Política Tragédia em Brumadinho

Sem descanso, equipes de resgate trabalham no limite para encontrar desaparecidos

Identificação dos corpos também desafia técnicos; material genético de familiares será coletado
Firefighters recover the body of a victim of Friday's dam collapse at an iron-ore mine belonging to Brazil's giant mining company Vale near the town of Brumadinho, state of Minas Gerais, southeastern Brazil, on January 28, 2019. - The search for survivors intensified on Monday, on its fourth day, with the support of an Israeli contingent, after communities were devastated by a dam collapse that killed at least 60 people -- with hopes fading for 292 still missing. A barrier at the site burst on Friday, spewing millions of tons of treacherous sludge and engulfing buildings, vehicles and roads. (Photo by Mauro PIMENTEL / AFP) Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
Firefighters recover the body of a victim of Friday's dam collapse at an iron-ore mine belonging to Brazil's giant mining company Vale near the town of Brumadinho, state of Minas Gerais, southeastern Brazil, on January 28, 2019. - The search for survivors intensified on Monday, on its fourth day, with the support of an Israeli contingent, after communities were devastated by a dam collapse that killed at least 60 people -- with hopes fading for 292 still missing. A barrier at the site burst on Friday, spewing millions of tons of treacherous sludge and engulfing buildings, vehicles and roads. (Photo by Mauro PIMENTEL / AFP) Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

RIO - Equipes de resgate têm trabalhado no limite . Quando não estão dependuradas em helicópteros na tentativa de identificar corpos, estão em solo. Precisam caminhar horas sobre o lamaçal que cede e chegam a afundar quase o corpo inteiro. Em alguns lugares só chegam rastejando na lama fétida e já contaminada por corpos de pessoas e animais em decomposição. Em outros é preciso escalar barrancos instáveis seja à noite, seja sob sol quente.

Além das dificuldades para o resgate, a identificação dos corpos também tem sido difícil. Até o fechamento desta edição foram reconhecidas 31 vítimas, todas por meio da datiloscopia (análise da impressão digital). O superintendente de Polícia Técnico-Científica da Polícia Civil de Minas Gerais, médico-legista Thales Bittencourt de Barcelos, explica que essa é a técnica mais rápida:

—É um procedimento rápido, eficaz e seguro.

Após a identificação da impressão digital, os familiares são chamados para confirmação mas, devido à condição dos corpos, não está sendo feito o reconhecimento visual.

Barcelos ainda esclarece que, com o avanço da decomposição do corpo, fica mais difícil identificá-lo pela digital. Por isso, a partir de amanhã, será coletado material genético de familiares e objetos pessoais dos desaparecidos, que permitam a análise de DNA e arcada dentária, como escovas de dentes e radiografias.

Em Belo Horizonte, o ponto de apoio aos familiares foi montado na Academia de Polícia Civil (Acadepol), próxima ao IML. É para lá que os familiares estão se dirigindo para se cadastrar em busca de informações dos desaparecidos. Até agora, foram catalogadas 492 famílias e cinco delas já tiverem material genético recolhido. O número é alarmante porque ultrapassa, em muito, os dados oficiais de 279 desaparecidos. Segundo a Polícia Civil, pode haver duplicidade e esses dados ainda serão compilados.<SW>

Corpos cruzam o céu

Bombeiro tem auxílio de um cão farejador para encontrar corpos em meio à lama Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Bombeiro tem auxílio de um cão farejador para encontrar corpos em meio à lama Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O mar de lama da Vale em Brumadinho começa a devolver suas vítimas. Ontem, três dias após a tragédia, os mortos afloravam sob o sol quente. Do início da manhã ao anoitecer, helicópteros trabalharam sem descanso. E cruzavam o céu com os corpos em redes penduradas.

O sargento bombeiro Leonardo e seu cão, o border collie Thor participavam da busca por corpos presos num ônibus em Córrego do Feijão. Exaustos, ambos deixavam uma missão e já se preparavam para outra.

No domingo as buscas foram suspensas na maior parte do dia, por causa do risco de colapso de outro reservatório da Vale, desta vez de água. Moradores foram acordados por sirenes.

Na busca por vítimas, equipes lideradas por bombeiros usam de sonares a apitos.

A lama tem alta densidade e, por isso, o primeiro passo do protocolo dos bombeiros é procurar pessoas na superfície. É assim que a maioria dos corpos foi achada até agora. O trabalho é feito por helicópteros.

Os socorristas usam cajados para perfurar a lama em busca de corpos, sobreviventes ou veículos que possam estar soterrados. Como a lama está fofa, os pés afundam. Alguns estão usando roupas de mergulho.

Para não afundar e colocar a vida dos próprios socorristas em risco, os bombeiros ficam de bruços no lamaçal e se arrastam, o que aumenta a área de contato e evita o afundamento rápido.

Para auxiliar nas buscas, militares israelenses levaram sonares para Brumadinho. Os socorristas também usam apitos para chamar a atenção de sobreviventes. Ao assoviar, os bombeiros indicam que estão presentes naquele ponto, e pessoas soterradas ainda em consciência podem emitir qualquer outro som para indicar o local exato onde estão.

Outro recurso utilizado é a análise de imagens de satélite para identificar locais em que ficavam fazendas, chácaras, pousadas, estradas ou outros tipos de construção.

A Justiça de Minas Gerais autorizou quebra de sigilo telefônico de pessoas que estavam em Brumadinho. Assim, é possível identificar quais celulares estavam ligados no momento da tragédia na região onde ocorreu o vazamento.

O forte odor na área onde há mortos é outro foco de pesquisa. Os bombeiros contam com um cone, que perfura a lama e permite exalar cheiros até 6 metros de profundidade. Nos casos das margens de rios e matas, 11 cães farejadores estavam sendo usados.

Parentes de vítimas têm se arriscado para encontrar seus mortos, e o Corpo de Bombeiros apela para que esperem pelas buscas oficiais. (*Especial para o GLOBO, com G1)