Política

Revoltado com pedido de cassação, deputado persegue e xinga colega na Câmara

Boca Aberta perseguiu relator de seu caso após sessão do Conselho de Ética
Boca Aberta, deputado do PROS-PR Foto: Reprodução
Boca Aberta, deputado do PROS-PR Foto: Reprodução

BRASÍLIA — Revoltado com parecer que pede a cassação do seu mandato por quebra de decoro, o deputado Boca Aberta (PROS-PR) perdeu a compostura mais uma vez e partiu para cima do relator do seu caso no Conselho de Ética da Câmara, Alexandre Leite (DEM-SP). Nesta quarta-feira, proferindo uma série de xingamentos, o parlamentar perseguiu o colega pelos corredores da Casa. Conhecido por seu temperamento agressivo, Boca Aberta é alvo de representação justamente por tentar agredir e xingar servidores.

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Contido por assessores, o deputado paranaense chamou Leite para a briga. Após sessão do colegiado, chamou o relator de “bandido” e “vagabundo”. Além disso, fez acusações contra seus familiares. A cena foi gravada por um assessor de Alexandre Leite. Procurado pelo GLOBO, o parlamentar do DEM enviou uma nota sobre o episódio.

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“Acuado pelo processo que corre no Conselho de Ética, do qual sou relator, o deputado Boca Aberta desferiu ataques histéricos e mentirosos contra mim e minha família. Essa é a típica reação de quem está sob risco de cassação e não tem outra alternativa a não ser o ataque injusto e calunioso. Não vou me dobrar a essas bravatas e ofensas, seguirei atuando de forma justa e correta no Conselho de Ética, ainda que a decisão final seja pela cassação do deputado”, escreveu Leite.

Assessores e auxiliares tentam conter parlamentar do PROS-RS nos corredores da Câmara dos Deputados. Deputado Alexandre Leite (DEM-SP) é acusado por Boca Aberta pelo crime de 'rachadinha' em São Paulo.
Assessores e auxiliares tentam conter parlamentar do PROS-RS nos corredores da Câmara dos Deputados. Deputado Alexandre Leite (DEM-SP) é acusado por Boca Aberta pelo crime de 'rachadinha' em São Paulo.

Pela segunda vez nesta legislatura, Alexandre Leite apresenta voto no conselho pela cassação do mandato do colega. Na primeira, em 2019, os conselheiros, num acordo, transformaram a punição em suspensão do mandato por seis meses. Boca Aberta, ainda assim, recorreu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e conseguiu que o caso retornasse ao colegiado. Agora, o relator, novamente, defende a perda do mandato do parlamentar paranaense.

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Leite lista quatro razões para defender a cassação do mandato de Boca Aberta: enganar o STF com litigância de má-fé, fraudar o andamento dos trabalhos no conselho, abuso de prerrogativas ao invadir um hospital no interior do Paraná e apresentação de documento fraudado.

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"Há uma afronta aos valores éticos e morais da comunidade, um comportamento contrário ao que percebido como razoável pelo próprio homem médio, um ato capaz de comprometer a percepção da sociedade sobre o Parlamento. O cometimento de ações impróprias por congressistas produz, como efeito colateral, um dano à imagem social desfrutada pelo Legislativo. A instituição prejudica-se em razão dos atos dos respectivos membros", afirma Alexandre Leite no seu voto.

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Durante a sessão desta quarta-feira, Boca Aberta pediu a palavra para tentar desqualificar o relator, fato que gerou a reação do presidente do colegiado.

— Espero que (daqui para frente) vossa excelência utilize o tempo para se defender. O representado aqui é vossa excelência. Se por ventura o senhor tenha a fazer alguma consideração sobre o deputado Alexandre, não é este o palco. Se quiser representar contra o deputado, que represente. Neste momento, o deputado Alexandre goza de toda a confiança do conselho — disse Paulo Azi (DEM-BA), que comanda os trabalhos do conselho.

Nesta quarta-feira, o parecer contra Boca Aberta foi retirado de pauta do conselho. Os parlamentares esperam o desfecho sobre decisão da Justiça Eleitoral.

No fim do mês passado, Boca Aberta teve o diploma de deputado cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte o considerou inelegível por dois motivos: uma condenação criminal por denunciação caluniosa e a cassação do mandato de vereador em Londrina, em 2017.

Com isso, a Mesa Diretora da Câmara deve convocar o suplente de Boca Aberta. Segundo Leite, o processo que trata da decisão do TSE corre na Corregedoria da Câmara.