RIO — Citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro durante depoimento no último dia 2 como uma prova da tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal , o vídeo de uma reunião do presidente com ministros, em 22 de abril, no Palácio do Planalto, é peça-chave para o trabalho do ministro Celso de Mello , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), na relatoria do pedido de abertura de inquérito para investigar as acusações de Moro. O decano do STF deu prazo de 72h na terça-feira desta semana para que o governo apresentasse a gravação . A Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu . O vídeo está no centro das acusações públicas entre Moro e Bolsonaro, que se estendem desde a saída do ex-ministro do governo.
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Abril
Dia 22 : O então ministro da Justiça Sergio Moro participa da reunião do conselho de ministros e de presidentes de bancos públicos com o presidente Jair Bolsonaro. Durante o encontro, segundo Moro, Bolsonaro teria ameaçado demiti-lo caso não concordasse com uma nova substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio. O diretor-geral da PF também perderia o cargo. A reunião foi gravada em vídeo pela própria Presidência da República, o que poderia comprovar as acusações de que Bolsonaro tentou realizar interferências indevidas na PF.
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Dia 23 : Pela manhã, Sergio Moro troca mensagens por meio do aplicativo WhatApp com Bolsonaro sobre mudanças no comando na Polícia Federal. O ex-ministro e o presidente se encontram depois em reunião no Palácio do Planalto no qual Bolsonaro lhe informa que havia decidido demitir o então diretor-geral Maurício Valeixo.
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Dia 24 : Moro anuncia sua saída do cargo de ministro da Justiça, após Bolsonaro exonerar o diretor-geral da PF Maurício Valeixo, nome de confiança do ex-ministro. Durante o anúncio da demissão, o ministro relata a conversa que teve com Bolsonaro um dia antes sobre a demissão do diretor e diz que o presidente deixou claro que gostaria de fazer uma interferência política no órgão. Em pronunciamento após a demissão de Moro, Bolsonaro nega a interferência na PF. À noite, o Jornal Nacional da TV Globo divulga conversas de Moro com Bolsonaro pelo WhatsApp sobre mudanças da PF e troca de mensagens do ex-juiz com a deputada federal Carla Zambelli (PSL). Ela teria tentado convencê-lo a permanecer no cargo e se oferecido para conversar com Bolsonaro para indicá-lo para uma vaga de ministro do STF.
Dia 28 : Bolsonaro promete divulgar vídeo gravado na reunião do dia 22, legendado, como contraponto às acusações de Moro. Posteriormente, Bolsonaro é aconselhado por integrantes do governo a voltar atrás e não divulgar a gravação.
Maio
Dia 2 : Sergio Moro presta depoimento na sede da Polícia Federal do Paraná . O depoimento a delegados e procuradores durou mais de oito horas e faz parte do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente em investigações da PF.
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Dia 4 : O procurador-geral da República, Augusto Aras, pede ao STF que a Corte ouça ministros do governo e delegados da Polícia Federal e tenha acesso ao vídeo da reunião do dia 22 no Palácio do Planalto. O documento foi enviado ao ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF. Augusto Aras pediu os depoimentos de Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil). No mesmo dia, advogados de Moro afirmaram ao STF que abrem mão do sigilo do depoimento prestado pelo ex-ministro à Polícia Federal.
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Dia 5 : Em despacho expedido às 22h30m, o ministro do STF Celso de Mello determina o prazo de 72 horas para a apresentação de uma cópia dos "registros audiovisuais" da reunião do dia 22. Ele ordenou que o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, o secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o assessor-chefe da Assessoria Especial do presidente da República, Célio Faria Júnior, sejam oficiados com urgência.
Dia 6 : A Advocacia-Geral da União (AGU) pede ao ministro do STF Celso de Mello que reveja a decisão de determinar ao governo a entrega do vídeo de uma reunião citada em depoimento pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. No pedido encaminhado ao STF, o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior, argumentou que, na reunião, “foram tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de relações exteriores, entre outros”.
Dia 07
: A AGU solicitou a Celso de Mello
permissão para entregar somente trechos do vídeo
, mas o ministro não respondeu ao pedido.
Dia 08
: Em seu terceiro ofício, a AGU pediu a Celso de Mello que
não permita a divulgação do conteúdo integral do vídeo
. Na manifestação, a AGU pede ao ministro que seja definida previamente a "cadeia de custódia" do vídeo após sua entrega — ou seja, o órgão quer saber por quais setores e servidores públicos o material passará até sua análise, para evitar vazamentos. A AGU também solicita a Celso que recomenda à PF "realizar a segregação dos elementos que sejam pertinentes daqueles que não sejam pertinentes ao Inquérito em epígrafe para o fim de juntada definitiva dos primeiros aos autos".