns casos, fizeram com que pendurassem as chuteiras na política.

Um dos casos de maior repercussão é o de Romário (PL), ex-jogador de Vasco, Flamengo e Fluminense, entre outros clubes do exterior, que se elegeu senador pelo Rio em 2014, ano de Copa do Mundo no Brasil, e alcançou notoriedade como relator da CPI do Futebol, que apurou irregularidades em contratos da CBF. Após ter tentado em 2018 se eleger governador, sem sucesso, Romário buscará a reeleição ao Senado em palanque com o presidente Jair Bolsonaro em 2022.

O ex-atacante Bebeto, dupla de Romário na Copa de 1994, já acumula três mandatos consecutivos como deputado estadual no Rio. Outros craques contemporâneos, contudo, não tiveram mesma sorte. Marcelinho Carioca, por exemplo, que jogou por Corinthians, Flamengo e Vasco, decidiu abandonar a política após ser derrotado em seis eleições — em 2020, sua última, concorreu a vereador em São Paulo pelo PSL.

Outro ex-jogador de renome na década de 1990, Túlio Maravilha chegou a se eleger vereador em Goiânia em 2008, mas renunciou em 2011, antes do fim do mandato, alegando que priorizaria a tentativa de chegar ao milésimo gol no futebol. Meses antes, ele havia aparecido em telefonemas grampeados da Polícia Federal (PF) tratando uma doação de R$ 30 mil com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.